Capítulo 37

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–Maldito trânsito – Gail desabafou preocupada, olhando de soslaio para Christian através de seus óculos com lentes de fundo de garrafa, os quais felizmente parou para colocar antes de assumir a direção do carro.

Christian tinha passado os primeiros quinze minutos do trajeto tentando controlar sua respiração. Ele enxugou as palmas úmidas de suas mãos nas calças, forçando-se a respirar fundo. Os acontecimentos do dia pareciam um sonho, ou algo que acontece na ficção, não com ele. Mas tinham acontecido. Tinham mesmo.

Fora do carro, um desfile passava pela rua transversal. Eles estavam a apenas dez minutos do teatro, mas ele já estava atrasado. A apresentação provavelmente já estava na metade.

As ruas tinham sido todas bloqueadas por causa do desfile e, despreparados, eles ficaram presos ali no meio.

– Dia dos Mortos – Gail murmurou.

– Quê?

– O desfile. Estão celebrando o Dia dos Mortos.

– Ah. – Christian observou por um instante, a ansiedade pulsando em suas veias. Dia dos Mortos.É claro que era.

E numa fração de segundo ele tomou uma decisão e puxou a máscara do bolso.

– Estou indo – ele disse. – Acho que chego mais rápido se for andando.

Gail olhou de relance para a máscara.

– Não, Christian– ela disse com muita tristeza na voz. – Essa coisa de novo, não.

– Não se preocupe, Gail. Está tudo bem. – Agarrando a maçaneta, ele abriu a porta.
Começava a sair quando se virou para Gail, se inclinou na direção dela e lhe deu um abraço apertado antes de se afastar. – Obrigado – agradeceu com a voz rouca de gratidão. – Pela carona. Por me amar. Por nunca ter me abandonado. Por milhares de pequenas coisas. Obrigado.

Gail assentiu, lágrimas fazendo seus olhos arderem.

– Você é o meu garoto – ela disse.

Christian sorriu, vestindo a máscara e saindo do carro. Ele correu na direção da rua em que ficava o teatro, misturando-se ao desfile.

Tentou ficar na calçada, mas foi engolido pela multidão e, antes que percebesse, estava sendo
empurrado, jogado de um lado para o outro, movendo-se como se todas aquelas pessoas fizessem parte de uma única criatura simbiótica gigantesca.

O céu já estava escuro, e as estrelas se escondiam atrás das nuvens, luzes e espirais brilhantes girando no ar.

– Por aqui, Christian. Segure minha mão.

Ele soltou uma exclamação de surpresa e virou a cabeça para os lados, tentando enxergar Elliot, pois a voz que ouvira era a dele.

Sentiu sua mão sendo puxada e arrastada para a frente, abrindo espaço na multidão, tentando ver o que estava à sua frente, mas havia corpos demais, movimentos demais.

– Anda logo, seu lerdo. Ela está esperando por você.

– Elliot. Vá mais devagar. Quero ver você.

Christian ouviu a risada do irmão, sentiu sua mão sendo puxada novamente enquanto Elliot corria mais rápido, ziguezagueando pelos espaços na multidão que ele nem tinha percebido que existiam até se ver passando por eles. Era muita gente.

Buzinas soavam em seus ouvidos, risos e sons de comemoração surgiam e morriam enquanto ele passava zunindo. Uma música tocava em algum lugar próximo e os rostos se moviam rápido, entrando e saindo de seu campo de visão. Algumas pessoas tinham caveiras desenhadas no rosto, algumas sombrias, outras apenas em preto e branco, e outras ainda em cores vívidas, enfeitadas com flores e arabescos em magenta, azul, amarelo e vermelho.

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