THUR (LOUD) | Concluída ✔
Tiana sempre amou a chuva. Sempre amou as gotas escorrendo na sua janela, o toque melancólico e poético que ela trazia e a sensação de aconchego em meio ao caos. Ela gostava tanto ao ponto de passar horas encarando o céu, d...
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Eu estudei a tarde durante toda a minha vida. Do início do primeiro até o último do fundamental, contrariando até mesmo o horário de estudo dos meus três irmãos mais velhos que nunca tinham tido se quer uma opção de escolha. O fato era que, ao contrário deles, eu nunca fui uma pessoa mantinal e sempre odiei tudo que envolvesse acordar cedo. Falar, interagir, manter-se acordada... estudar. Tudo era simplesmente frustrante e ter que fazer tais coisas quando, na verdade, tudo o que eu queria fazer era apenas me enrolar na minha coberta quentinha, dentro do meu quarto e dormir, deixava-me pior.
Nunca me considerei uma pessoa azeda, entretanto, aquela era uma das poucas coisas das quais eu realmentenão conseguia fazer.
Por isso que, quando o período de matrículas começaram, minha mãe estranhou o meu pedido de mudança repentina de turno. Até mesmo para ela, fazer-me acordar cedo e ter que aturar meu mau humor matinal estava fora de questão e esse nunca era um assunto discutido em cada.
Lembro-me bem quando aconteceu. Estávamos todos em um clima ameno no jantar. Meus dois irmãos mais velhos falando sobre seus tempos antigos de escola e Raffael (que estava indo para o último) também. Thiago ainda estava no início do fundamental e eu, pela primeira vez, colocaria meus pés no ensino médio de verdade.
Estava remexendo a comida quando pigarreei, segurando o garfo com força para evitar constrangimento. No mesmo instante todos pararam quando notaram que eu falaria.
Eu amava minha família. Amava mesmo, embora não soubesse mais definir qual era a palavra que definia nosso relacionamento. Cuidado? Preocupação? A verdade era que desde que tudo tinha começado, um ano atrás, nada tinha sido mais igual.
Ninguém me olhava mais igual ou se quer falava. Não podia julgar, uma vez que quando eu mudei, praticamente os forcei a mudar junto comigo e era como se todos estivessem sem chão também, a espera de um sinal ou confirmação de que eu estava bem. Mas eu estava?
─── Eu estava pensando... ─── Lembro de dizer. O clima no cômodo transbordando em expectativa. ─── Tem um curso novo de violoncelo que abriu recentemente e... eu gostaria de tentar.
Olhei para os meus pais. Ambos atordoados, olhando para mim enquanto terminavam de mastigar e assimilavam o que tinha acabado de dizer. Eu já não tocava há um período de onze meses, desde quando eu percebi que mesmo fazendo de tudo, os tremores não iam embora. Eles apenas diminuiam. Ainda estava lá quando eu segurava o violino, minha primeira paixão desde quando eu tinha sete anos, e principalmente ao esforço de tocar.
─── Gostaria? ─── Rian sorriu tenso para mim.
─── Sim, eu acho.─── Encolhi os ombros, um pouco incerta sobre e, daquela, foi meu pai quem pigarreou para chamar nossa atenção.
