Capítulo 12

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Faça isso. Faça isso.

Christian encarou o trinco do portão, mas não se mexeu.

Ou... não.

Olhou para trás. O carro de Gail não estava muito longe, mas ele não ia perguntar se podia
usá-lo. Primeiro porque não queria envolvê-la naquilo; segundo porque sua habilitação estava vencida fazia anos. Mas a verdade era que Christian ainda não havia decidido se iria se encontrar com Ana. Ele ainda não sabia bem por que concordara com aquilo, para início de conversa.

Ou talvez eu saiba. Sim, admitiu para si mesmo com um suspiro de resignação. Sim, eu sei.Era porque se deixara levar pela esperança dela – pela alegria dela – e se sentira maravilhado por Ana tê-lo perdoado mesmo depois de ouvir sua história, depois de conhecer cada detalhe sinistro. A garota tinha lhe oferecido sua compaixão – sua compreensão –, e o assombro daquilo o deixara zonzo.

Venha me encontrar, ela havia dito, a voz tão cheia de espantosa esperança e alegria quando o muro começara a "chorar". O maravilhamento dela tinha sido contagioso. Por alguns instantes, Christian se sentira parte daquilo. Parte do espírito vibrante de Ana. Porque aquilo era tudo que ele de fato conhecia a respeito dela. Não sabia como se parecia, só que seu cabelo era dourado – isso ele tinha conseguido ver através de uma pequena rachadura do muro – e que ela devia ter um corpo magro e atlético de bailarina. Fora isso, só sabia que Ana era compassiva, sensível e muito fiel. Pensando bem, aquilo era o máximo que Christian sabia sobre qualquer garota, mesmo com relação àquelas com quem havia se relacionado de maneira mais íntima num sentido físico.

Seus pensamentos o fizera se lembrar de quando Ana o beijara. E, sim, ele sabia que não tinha sido um beijo de verdade, e sabia que eram só amigos, mas aquele havia sido um dos momentos mais bonitos de sua vida. Tinha feito com que ele se sentisse um homem de carne e osso mais uma vez, quando fazia tanto tempo que ele não passava de um monstro invisível.

Christian colocou a mão no trinco e soltou o ar, levantando a gola do casaco e puxando o gorro para baixo, de modo a esconder seu rosto o máximo possível.

A lua se escondeu atrás de uma nuvem, fazendo com que as sombras da noite ficassem maiores. Ana o esperava. Ele podia fazer aquilo.

Com um movimento rápido, abriu o trinco, passou para o outro lado do portão e deixou que se fechasse às suas costas.

Seu coração estava acelerado, as mãos começaram a suar enquanto tentava recuperar o fôlego. Fazia oito longos e infelizes anos que não saía de Windisle.

Christian ficou parado à sombra do portão por um instante, criando coragem antes de dar mais um passo, e então enfiou as mãos nos bolsos do casaco preto de tecido leve e começou a descer a rua vazia.

Caminhava entre os fachos de luz, de cabeça baixa, como se andasse contra o vento, embora não houvesse nem brisa naquela noite. Seu coração continuava batendo forte conforme se afastava cada vez mais de Windisle, e várias vezes quase se virou e disparou de volta para a
fazenda, como fazem as crianças que sobem os degraus correndo quando têm certeza de que um demônio as persegue. Mas Christian era o único monstro na rua naquela noite, e de repente ele entendeu que era muito melhor ser perseguido por demônios do que ser o próprio demônio. Se ele soubesse disso antes...

Chegou ao parque quinze minutos depois e se apoiou numa árvore, com uma risada de choque subindo-lhe a garganta, meio que de surpresa, meio que de pavor. Tinha conseguido. Havia saído de Windisle e feito todo o trajeto até o parque onde Ana o esperava. Sim, eram só alguns quarteirões de casa até ali, mas, para Christian, era como se tivesse percorrido mil quilômetros. O medo ainda enchia seu peito, mas sob ele havia o triunfo borbulhante. Fazia tanto tempo que não sentia aquilo. Não pensei que pudesse me sentir assim novamente.

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