Capítulo 7

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Christian caminhou devagar em direção ao muro que chora, os pássaros nas árvores cantando alegremente acima de sua cabeça, as folhas farfalhando ao movimento das aves. Ana já estava lá. Ele viu seu corpo se movendo na luz bloqueada das fendas perto da base do muro. Seu coração acelerou e a sensação fez com que ele considerasse se afastar devagar. Mas... ah, e daí? Eles iam apenas conversar um pouco. E ele lhe devia informações, certo? Porque, apesar de todos os seus defeitos – e eram muitos e graves –, ele sempre mantinha sua palavra.

– Oi, Christian.

Ele se sentou, recostando-se no muro e dobrando uma perna para que pudesse apoiar o braço nela.

– Você tem bons ouvidos.

– O barulho da grama sendo pisoteada o entregou.

– Ah. – O calor do verão tinha deixado quase toda a grama ressecada. Nova Orleans bem que
estava precisando de uma chuva. – Como tem passado, Ana?

– Bem. Sinto que enfim estou me adaptando. – Havia felicidade na voz dela, e isso fez Christian  sorrir.

– Fico feliz com isso.

Ele ouviu Ana se mexer.

– Eu também. E, Christian, tenho que agradecer você. – Sua voz demonstrava certa hesitação quando ela prosseguiu. – Ter vindo aqui, ter conversado com você, isso fez com que eu me sentisse... não sei, como se eu tivesse um amigo e, bem, espero que não se importe por eu considerá-lo assim. Como amigo.

Por um momento Christian não respondeu, pois seu coração pulsava contra as costelas. Ele havia se convencido de que ela não era uma amiga, e isso o deixara menos ansioso para conversar com ela. Mas agora... droga!

– Ok – ele se pegou dizendo, e uma careta se seguiu à resposta porque... o que diabos ele estava fazendo?

Ele devia lhe dizer que não era amigo de ninguém e que ela era idiota por considerá-lo assim. Ela não o conhecia. Ele jamais permitiria tal coisa, e, portanto, qualquer "amizade" que tivessem seria limitada e bastante passageira. Mas só isso já era uma forma de confirmar que não tinha problema dar um nome para aquilo que estavam fazendo, não é?

Ele podia ficar tranquilo porque ela deixaria de aparecer quando o clima esfriasse, ou antes disso, assim que sua vida social melhorasse, o que sem dúvida aconteceria conforme ela "se adaptasse" cada vez mais, e então ele voltaria para a segurança de seu casulo atrás do muro e estaria tudo acabado.

– Claro que pode me considerar um amigo. – Um amigo temporário.

Ela soltou o ar de forma audível, como se tivesse prendido a respiração enquanto aguardava a resposta dele, e, quando falou, havia um sorriso em sua voz.

– Ótimo.

Suas roupas roçaram com leveza nas pedras quando ela voltou à sua posição original.

– Perto do meu apartamento, tem um senhor que vende produtos de hortifrúti cultivados em casa. Perguntei a ele sobre John Whitfield, e ele me disse algo interessante. – Então ela continuou e contou a Christian sobre a tuberculose e sobre a recusa de John Whitfield de aceitar tratamento. – Você sabia disso?

– Não sabia. Mas não sei um monte de coisa sobre a família Whitfield. As histórias que ouvi quando criança tinham a ver, em sua maioria, com esta fazenda e as pessoas que viviam aqui.

– Ah. Sabia que John Whitfield foi noivo de Astrid Grey?

Christian franziu o cenho.

– Eu tinha ouvido rumores, mas, quando John voltou da guerra, eles com certeza não se
casaram. Astrid se casou com Herbert Davies.

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