Capítulo 8

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A Biblioteca Central abria às nove da manhã às terças-feiras, e Ana pegou um ônibus para lá, e, assim que chegou ao edifício, perguntou no guichê de informações sobre como acessar os terminais de consulta. Seus passos eram lentos, sua mente preocupada enquanto ela seguia para onde a mulher do guichê a mandara ir. Algo no que ela estava prestes a fazer ali – pesquisar sobre Christian– parecia... errado. Invasivo. Mesmo assim, ele lhe dissera para fazê-lo. Meu nome é Christian Grey. Pode procurar. Grey.

Ela não sabia bem por quê, mas não tinha imaginado que ele fazia parte da família Grey. Pensara que ele era do pessoal que cuidava do lugar, junto a Gail e Taylor, ou talvez um parente distante.

Talvez tenha sido por causa de como ele soara ao falar brevemente sobre os Grey, com um certo... distanciamento, combinado com um tom de desdém. Um patrão que ele não respeitava, ela presumira.

Era óbvio que ela lhe tinha feito perguntas, mas ele sempre mudara de assunto ou desviara a conversa de volta para Windisle. E ela deixara que ele fizesse isso, imaginando que ele se abriria se e quando estivesse pronto. Ela não quisera forçá-lo porque havia percebido tanta tristeza nele. Tanta... solidão.

E agora ela sabia que tinha razão. Ele era um recluso. Ele nunca ia além do muro que chora, nem às escondidas. Por quê?

Ana se lembrou de quando ele falara sobre John Whitfield, com tanta compreensão em sua voz ao mencionar o trauma de guerra. Ela se perguntava se Christian também tinha sido soldado.

Ela colocou a bolsa de lona no chão, perto da cadeira, e ligou o computador. Gostaria de ter um laptop, mas estava economizando para comprar um carro e queria guardar cada centavo para isso. Além do mais, ela imaginava que a grande biblioteca central lhe daria um acesso maior a uma série de novos artigos arquivados.

Ela havia evitado jogar o nome dele no Google. Se ia pesquisar sobre Christian– e até aquele dia ainda não havia decidido se o faria –, gostaria de obter todas as informações que estivessem à sua disposição. Oito anos, ele dissera. Ele não cruzava aqueles muros havia oito anos. Ou seja, aquilo que ele a havia encorajado a pesquisar deveria ter acontecido muitos anos atrás.

E não volte mais, ele ordenara. As últimas palavras dele ecoavam em sua mente havia dois dias, e a decepção e a confusão só cresciam. A dor no peito. Porque o fato era que ela havia passado cada semana do último mês e meio ansiosa por aqueles breves momentos da noite de domingo em que se sentaria do lado de fora do muro e conversaria, aprenderia e – ela havia imaginado – cultivaria uma amizade diferente de todas que ela já havia tido até então.

Em toda a sua vida, ela nunca havia tido muito tempo para cultivar amizades fora de sua agenda de ensaios rigorosos e de constantes apresentações, nunca tivera tempo para festas ou compras, ou para as coisas que as outras garotas faziam juntas. Até os poucos namorados que havia tido acabaram se ressentindo porque ela não tinha muito tempo para eles. Talvez não tenha feito deles a sua prioridade. Talvez nunca tenha colocado seu coração em nenhum relacionamento.

Talvez fosse por tudo isso que a ligação que sentia com Christian significasse tanto para ela.Ana gostava de passar o tempo com ele, gostava de dividir com ele coisas que nunca havia dividido com ninguém. E também gostava de ouvi-lo falar, gostava de como ele descrevia seu mundo. De como ele acrescentava pedacinhos do que ela sabia que era algo só dele, apenas a visão dele sobre determinado assunto, como o jeito que ele comparava Gail com uma sebe: redonda e espinhenta às vezes, mas sem dúvida a pessoa mais fiel e adorável que conhecia.

E, embora ele deliberadamente não tivesse compartilhado com ela muita informação pessoal, Ana sabia que aqueles eram pedacinhos dele entregues de modo involuntário, e ela os agarrava e guardava como se fossem presentes preciosos, da mesma forma como guardava cada pequeno comentário que a senhora Guillot fazia sobre o seu falecido marido ao contar uma história.

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