Onde eu estava com a cabeça? Onde eu estava com a cabeça?Christian reduziu o ritmo para uma corrida leve, que depois se transformou em uma parada à sombra do cipreste desfolhado. Seu peito subia e descia depressa quando ele se curvou, colocando as mãos nos joelhos para tentar diminuir os batimentos cardíacos.
Ele tinha forçado muito no treino e se sentia um pouco enjoado, mas nem assim as dúvidas em sua mente lhe davam trégua.
Anastasia. Ele se surpreendera por falar com ela – embora ela já tivesse notado sua respiração.
Outras pessoas já o haviam escutado do outro lado do muro e tinham até mesmo perguntado "quem está aí?", mas ele as ignorara e se divertira ao ouvi-las dando risadinhas e cochichando que aquele devia ser o espírito de Angelina.
Mas agora era diferente.
Mas concordar em reencontrá-la? Soar tão ridiculamente desesperado para falar com ela de novo? Por quê?
Sou tão solitário assim?
Deus! Ele endireitou a postura, passando os dedos pelos cabelos curtos e encharcados de suor.
Sou. Merda. Sou. Ele estava pirando devido à solidão, e agora precisava tanto de companhia que estava disposto a conversar com mulheres desconhecidas através das rachaduras do muro. Patético.
Só que... não era apenas o fato de se sentir solitário, embora Christian admitisse ser verdade, ainda que pudesse conversar com Gail e Taylor.
Não, era o desejo dela.
Ajude-me a ajudá-la, Angelina.
Christian sentiu uma cãibra leve na panturrilha e começou a andar para aliviar a dor, indo na direção das ruínas do que um dia haviam sido cabanas de escravos.
Ele entrou no bosque, seguindo por trilhas sinuosas, esticando a mão para tocar a madeira aquecida pelo sol e virando a cabeça a fim de enxergar com seu olho bom através da janela da cabana mais próxima.
O ar mais fresco daquele lugar arborizado o inundou, e esse simples prazer fez seus ombros relaxarem. Os pássaros cantavam nas árvores e, por um instante, uma sensação de grande e inexplicável paz encheu o peito de Christian. Inclinando-se para a frente, ele espiou o interior da cabana vazia, onde folhas secas se acumulavam nos cantos.
Angelina Loreaux vivera ali. Ajude-me a ajudá-la, Angelina –a garota, Anastasia, havia escrito.Como se tal coisa fosse de fato possível. Ainda assim... aquilo o intrigava. Ele tinha falado com ela brevemente, mesmo assim ela o intrigava. O tipo de compaixão altruísta que a garota demonstrava era raro. Eu sei bem.
Ele vinha apanhando desejos havia quase oito anos, juntando entre dez e vinte por semana. Agora já não encontrava no gramado tantos desejos quanto nos anos anteriores. Windisle e sua lenda só eram conhecidos pelo pessoal da região, principalmente pelos mais velhos. Aqueles que conheciam a história e a passavam adiante estavam todos mortos ou prestes a morrer e a levar a lenda consigo.
O muro que chora só era uma atração local – isso se fosse popular o bastante para ser chamado de atração – porque ficava em uma propriedade particular. Não era como se tivesse sido incluído na lista de pontos turísticos ou em sites destinados àqueles que visitam Nova Orleans.
Então os desejos que apareciam por lá eram de pessoas que tinham ouvido falar da lenda e estavam desesperadas ou curiosas o bastante para tentar.
Christian os lia de vez em quando, mas nos últimos tempos não tinha lido muitos, apesar do que dissera a Anastasia.
– Anastasia– ele falou em voz alta, sua língua enrolando novamente para pronunciar o nome, e ele gostando de como soava. Gostando do leve arrepio em sua pele ao repetir aquele nome mais uma vez.
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Meu apanhador de Desejos
RomancePouco depois de se mudar para Nova Orleans em busca de alavancar sua carreira de bailarina,Anastasia Steele se encontra mergulhada em solidão e incertezas, tendo na companhia de uma vizinha idosa seu único alívio para a melancolia que ameaça dominá...