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São Paulo, capital - 9:15 da manhã!

A garota de olhos verdes estava sentada no sofá da sala enquanto assistia ou fingia assistir algo na televisão, ela queria mesmo era prestar atenção na conversa de seu pai e de sua mãe que estavam a alguns passos da sala, sentados na mesa da cozinha americana do apartamento. Desde cedo eles estavam discutindo um assunto a qual não quiseram dizer a Lauren, mas já tinham deixado claro que ela iria passar um tempo na casa do seu padrinho e madrinha e ela não estava gostando nada disso.

— Já fez suas malas? - sua mãe perguntou assim que chegou próximo a um dos sofás que tinham ali - seu voo é depois do almoço.

— Eu não quero ir - cruzou os braços e continuou fitando a televisão.

— Você não tem querer Lauren - dessa vez foi seu pai.

— Eu já tenho 19 anos - ela disse como se justificasse.

— Sabemos, você acabou de fazer e não para de falar sobre isso - Clara falou e sentou ao seu lado - mas você não conhece ninguém aqui em São Paulo e não tem família também...

— Eu tenho amigos - seu pai respirou fundo, sua filha tinha a cabeça dura, igual a ele, reconhecia.

— Você sabe que amigo é hoje mas não é amanhã - ele falou - eu seria louco se deixasse você aqui sozinha, tenho certeza que esses seus "amigos" - fez aspas com os dedos - vão ser os primeiros a correrem se você precisar de algo, sei que ainda existe amizade verdade, mas nos tempos de hoje, é difícil minha filha...

— Eu não gosto daquele lugar - ela disse se afundando no sofá - é o fim do mundo, não tem o que fazer ali, só tem mato e terra e então mais mato...

— Sua madrinha e seu padrinho sentem sua falta - ela suspirou ao ouvir o que sua mãe falava - já faz mais de dois anos que eles não veem você, e eles não podem ficar vindo direto até São Paulo...

— Eu tenho mesmo que ir? - perguntou com uma pitada de esperança.

— Filha - seu pai se ajoelhou na sua frente e apertou sua mão - sua mãe e eu precisamos fazer essa viagem, precisamos resolver algo importante, vamos ligar todos os dias, lá tem internet - ele falou com as sobrancelhas erguidas querendo fazer piada.

— Isso me surpreende - Lauren falou rindo da piada do pai.

— Você vai ficar lá no máximo uns 8 meses, talvez a gente consiga resolver tudo isso e voltar antes - a garota fechou os olhos quando ouviu o tanto de tempo que teria que ficar - seu padrinho está radiante com a notícia, ele falou que até consegue um emprego pra você, se quiser.

Clara e Micael tinham uma fazenda na cidade de Taquirim, seu compadre Gabriel que cuidava de tudo, ele tinham uma casa no terreno e trabalhava lá juntamente com sua esposa Madalena, recebiam seus salários por parte de Micael e passavam os lucros de tudo da fazendo para o mesmo. Lauren amava seus padrinhos, eles faziam questão de sempre falar com ela, visitar e até mesmo presentear.

Depois de toda uma conversa e a garota ter certeza de que não poderia fazer seus pais voltarem atrás, ela fez suas malas e avisou a seus amigos através do grupo no celular que iria viajar, eles ficaram lamentando e dizendo o quanto iriam sentir sua falta, vejamos quantas semanas vai levar para esquecê-la.

— Vai querer suco ou refrigerante? - Clara perguntou, estava servindo a mesa para o almoço - Micael, falei com nossa vizinha, a Jessica, ela concordou em ficar vindo uma vez na semana aqui no apartamento para limpar enquanto estamos fora.

— Quero suco - viu sua mãe preencher seu copo - lá se vai meu encontro com a Aline...

— Aline? - seu pai ergueu uma das sobrancelhas - a filha da Jessica? - sua filha concordou - se for para ser, quando você voltar ela ainda vai estar no mesmo lugar - ele falou rindo, não falava nada, mas não queria sua filha com a filha da vizinha, Jessica era uma ótima mulher, mas sua filha infelizmente tinha um modo de viver a qual o homem não gostava e nem queria sua filha envolvida - deixe a chave reserva com ela minha querida, peça para nos passar o número de sua conta e acerte o valor.

— Sei que o senhor está gostando disso, afinal nunca foi com a cara dela - Lauren acusou apontando o garfo na direção do pai que fez cara de ofendido.

— Só quero o seu bem - o homem falou enquanto comia uma quantia generosa de salada - sabe que não concordo com a forma que ela vive, mas ai é a vida dela, eu não posso interferir, mas... - olhou na direção da filha - na sua eu posso.

Depois do almoço e de uma salada de frutas como sobremesa, eles pegaram as malas de sua filha e desceram todos até o estacionamento do prédio, faltava mais ou menos uma hora e meia para o voo da garota decolar. Por sorte o trânsito não estava tão ruim assim e a ida até o aeroporto de Guarulhos não demorou tanto. Ela estava levando duas malas grande, uma média e uma mochila em suas costas, com seu headphones no pescoço e um livro em sua mão.

— Assim que chegar lá você nos avise, você vai descer em outra cidade e pegar o ônibus na rodoviária ao lado do aeroporto, não tem erro - sua mãe falava e acariciava seu rosto - você vai descer na praça da cidade e seu padrinho e sua madrinha vão estar lá te esperando...

— Tudo bem - ela falou mexendo com a cabeça - aeroporto, rodoviária, ônibus e praça - ela repetiu e sua mãe assentiu com a cabeça assim como seu pai - parece fácil.

— Tome cuidado - seu pai beijou sua bochecha - você pode ficar na nossa casa, mas lá é grande e você se sentirá sozinha, então seria melhor que ficasse na casa do compadre Gabriel, que é no nosso terreno um pouco mais atrás...

Atenção passageiros do voo 1429 com destino ao nordeste, embarque no portão 7. (N/A: coloquei nordeste por motivos de que não quero colocar um nome de cidade específico para o aeroporto onde ela vai descer, já que a cidade da fic não existe)

— É a sua chamada filha - Clara falou e abraçou sua filha mais uma vez - se cuide e nos ligue sempre que quiser, faremos o mesmo.

Se despediu do seu pai e foi em direção ao embarque, minutos depois já estava dentro do avião e ouvindo o comandante para que logo pudessem decolar. Deixou sua mochila na parte de cima de sua poltrona e se sentou, ligando seus fones e se concentrando em seu livro, não seria uma viagem de muitas horas e sabia que logo mais estaria em Taquirim, teria que pegar um ônibus ainda, era certo, mas logo estaria lá.

"... lembra de ficar um pouco mais quando pensar em ir embora, e querer muitos minutos à toa sem se importar com a demora, do nosso sono matinal quando nos falta assunto, das horas que eu desisto a conversar e tu não fala um só segundo..."

"Nós" de Anavitória tocava em seu headphone e ela mexia um pouco sua cabeça junto com a melodia, uma boa leitura ou uma boa playlist era a melhor companhia para uma viagem, e também algo para se distrair e não perceber o tempo e quando perceber, ele já ter passado. Lauren queria que aqueles meses passassem logo, amava seus padrinhos, mas não se imaginava em um lugar como aquele, não que se lembrasse de la, havia ido apenas quando bem pequena, mas na cabeça dela, São Paulo era o seu lugar.


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Morena TropicanaOnde histórias criam vida. Descubra agora