Dringr- narusasu

Embriagado

Sasuke

Odeio a forma como Itachi tem a capacidade de me analisar por completo. Odeio a maneira como penetra minha alma com seus olhos de chumbo.

Nos últimos dias, tentei negar qualquer coisa que remetesse ao nome de Naruto. Não abri mais nossas conversas, tão como não tive coragem de entrar no Dringr mais uma vez. Eu gosto de certezas e continuar com aquele alfa imprevisível era demais para mim. Às vezes, penso até que ele fez o certo me afastando, porém o meu corpo parece negar isso pelo vazio crescente que sinto.

Termino de ler mais uns dos documentos do meu computador, ainda ignorando as perguntas que meu irmão insiste em fazer. Não dirijo meus olhos para ele, porque, se eu o olhar demais, ou ousar em responder seus questionamentos, é capaz que eu chore. Eu não quero chorar. É humilhante.

Pisco algumas vezes, afastando as lágrimas causadas por motivos inexplicáveis. Não tem porque sentir vontade de chorar. Ele foi só um casinho. Eu sempre fingi tão bem.

Por que Itachi insiste em colocar o dedo na ferida?

— Eu já disse que não aconteceu nada — digo, implacável.

— Tenho certeza que sim — cruza os braços bem acima de sua barriga. Ela está tão notável. — Não tem motivo para você gastar o dobro do tempo no trabalho. Você só faz isso quando está em negação.

— Quando você for formado em psicanálise, volta aqui — falo sem humor, voltando a minha atenção aos documentos.

— Isso não vai te levar a lugar algum.

— Eu não preciso da sua opinião, nem de seus conselhos. Pode se retirar? — aponto para a porta.

— Não vou sair — se senta no sofá luxuoso do canto da sala. — Até você me explicar onde está aquele Sasuke todo felizinho, não vou embora.

— Morreu quando eu tinha nove anos de idade. Agora, dá o fora — minha presença arisca não parece ter sequer um efeito no corpo do meu irmão.

— Do que está falando? — franze o cenho. — Estava falando do "você" felizinho de três semanas atrás. Não de quando você era pequeno. Mas espera. Aconteceu alguma coisa quando você era criança?

Engulo em seco. Arrasto minhas mãos suadas pelo tecido da calça. Reflito por um tempo, enquanto encaro meu colo. Quando acho que já raciocinei o suficiente, fito Itachi com raiva.

— Eu não quero lembrar de todos os problemas da minha vida, já bastam os de agora. Você, sinceramente, não está ajudando — me sinto vacilar. — Vai embora.

— Quantas vezes já conversamos que você não precisa sofrer sozinho? Às vezes, o que a gente mais precisa é de alguém para nos ouvir — rio com ironia da sua fala.

— Você é um ômega. É fácil falar nessas condições.

— Está negligenciando sua saúde mental de novo. Trabalhar como um condenado não vai resolver todos esses problemas que você tanto fala.

— Bem, "finja até se tornar real" — reviro os olhos, enquanto falo com a mesma animação que o meu irmão espera que eu tenha. — Eles não parecem tão grandes se eu mantenho minha mente focada em outras coisas.

Ignoro o novo aproximar dele, apesar de vê-lo por minha visão periférica. Ele empurra minha testa com seus dois dedos e sorri calmamente para mim.

— Sasuke, fingir que seus problemas não existem com qualquer distrações, seja com o trabalho, ou sei lá, seja com drogas, não vai resolver nada. Eles só vão se tornar uma bola maior e maior de conflitos dentro de você, até que você chegue ao seu limite.