𝑡𝑖𝑎𝑛𝑎: prólogo

5.5K 236 299
                                    

vamo fazer um teste

O tintilar dos talheres nos pratos logo pela manhã era irritante

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


O tintilar dos talheres nos pratos logo pela manhã era irritante. A julgar pelo falatório do qual eu também não sentia a mínima vontade de participar, aquele era o menor dos problemas para alguém que desejava apenas um instante de silêncio. Remexi os ovos mexidos no meu prato com desinteresse persistente, tentando ignorar que até aquele ato estava consumindo cada resto da minha paz.

Podia sentir o olhar de mamãe em mim, do outro lado da mesa, cauteloso e levemente preocupado. Sorri fraco, deixando meu garfo cair quando por fim desisti do trabalho que seria aquilo.

─── Não vai comer, querida? ─── Evitei a careta. Mamãe não merecia nem um pouco o meu mau humor matinal e, defintivamente, meu pai e meus irmãos também não.

Neguei com a cabeça, franzido o nariz.

─── Não sinto fome. ─── Minha voz não passou de um murmúrio rouco.

Odiando como ela saiu, pigarreei. Daquela, meu pai também nos encarou. Preocupação evidente, como se notasse que algo estava errado. Torci minhas mãos no colo, tentando segurar o tremor que parecia piorar a cada instante à medida em que o nervosismo também aumentava.

─── O que aconteceu amor?

Eu pisquei, vendo o exato momento em que todos na mesa pararam de conversar e focaram suas atenções em mim, esperando por uma resposta. Minha mãe, meu pai, meus quatro irmãos e até mesmo Zezé, nosso gatinho de estimação ao pé da mesa.

Evitei de encolher os ombros, de olhar nos olhos de qualquer um na mesa e, até mesmo, de deixar qualquer uma emoção transparecer na minha expressão facial ou corporal. Evitei porque era isso que eu fazia de melhor desde que aquilo tinha acontecido comigo e todos estavam sempre preocupados demais, prestativos demais e atenciosos demais comigo.

Tudo por conta de um maldito laudo e as chances de ver tudo o que eu sonhava indo água abaixo.

Você já se sentiu esgotada como que pudesse explodir a qualquer momento? Como se aquele sufoco na garganta não pudesse mais ser contido, entretanto, ao mesmo tempo, fosse impossível de ser extravasado, posto para fora? Entre a cruz e a espada, a doce indecisão entre querer falar, mas estar cansada de fazer os outros se ocuparem com os seus problemas?

─── Não, só não tenho fome.

Era o meu limite. Mamãe sabia que eu não falaria nada e papai ainda mais. Ambos balançaram a cabeça e, procurando um jeito de tirar a atenção de quatro garotos em mim, papai interviu.

─── Alguém pode me passar o adoçante?

Eu poderia ter sorriso grata para ele se conseguisse segurar o bolo que estava na minha garganta, mesmo que não fosse necessário. Minha mãe se ajeitou na cadeira, quieta demais, atenciosa demais, preocupada demais para proferir qualquer outra palavra.

𝑸𝒖𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒂 𝒄𝒉𝒖𝒗𝒂 𝒗𝒊𝒆𝒓 • loud thurOnde histórias criam vida. Descubra agora