Capítulo 36

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Ele tinha feito aquilo. Tinha colocado o plano em ação. Quero minha vida de volta. Agora era esperar para ver. Agora estava nas mãos de Savannah Hammond. Mas havia paz em seu interior, a mesma que sentiu quando foi embora daquele beco.

Você tem mais amigos do que imagina, Augustus dissera, e Christian decidira acreditar nele, trazendo à memória não apenas aqueles que o haviam ferido e traído, mas também os que lhe haviam feito pequenas demonstrações de gentileza, de compreensão.

Ele sempre fizera o que Ana o acusara de fazer – dar importância demais ao julgamento daqueles que não significavam nada para ele, e de menos ao daqueles que se importavam com ele.

Ana.

Ele devia tanto a ela. Talvez até mesmo a sua vida. Ela já havia conquistado o seu coração.

Vá realizar o desejo da sua mulher, Ruben lhe dissera. Ou, melhor ainda, realize o seu próprio desejo. A única coisa que Christian desejava era ela. Ana. E, é verdade, ele desejava encontrar a coragem, a paz, que Ruben obviamente encontrara para sair e encarar o mundo com orgulho de suas cicatrizes pelo que elas representavam. Arrependimentos, sim; vergonha, sem dúvida. Mas talvez, talvez, também o fato de que ele havia vencido e se esforçado para agir melhor, para ser melhor. Mas a única pessoa que poderia realizar aquele desejo era o próprio Christian.

Ana estava certa. Ele precisava descobrir o seu valor, acreditar que ainda era importante. Eddy também tinha razão, porque ele havia mesmo desistido da própria vida.

Christian passara os dois últimos dias relembrando o que Ana lhe dissera quando aparecera para confrontá-lo, revirando as palavras em sua mente, deixando que elas assentassem.

Dance com todo o seu coração, ele dissera a Ana uma vez. Pelo seu pai. É isso que ele iria querer.

Mas ele havia sido hipócrita porque, em vez de tentar levar uma vida que deixaria seu irmão orgulhoso, ele se escondera atrás de um maldito muro. Seu irmão não confiara nele porque percebera que Christian era uma réplica do pai e, droga, não tinha sido exatamente isso que ele tentara ser? E, certo, para dizer a verdade, Christian tampouco confiara no irmão. Os dois estiveram sempre tão ocupados tentando não ser como o pai, e tentando ser como o pai, que jamais conseguiram entender quem eram como indivíduos. A tristeza disso, o real arrependimento, o tempo perdido, tudo isso era como um punhal no coração de Christian. Mas talvez não fosse tarde demais.

Ele não era perfeito, e acho que durante todos esses anos você vem fingindo que ele era. Você o colocou em um pedestal e criou uma espécie de imagem santa dele em sua mente. Ele não era um santo. Era apenas um homem. Apenas o seu irmão. Mas acredito do fundo do coração que ele o amava, e que iria querer o melhor para você agora.

De algum modo, as afirmações de Ana o tinham aproximado do irmão. Ele parecia mais real no coração de Christian, não aquela imagem unidimensional que ele fizera de Elliot por tanto tempo devido à própria culpa.

Nos últimos dias, ele vinha se lembrando do Elliot real, das palavras dele, do seu humor, de sua curiosidade inata, de sua risada. E, sim, de suas imperfeições também. Ah, como ele sentia falta do irmão!

– Ok, babaca, já perdemos muito tempo. Me ajude agora, tá? – Christian murmurou para si mesmo, querendo crer naquela magia em que Ana acreditava com tanto fervor que a fizera lutar por ele quando ele mesmo não quisera lutar por si.

Magia.
Desejos.
Vá realizar o desejo da sua mulher.

Ana queria que ele saísse de trás do muro, não apenas por ela, mas por ele mesmo. E o fato era que Ana era uma mulher que raramente desejava coisas para si mesma. Era uma mulher que desejava coisas para os outros.

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