Capítulo 17

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Tudo parecia mais claro para Christian no dia seguinte, como se um véu diáfano de neblina que sempre cobrira o mundo e cuja existência ele desconhecia, de repente, tivesse sido erguido.

Ele sabia o motivo. Era porque havia adormecido com a voz de Ana em sua mente e, apesar das reviravoltas e transformações dos seus sonhos, ela fizera parte deles.

Christian saiu para sua corrida matinal e depois ficou caminhando a esmo pela propriedade, alongando os braços e respirando o ar fresco enquanto seu coração desacelerava e o suor secava em sua pele.

Quando se virava para voltar para casa, jurou ter ouvido um choro baixo. Parou, apurando o ouvido. Sim, sob a animada cantoria matinal dos pássaros, havia o som de alguém chorando.

Ele avançou hesitante na direção do muro, tomando o cuidado de não pisar em nada que pudesse fazer barulho e revelar a sua presença.

Inclinou-se para a frente, posicionando o olho bom perto de uma das maiores fendas. Não dava para enxergar muita coisa através daquele pequeno espaço, mas ele pôde ver que era uma mulher. Ela estava de pé, de costas para o muro, perto o bastante para que ele notasse que era jovem e tinha cabelos escuros. Por um instante, ela continuou lá parada, chorando baixinho.

Christian se afastou, incomodado por estar invadindo aquele momento íntimo em que a mulher obviamente acreditava estar sozinha. Mas ele parou no meio do movimento quando ela começou a falar.

– Sei que já estive aqui antes e que já fiz um pedido, mas acho que não custa nada fazer de novo. Tenho certeza de que você deve receber muitos, e... se o meu chamar sua atenção...

Ela soluçou e deixou escapar um som abafado, um misto de risada com choro.

– Estou desesperada, não? – Fez uma pausa. – É que... eu estava pensando que talvez meu último pedido não tenha sido específico o suficiente. Você pode ser um espírito, Angelina, mas isso não significa que consiga ler mentes, ou, bem, talvez consiga, mas...

A mulher soltou um suspiro entrecortado, e Christian esperou, pois não queria se mover e deixar que ela soubesse que ele estivera ali enquanto ela abria o coração no que acreditava ser uma confissão. Sei como se sente, ele pensou, fechando os olhos enquanto corria os dedos pela pedra áspera, imaginando Ana do outro lado, escutando enquanto ela abria o próprio coração.

Sentia-se um cretino por estar ali escutando a mulher, mas os pássaros haviam se calado, os soluços dela haviam parado e ele tinha medo de se afastar do muro e fazer algum barulho.
Estava preso ali.

– Enfim... – a mulher continuou, e ele notou que a voz dela parecia mais embotada, como se tivesse perdido a esperança em seu próprio pedido, como se ela já tivesse se convencido de que não havia chance de seu desejo ser realizado antes mesmo de dizer qual era. – O nome do meu filho é Matthew Fullerton, e ele está no Hospital Infantil. Ele está muito doente e precisa de cirurgia... se é que há esperança para ele. Não tenho como pagar e preciso de ajuda. Só... – ela deixou escapar outro som de engasgo – uma ajuda de cinquenta mil dólares.

As palavras dela morreram e Christian sentiu um aperto no peito ao fechar os olhos. Merda. Essa era a mulher que havia enfiado o papelzinho com o pedido para o filho doente? Devia ser.

– É isso. – Ele parecia esgotada, a voz pouco mais que um suspiro. – Preciso de ajuda para
salvar meu filho.

Christian escutou o som dos passos dela se afastando e pressionou outra vez o olho contra a fenda, observando enquanto um carro azul desaparecia, deixando para trás apenas o silêncio.

Christian se sentou na grama, o coração tão pesado como ficara da primeira vez em que ouvira o pedido daquela mulher para o filho doente, sentindo-se impotente de novo.

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