Confiar

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Encaro o teto do quarto depois de tentar dormir por horas seguidas e não conseguir nada mais do que cochilos repletos por memória turbulentas.

Eu não consigo esquecer nada. Nem sobre Naruto, nem sobre os Uchiha, nem sobre tudo que já aconteceu comigo.

Algumas partes do meu corpo estão dormentes. Minha cabeça lateja. Quase me levanto para pegar alguns remédios, mas o banheiro está muito distante.

Nos últimos dias, a distância para qualquer canto da minha casa se tornou longa demais. Fico a maior parte do tempo na minha cama pensando em todas as coisas terríveis que fiz.

Já chorei todas as lágrimas que podia. Agora, estou vazio. É um sentimento profundo no meu peito de solidão. Sempre estive assim, mas hoje está pior. Nem assistir aos meus programas favoritos está me deixando feliz.

É o fim para mim. É meu fim como Uchiha e como alfa.

Posso sentir todos os meus órgãos apodrecidos. Não tenho forças para me levantar.

Nada adiantou. Uma vida toda de fingimento. O tanto que eu me esforcei nunca significou absolutamente nada. Itachi continuou sendo mais amado. Minha mãe chorava por mim. Nunca fui aceito.

Quando eu era pequeno, sabia que tinha algo errado comigo. Mesmo sendo um alfa, ou de uma família tão rica quanto a de todas as outras crianças com quem eu deveria passar o tempo, isso não importava, ainda era o esquisito. Nunca consegui entender.

As pessoas não devem valorizar tanto assim os títulos quanto eu penso. Itachi estava certo.

Encolho meu corpo contra a superfície macia e me cubro com duas mantas.

Eu não deveria ter contado. Não deveria ter falado nenhuma daquelas palavras para ninguém.

Ninguém se aproxima de mim porque eu tenho espinhos. Machuco todos sem perceber. Não mereci nem um grão da afeição que Itachi depositou em mim. Talvez Sakura e Naruto estejam certos em quererem me destruir.

Algumas pessoas nascem para serem destruídas. Eu sou uma delas com certeza.

Não consigo enxergar uma maneira de consertar a situação. Foram anos jogados no lixo para fingir ser alguém que eu não era. Não posso me perdoar e ninguém mais pode. Estou sozinho, porque eu pedi por isso. Sou um fardo para todos.

Nem meu celular tive coragem de abrir mais. A este ponto, as notícias já devem ter se espalhado por todos os cantos do país. Seria melhor se eu nunca tivesse trazido essa vergonha para a família.

Eu deveria ter sumido antes.

Agora estou me escondendo como um covarde das câmeras, da vida.

Coisas boas nunca foram reservadas para mim.

Me sento e coloco os pés no chão, apesar das meias, consigo sentir o gelado. A angústia sobe até o topo da minha garganta. Arde. Não vim me alimentando bem. Devo estar resfriado.

Alfas dominantes não ficam doentes facilmente.

Aperto minha testa. Grito silenciosamente.

Nem a bebida está ajudando. Minha cabeça não consegue parar. Eu não quero lembrar.

Estou prestes a misturar cereal com martini para ver se minha mente me dá um tempo de... de tudo.

Com uma força sobrenatural, saio do meu quarto. Mesmo que aquelas enormes bolas de ferro me puxem para trás, continuo andando, até estar na cozinha. Não hesito em conseguir mais uma garrafa do vinho mais concentrado que tenho.

O líquido desce cortando e ajuda a esquentar também.

Me sinto tão aquecido que minhas memórias voltam aos dias muito frios da minha vida, em que minha casa era imensa de tal forma que eu poderia me perder apesar de já ter vivido lá por anos.

Dringr- narusasu Onde histórias criam vida. Descubra agora