–Está esperando uma encomenda? – Gail perguntou. – Isto estava na sua caixa postal.Christian se virou para ela de onde estava, parado diante da pia, lavando a louça que usara no almoço. Gail colocou um pacote pequeno sobre a bancada enquanto Christian secava as mãos. Ele olhou a etiqueta. O item vinha de Kansas. Ah, era o carregador que havia comprado no eBay.
– Sim. Obrigado.
Gail olhou para ele desconfiada.
– O que foi?
– Vi Ana indo embora outro dia de manhã.
Christian sorriu. Não pôde evitar. Seu rosto ficou tão radiante quanto o sol da manhã só de ouvir o nome dela e porque ela deixara a cama dele naquela manhã.
Ele tentou, sem sucesso, disfarçar, pigarreando e olhando para o teto como se pudesse desviar
seus pensamentos dela.– Ela... hã... veio fazer uma visita. Ficou tarde. Estava cansada.
– Aham. Não nasci ontem, Christian Grey.
– Rugas de preocupação surgiram no rosto
dela, que chegou mais perto, ajustando as lentes grossas. – Ouvi você sair do seu quarto horas antes dela.– Sim, e daí?
Gail esticou uma mão hesitante, e Christian instintivamente recuou, virando o rosto desfigurado para o outro lado, para longe do toque dela, se encolhendo.
Gail parou, mas então aproximou seus dedos devagar, como alguém que estica a mão para oferecer consolo a um animal ferido.
Christian a observou, imóvel desta vez, enquanto ela roçava os dedos em sua bochecha coberta por cicatrizes. Ele soltou o ar e fechou os olhos ao sentir outra pessoa tocar aquela parte arruinada do seu corpo pela primeira vez desde que deixara o hospital.
– Você precisa deixar que ela o ame por inteiro.
Ele recuou e virou o rosto, os dedos dela ficando no espaço vazio que surgiu entre eles.
– E se ela não puder?
– E se ela puder?
– Eu... eu não sei, Gail. E se ela puder, mas eu não for capaz de lhe dar a vida que ela
merece? – Christian se voltou para o outro lado e observou a claridade do dia através da janela.– Tenho fé em você, meu garoto. Mas disso você já sabe. Você precisa ter fé em si mesmo.
Ele se virou para ela outra vez, a felicidade que o inundara instantes atrás agora se
transformando em dúvidas.– Talvez não tenha a ver comigo, Gail. Esta cidade... diabos, o mundo como um todo, não
vai me aceitar só porque eu decidi voltar.– Sempre tem a ver com você, Christian. Sempre teve a ver com você. O mundo reagirá do jeito que reagirá. Não importa. Acredite no seu valor e o mundo não terá importância.
– Não acho que consiga fazer isso – murmurou ele.
– Consegue, querido. E, se precisar de alguém que o leve pela mão, tem a velha Gail aqui. Talvez eu o faça dar de cara com uma árvore antes de ajudá-lo a entrar nesse mundo, mas estarei lá, ao seu lado.
Christian riu, o amor por ela enchendo seu coração.
– Obrigado, Gail.
Gail assentiu com um sorriso enquanto pegava as compras do mercado, que havia trazido
junto com a correspondência, e começava a tirar as coisas do saco de papel.
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Meu apanhador de Desejos
RomancePouco depois de se mudar para Nova Orleans em busca de alavancar sua carreira de bailarina,Anastasia Steele se encontra mergulhada em solidão e incertezas, tendo na companhia de uma vizinha idosa seu único alívio para a melancolia que ameaça dominá...