Capítulo 34

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O bar/restaurante era bem iluminado e estava lotado, o som das conversas ruidosas mal chegando aos ouvidos de Christian, encostado no edifício do outro lado da rua.

Ele observava a cena com sofreguidão enquanto ela ria de algo dito pelo bailarino que fora seu par no baile de máscaras. Christian não conseguia ouvir o que eles diziam, mas a doce lembrança daquele dia vivia em sua alma, havia se enroscado nela e o fazia sofrer. Fazia com que ele se lamentasse. Fazia com que o ciúme abrisse caminho à força e descesse por sua espinha.

Por que aquele cara a estava tocando? Será que achava que só porque era seu parceiro de dança podia tocá-la quando quisesse? Como se tivesse algum direito sobre o corpo dela?

Ele cerrou os punhos. Aquele maldito idiota não sabia que ela pertencia a Christian?

Só que não era verdade. Ele relaxou as mãos. Ela não pertencia a Christian porque ele a havia afastado. Ele lhe dissera que fosse embora, ele a obrigara a ficar longe. E, como se não fosse o bastante, ele tentara acabar com sua crença na magia, o que lhe rendia tanta alegria. Mas ela não permitira que ele o fizesse, e aquilo não era a cara de Ana? Se agarrar a algo que não se baseava na realidade? Somos pura magia. Nós.

Christian estava acostumado com a dor, ou pelo menos era isso que achava, mas o que sentia agora era de um nível que ele jamais imaginou que pudesse existir. Fechou os olhos enquanto um gemido rouco subia por sua garganta.

Por que fazia isso consigo mesmo? Para provar que tinha razão, que jamais poderia lhe dar a vida que ela merecia? A vida que ela estava vivendo bem ali, sob as luzes brilhantes do restaurante, com um grupo de amigos, em um lugar público.

Parecia que ela estava mais sociável ultimamente. Como deveria ser. Como uma mulher jovem, bela e vibrante como Ana deveria ser.

Ana se afastou do grupo, espiando pela grande vidraça e, por um segundo, ele jurou que seus olhares tinham se cruzado. Ela o tinha visto, ele sentiu, ou, mesmo que não tivesse, ela sabia que ele estava ali. Mas não viria atrás dele. Sabia disso tão bem quanto sabia o próprio nome. Ela já tinha feito isso duas vezes – duas vezes mais do que ele merecia –, então já bastava.

Ana olhou para o outro lado, sorrindo para algo que uma garota dissera ao se aproximar dela, ficando de costas para Christian.

Ana havia lutado por ele, de verdade. Ele reconhecia, e isso fazia o seu coração pulsar cheio de amor por ela, e suas entranhas se revirarem em uma demonstração de enorme desejo.

Ela achava que sabia como seria, mas estava errada. Todos os olhares voltados para ele, cochichando palavras cruéis, ávidas por tirar fotos, fazer insinuações, publicar as primeiras imagens do que Christian Grey havia se tornado. Ele sabia. Ele não a colocaria em tal situação. Bastaria que você continuasse olhando para mim, ela dissera, mas os outros não deixariam. Sim, ele sabia. Ele se lembrava bem.

Ainda estava tentando lidar com o fato de ter sido usado, manipulado, enganado. Saber disso
era como ter um punhal cravado dolorosamente em seu coração. Ele imaginara... bem, ele imaginara que havia uma possibilidade de voltar a ter uma vida normal. Ana o ajudara a acreditar nisso. Mas, droga, talvez ele não quisesse fazer parte de um mundo que funcionava daquele jeito.

Ainda que fosse ali que Ana estivesse?
Bastaria que você continuasse olhando para mim.

Ele podia ter pedido a ela que continuasse indo vê-lo em Windisle. Ele não teria mais que usar
a máscara, agora que ela já o tinha visto e aceitado como ele era. Talvez pudesse ir visitá-la às vezes na escuridão da noite. Mas que tipo de vida seria aquela? E que tipo de cretino ele seria se pedisse tal coisa e ela aceitasse?

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