Capítulo 33

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_ Ana, querida o que houve?

Ana parou e se virou na direção do portão da senhora Guillot. Ela não tinha visto a mulher porque estivera curvada, arrumando vários vasos de crisântemo perto da porta de entrada.

– Ah, senhora Guillot, desculpe. Eu estava perdida nos meus pensamentos.

– Deu para ver. Não parecem ser pensamentos muito agradáveis.

– Não, senhora Guillot. Receio que não sejam.

A testa enrugada da senhora Guillot franziu ainda mais.

– As coisas não vão bem com o seu cavalheiro mascarado?

Apesar de tudo, Ana sorriu. Cavalheiro mascarado. Mas então seu sorriso morreu quando ela se lembrou de tê-lo exposto sem querer, e das últimas palavras que ele lhe gritara antes que ela corresse para fora da propriedade dele, atravessasse o portão e fosse parar na rua em frente.

Ela tinha lhe mandado uma outra longa mensagem de texto pedindo desculpas, expressando seu grande arrependimento por ter direcionado a lanterna para ele sem o seu consentimento. Mas ele não escrevera de volta, e o silêncio que ecoava nos ouvidos dela, a forma como ele a ignorava, ficava cada dia maior. Ela estava achando mais difícil respirar a cada dia.

– Cometi um erro, senhora Guillot – Ana hesitou, querendo contar para a senhora, sua amiga, a verdade sobre quem era Christian de fato, sobre as cicatrizes dele e sobre os motivos que o faziam usar a máscara, mas não podia fazer isso.

Ela não queria expô-lo ainda mais do que já o fizera, sem a sua permissão, mesmo que não tenha sido grande coisa.

– Eu... eu o magoei. De verdade, acho. E ele já estava magoado. – Uma lágrima escapou de seu olho e desceu por sua bochecha antes que ela conseguisse pará-la. – Foi sem querer, mas ele não pode me perdoar.

– Bobagem.

– Quê?

A senhora Guillot riu.

– Ele pode perdoá-la. Você é uma garota gentil que cometeu um erro, do qual se arrepende.
Seu coração está tão partido quanto o dele. Ele pode perdoá-la – ela repetiu. – Você só precisa convencê-lo.

Ana fungou e deu uma risadinha.

– Essa é a parte difícil. Ele era advogado. Dos bons. Ele é quem sabe convencer. Não eu.

– Melhor ainda. Ele responderá a um bom argumento. Mas, querida, você não precisa ter as melhores habilidades de convencimento do mundo para fazê-lo enxergar com clareza. Para fazê- lo enxergar a verdade. Só precisa colocar em suas palavras o amor que vejo em seus olhos. Fazer com que ele a ouça. E se mesmo assim ele a afastar, você pelo menos saberá que fez o que podia, que colocou seu coração nisso. E é assim que você encontrará a sua paz. Ele terá que encontrar a própria paz sozinho, do jeito dele.

Ana se endireitou, sentindo a esperança renovada pela paixão que havia nas palavras da
senhora Guillot. Ela tinha razão. E lhe fizera lembrar que Ana não era do tipo que desiste
– de nada.

Tome cuidado com o homem de duas caras, a vidente lhe dissera. Ele a machucará se você deixar.

Sim. Sim. É claro que ele faria isso. Porque pessoas feridas tendem a ferir outras pessoas, não é?

O pai de Ana havia repetido parte do que a vidente lhe dissera. Mas havia acrescentado um então não deixe, porque acreditava demais nela. Ele sempre, sempre acreditara nela, e por causa daquela crença – daquele amor paterno abundante e profundo – Ana havia batalhado para realizar seus sonhos, independentemente dos obstáculos.

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