A dois

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Estar diante das portas que sempre entrei com tanta facilidade, durante vários anos, é mais difícil do que se pode pensar. Um frio percorre toda a minha barriga.

— Tem certeza que quer fazer isso mesmo? Você não precisa se forçar tanto, Sasuke — meu irmão segura a manga do meu blazer. — Não precisa vir trabalhar agora, se não estiver pronto.

— Não posso continuar em casa me lamentando — ergo meu queixo o suficiente para que Itachi desista de suas ideias devido à minha prepotência. — Preciso voltar ao normal — balanço meu braço, retirando sua mão de mim.

Dou passos severos adentro do edifício. Os olhares chocados em minha direção queimam contra minha pele. Para ser sincero, nem eu acreditaria que iria entrar aqui novamente, se não fossem as horas em profunda agonia nos últimos tempos. É um fato: eu preciso trabalhar para me distrair.

Minha mandíbula se aperta.

Ponho meus braços para trás, enquanto sigo para dentro do elevador. Itachi me acompanha mais como uma sombra do que uma real companhia.

Nego minhas atitudes diversas vezes a mim mesmo. Não é um vício. Não preciso trabalhar para viver. Não estou me afundando em outras compulsões para esquecer meus problemas. É só que estar ocupado vai me fazer pensar de um modo mais lógico e pôr meus pensamentos no lugar. Faz bem.

Aperto o mesmo botão do elevador várias vezes em uma tentativa falha de fazer com que suba mais rápido, em que pese o medo seja crescente em cada célula do meu corpo.

— Eu poderia ter ocupado o seu cargo por mais alguns dias — continua a falar de modo preocupado. — Realmente, acho que você precisa de mais alguns dias de repouso... Ar livre, quem sabe? Mamãe falou que talvez seria bom se você começasse a fazer terapia, ou yoga.

Arregalo meus olhos.

— Não vou deixar você se sobrecarregar com os meus serviços. Você está grávido — encaro o volume de seu abdômen coberto pela roupa por uns instantes. — Acho que podia até fazer um pouco de uso do nepotismo e tirar sua licença à maternidade desde agora — um bico de desagrado se forma em seus lábios com o que eu digo. — Estou falando a verdade... E eu não preciso dessas coisas. Estou bem melhor agora.

— Essas "coisas" são para continuar assim — faz aspas no ar. — Melhorando... Sem contar que de ontem para hoje você mal dormiu. Sabe que não vai superar tão fácil. Dá para parar de ser teimoso?

Quando o elevador para, não perco tempo de deixar o local, antes de escutar mais um de seus falatórios.

— Conversamos isso depois do jantar, em casa — afirmo de uma vez, em uma tentativa de cortar o seu papo. — Tenho mais o que fazer.

De início, ando rapidamente para a minha sala, porém meu caminhar vai diminuindo até cessar por completo, ao notar os cochichos à minha volta. Aquela sensação... Minha boca seca.

Todos sabem. Não há mais o que esconder.

Por que continua a ser tão difícil encarar todas essas pessoas? Eu preciso fazer isso.

Cerro meus punhos e tento respirar profundamente.

— Espero que com minha ausência de poucos dias não tenham se esquecido de como as coisas funcionam aqui dentro — digo em alto e bom som, apesar de esconder minhas mãos trêmulas em meus bolsos. — A não ser que estejam mais dispostos a fofocar do que tomarem conta de seus deveres, porque, então, posso, simplesmente, ajudar com o processo e demitir cada um de vocês de uma vez por todas.

O ambiente fica silencioso. Sorrio de lado. Vitória.

Em parte, a minha inquietação se reduz. Tinha até me esquecido de como essa sensação é boa. Essa... de mandar todos calarem a boca e ser obedecido de imediato.

Dringr- narusasu Onde histórias criam vida. Descubra agora