Capítulo 19

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Vapor saía da tampa de um bueiro próximo quando Ana desceu da calçada, olhando para os dois lados antes de atravessar a rua estreita e deserta.

Era evidente que aquela não era a mais segura das vizinhanças, mas Ana estava determinada a chegar ao endereço que havia conseguido na internet, o endereço de uma loja que pertencia a Fabienne Simoneaux, que anunciava a si mesma como uma sacerdotisa vodu que oferecia cura e conforto espiritual. Uma frase em fontes pequenas no fim do anúncio tinha dado a Ana esperança de fato: "Descendente de uma longa linhagem de sacerdotisas vodu".

Ana havia ligado para o número do anúncio – várias vezes –, mas só entrava um aviso dizendo que a caixa de mensagens daquele número estava cheia.

Então ela se dirigira ao endereço, torcendo para ter mais sorte. Não sabia se Fabienne Simoneaux era um parente distante de Sibille mas, aparentemente, só havia um jeito de descobrir.

Ana olhou por cima do ombro, jurando ter ouvido passos, mas a rua atrás dela estava deserta, sem vivalma.

Apesar de o céu ainda estar claro, sem sombras que causassem receio, um arrepio estranho em sua nuca fez Ana estremecer, e ela desdobrou o anúncio impresso, verificando de novo o número da loja. Devia ficar logo em frente, no quarteirão seguinte. Rumou depressa para lá.

Christian a avisara para não fazer aquilo e, para ser sincera, ela sabia que devia ter cuidado.

Coisas ruins acontecem o tempo todo a mulheres que andam sozinhas por áreas duvidosas. Mas a maldita sensação de que seu tempo estava acabando ficava mais forte, mais insistente, e ela não podia ficar parada se houvesse informação em algum lugar esperando por ela. Simplesmente não era de sua natureza hesitar.

Ana segurava firme o endereço em uma mão e mantinha a outra no bolso, seus dedos em volta do spray de pimenta.

Ela passou por vários estabelecimentos comerciais fechados com tábuas, uma Laundromat, uma loja de molduras e uma que já tinha sido uma delicatessen. Será que aquela era uma das áreas que ainda se recuperava do Furacão Katrina?

O senhor Baptiste lhe dissera que algumas partes de Nova Orleans ainda lutavam para se reerguer, embora o desastre tivesse acontecido mais de uma década atrás. Que terrível.

Será que alguma loja ainda estava aberta? Um desânimo se abateu sobre Ana pouco antes de ela visualizar aquela que procurava, com uma placa descascada, mas ainda lá. Sentiu-se mais aliviada quando viu luz saindo por debaixo da porta, embora os vidros estivessem pintados com tinta preta.

Ana tentou entrar sem sucesso, então bateu à porta e enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta enquanto esperava. Ouviu passos do lado de dentro e então a porta foi aberta, revelando uma mulher de cabelos negros, longos e cacheados e com um dos rostos mais bonitos que já tinha visto. Ela usava calça de cintura baixa e blusa cropped que deixava à mostra quase toda a sua barriga lisa cor de café moca.

– Pois não?

– Oi. Você é a Fabienne?

A mulher a examinou.

– Quem quer saber?

Ana estendeu a mão e Fabienne a apertou desconfiada.

– Oi, meu nome é Ana, e esperava que a loja estivesse aberta para que eu pudesse fazer
algumas perguntas.

– Sobre o quê?

Ana ouviu vozes na rua e olhou para trás.

– Posso entrar?

Fabienne olhou por cima do ombro de Ana, apertando os lábios antes de voltar o olhar para
Ana novamente. Ela suspirou.

– Leituras espirituais custam cento e cinquenta.

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