Capítulo 21

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Christian ficou parado na lateral da casa enquanto Gail mostrava a saída a Ana, seu coração apertado enquanto ele via a garota ir embora.

As mulheres conversavam com animação, os braços de Gail se mexiam, pontuando as palavras como sempre fazia. Ana ria, e o som chegava até Christian, fazendo com que seu estômago se contraísse de desejo enquanto ele observava as duas escondido sob as sombras das árvores que cercavam a casa.

Ele queria se despedir dela, de verdade, mas não podia usar a máscara durante o dia. Tornaria bizarro e ridículo o que já era assustador. Pelo menos na escuridão da noite a bizarrice ganhava ares de algo demoníaco, e com demoníaco ele conseguia conviver. Com ridículo... não dava.

Monstros eram fascinantes de madrugada, não? Era por isso que se escondiam durante o dia. E, de todo modo, a maldita máscara ficava desconfortável depois de um tempo – emborrachada e suada – e ele não via a hora de arrancá-la e arremessá-la, de sentir o ar fresco sobre a pele machucada do rosto.

Gail disse alguma coisa e Ana olhou além dela por um instante, para a casa da fazenda.

Christian virou o olho bom na direção dela, esforçando-se para enxergar a expressão do seu belo rosto. Estupefata, ele pensou. Sim, o rosto dela revelava maravilhamento, como se ela estivesse olhando para algum lugar de adoração. E, caramba, ele sentia inveja daquela estrutura inanimada!

Ana voltou o olhar para Gail e sorriu calorosamente enquanto acenava, atravessando o portão lateral da propriedade que Gail fechou atrás dela. O som era de solidão, lembrando a Christian o vazio do dia que se arrastaria diante dele.

Um instante depois, Christian ouviu um carro se afastar, levando Ana para casa. Ele observou Gail caminhar até a casa, falando consigo mesma.

E, apesar de seus pensamentos mundanos sobre se esconder atrás das árvores, seu coração estava alegre. Ana sabia de suas cicatrizes e gostava dele mesmo assim. E, ah, como tinha sido bom ser abraçado. Sentir a maciez dela contra o seu corpo, escutar a respiração dela enquanto dormia. Mas aquilo também o perturbara.

Ele havia pensado que a ver dançar seria o suficiente para saciá-lo pelo resto de sua existência solitária, mas na verdade tivera o efeito contrário. Fizera com que ele passasse a querer mais. Então, sim, Taylor tinha razão. Ele estava apaixonado. Droga, ele estava apaixonado! Era uma angústia constante pulsando em suas veias.

E agora, ter a lembrança dos braços dela o envolvendo, do seu nome nos lábios dela enquanto ela mergulhava nos sonhos, só aumentava seu desejo de viver, de ter Ana e outras coisas que ele jamais poderia ter.

Enfiou as mãos nos bolsos do agasalho e sentiu o cartão pequeno e liso. Tirou o cartão do bolso e examinou as informações impressas ali. Quem poderia imaginar que membros de gangue têm cartões de visita? Era só um nome e um endereço e a lembrança da oferta que o homem chamado Ruben com tatuagens faciais, sem dúvida feitas na prisão, lhe fizera: "Sempre que estiver a fim de agitação noturna, mascarado, pode me ligar. Arranjaremos algo para você fazer." E então ele rira, mas não de um jeito cruel. Na verdade, fora um riso cheio de respeito, e fizera Christian se sentir muito bem, apesar de ter Ana gemendo e semidesmaiada em seus braços e da necessidade de levá-la para algum lugar seguro.

Falando nisso... ele precisava que Gail ou Taylor fosse com ele buscar sua moto mais tarde. Ao decidir que Ana estava mal demais para voltar de moto com ele em segurança, ele pedira à dupla que fosse buscá-los, e deixara a moto presa no local em que Ana descera do ônibus.

Christian suspirou, saindo de trás das árvores e virando o rosto desfigurado para o céu. Ia chover.

Ele foi até o muro, apoiando a palma da mão nas pedras sólidas. Era lá que tudo havia começado a mudar. E ele ainda não tinha decidido se a mudança que começara nele era algo bom ou acabaria por lhe trazer apenas sofrimento.

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