Capítulo 14

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Janeiro de 1861

–Senhor Whitfield, está elegante hoje.

John deu um sorriso forçado. Se a senhora Grey notou, não demonstrou.

– Obrigado, senhora Grey. A senhora está adorável como sempre.

Ele se virou para Astrid, que estava à direita da mãe.

– Você também, Astrid.

Astrid corou até a raiz dos cabelos e John sentiu um discreto aperto no peito. Ele detestava o fato de estar usando a garota como desculpa para passar um tempo em Windisle – para passar um tempo com Angelina –, mas no momento não havia outro jeito.

– Aquela é a senhora Holdsworth? Creio que sim. Por que vocês dois não tomam um pouco de ponche? Volto já.

Ela deu um tapinha no ombro de Astrid, lançando-lhe um olhar cheio de significado, e John virou o rosto para o outro lado, fingindo não ter notado aquele olhar nada sutil.

Ele pigarreou, cumprimentando a senhora Grey com um movimento de cabeça quando ela passou depressa por ele.

– Ponche? – John perguntou a Astrid, erguendo a sobrancelha.

Ela ficou vermelha, mas fez uma careta como se pedisse desculpas.

– Sutileza não é o forte da minha mãe. Mas, sim, obrigada. Adoraria um pouco de ponche.

John riu. Ele não tinha nenhuma intenção romântica com relação a Astrid, mas ela era uma garota legal. E bonita. Lembrava um pouco Angelina, com os mesmos olhos amendoados do pai e a testa alta. Logo chamaria a atenção de algum outro homem, e esse sujeito teria sorte se ela olhasse para ele, apesar do dragão que ela tinha como mãe.

Ele conduziu Astrid até a mesa onde estava o ponche e encheu um copo para ela e depois um para si.

– Feliz Ano-Novo, Astrid – ele disse tocando o copo dela com o seu.

– Feliz Ano-Novo, John – ela disse baixinho, tomando um gole de sua bebida.

Um homem de cartola e máscara preta riu, passando por eles com uma mulher que usava um boá vermelho e um chapéu delicado enfeitado com o que pareciam ser plumas de cardeal.

– Não sabia que era para vir fantasiado.

– Oh, não dizia nada no convite. Meus pais deram uma festa à fantasia de Réveillon muitos
anos atrás, e algumas pessoas ainda vêm fantasiadas como uma tradição.

– Ah, entendi. – John tomou mais um gole de ponche aguado, desejando que alguém tivesse
batizado a bebida ou que ele mesmo tivesse trazido algo para batizar o seu copo, para ajudar a suportar as trivialidades sociais daquela noite.

Tudo que queria fazer era abrir caminho entre aquele monte de gente e sair para o ar fresco da noite. Queria ir até ela. Ele a queria tanto que chegava a doer.

De repente, como se a sua mente tivesse conjurado, alguém que parecia com ela... ou melhor,que se movia como ela surgiu, e seu olhar foi atraído por uma mulher que usava um vestido rosa- claro de gola alta e uma máscara de gato que cobria o rosto todo, até o topo da cabeça. John tentou ignorar aquela mulher, desviar os olhos, mas não... ela definitivamente se movia como a sua Angelina. Ele devia saber, pois havia passado longas horas revivendo cada momento que passara com ela, visualizando repetidamente cada espreguiçada daquele corpo esguio, cada gesto, cada pequena contração dos músculos dela. Mas Angelina nunca fora convidada para aquela ou qualquer outra festa. De algum modo, ela estava muito perto, é verdade, mas... ah, era um mundo totalmente diferente!

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