Capítulo 6

644 102 5
                                    





Agosto de 1860

Com nervosismo, Angelina deslizou a mão pela estrutura de madeira da cama ao se dirigir até a janela. Uma brisa leve soprava do rio Mississippi, e o salgueiro lá fora envergava seu tronco jovem e fino. Uma lufada de ar fresco se infiltrou no calor e Angelina suspirou e inclinou a cabeça para trás, deixando por um instante que a brisa refrescasse sua pele corada.

Ela ouviu o piso ranger atrás de si, e um misto de euforia e terror correu por suas veias, deixando seu coração aos pulos.

Ela se virou, agarrando o parapeito da janela às suas costas enquanto ele entrava com o rosto ruborizado e gotas de suor brilhando na testa.

Ele levantou o braço e usou a manga de sua camisa para enxugar a perspiração, com um sorriso radiante no rosto.

– Havia tomates suficientes para alimentar um batalhão. – Ele deixou a cesta no banquinho junto à porta e Angelina acompanhou o movimento com os olhos, absorvendo a gama colorida de legumes da horta, ainda com torrões de terra de onde tinham sido colhidos.

Angelina voltou o olhar para a cara de satisfação pessoal dele, incapaz de segurar uma risada.

– Alguém vai apanhá-lo arrancando legumes da horta dos Grey e então o que você dirá?

– Você disse que ninguém mais cuida da horta, só você.

Angelina virou a cabeça e olhou para baixo, e depois para os olhos dele, com um sorriso ainda nos lábios.

– Bem, nunca se sabe quem pode aparecer e ver que não estou lá. Não sei se vale a pena correr esse risco.

John a vinha visitando em semanas alternadas fazia dois meses, com a desculpa de estar na fazenda com o único propósito de tomar chá com a senhora Grey e Astrid. Vinte minutos depois de John se despedir das mulheres e de Angelina recolher o jogo de chá, ela dizia à mãe ou à ajudante de cozinha que ia colher legumes na horta, mas, em vez disso, ela se encontrava com John na cabana vazia que ficava perto do jovem salgueiro.

Para encobrir a mentira da colheita de legumes, o próprio John enchia uma cesta para Angelina levar quanto voltasse à cozinha, garantindo, assim, que pudessem passar o maior tempo possível juntos.

E então eles se encontravam ali, onde conversavam e conversavam até que Angelina tivesse que voltar correndo para a casa antes que alguém fosse procurá-la ou desconfiasse de algo.

E depois, mais tarde, deitada na pequena cama que dividia com a mãe na cabana, ela relembrava as palavras que os dois tinham trocado, as histórias que ele havia lhe contado sobre o exército, sua família, sua vida, tão diferente da dela. Ela fechava os olhos e imaginava o movimento das bochechas dele ao sorrir, a covinha que se formava e lhe dava frio na barriga. Lembrava-se de como às vezes John tocava os dedos dela – tão hesitante – enquanto conversavam, e era como se ela ainda pudesse sentir o toque dele arrepiando sua pele.

John a tocava como se ela fosse preciosa, talvez frágil a ponto de quebrar. E depois que começava, havia sempre alguma parte dele – a mão, um dedo, o interior da coxa – tocando a pele dela até a hora em que se separavam.

John chegou mais perto, e Angelina pôde sentir o cheiro marcante de suor masculino – a
transpiração resultante do esforço que ele fizera por ela, e, aparentemente de bom grado, a julgar por sua expressão. Aquilo fazia o sangue em suas veias correr de um jeito estranho... mais rápido ou mais devagar, ela não sabia ao certo. Só o que sabia era que aquilo a assustava e a empolgava ao mesmo tempo.

– Para mim, vale a pena. Espero que para você também – ele disse, e ela poderia jurar ter notado nervosismo em suas palavras, como se ele tivesse medo que Angelina respondesse que para ela não valia a pena. A ideia lhe deixava meio mole, como se os seus músculos derretessem um pouco. Ele apreciava tanto quanto ela o tempo que passavam juntos. Ele queria mais tempo, mais dela.

Meu apanhador de Desejos Onde histórias criam vida. Descubra agora