Capítulo 29

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–Está esperando uma encomenda? – Gail perguntou. – Isto estava na sua caixa postal.

Christian se virou para ela de onde estava, parado diante da pia, lavando a louça que usara no almoço. Gail colocou um pacote pequeno sobre a bancada enquanto Christian secava as mãos. Ele olhou a etiqueta. O item vinha de Kansas. Ah, era o carregador que havia comprado no eBay.

– Sim. Obrigado.

Gail olhou para ele desconfiada.

– O que foi?

– Vi Ana indo embora outro dia de manhã.

Christian sorriu. Não pôde evitar. Seu rosto ficou tão radiante quanto o sol da manhã só de ouvir o nome dela e porque ela deixara a cama dele naquela manhã.

Ele tentou, sem sucesso, disfarçar, pigarreando e olhando para o teto como se pudesse desviar
seus pensamentos dela.

– Ela... hã... veio fazer uma visita. Ficou tarde. Estava cansada.

– Aham. Não nasci ontem, Christian Grey.
– Rugas de preocupação surgiram no rosto
dela, que chegou mais perto, ajustando as lentes grossas. – Ouvi você sair do seu quarto horas antes dela.

– Sim, e daí?

Gail esticou uma mão hesitante, e Christian instintivamente recuou, virando o rosto desfigurado para o outro lado, para longe do toque dela, se encolhendo.

Gail parou, mas então aproximou seus dedos devagar, como alguém que estica a mão para oferecer consolo a um animal ferido.

Christian a observou, imóvel desta vez, enquanto ela roçava os dedos em sua bochecha coberta por cicatrizes. Ele soltou o ar e fechou os olhos ao sentir outra pessoa tocar aquela parte arruinada do seu corpo pela primeira vez desde que deixara o hospital.

– Você precisa deixar que ela o ame por inteiro.

Ele recuou e virou o rosto, os dedos dela ficando no espaço vazio que surgiu entre eles.

– E se ela não puder?

– E se ela puder?

– Eu... eu não sei, Gail. E se ela puder, mas eu não for capaz de lhe dar a vida que ela
merece? – Christian se voltou para o outro lado e observou a claridade do dia através da janela.

– Tenho fé em você, meu garoto. Mas disso você já sabe. Você precisa ter fé em si mesmo.

Ele se virou para ela outra vez, a felicidade que o inundara instantes atrás agora se
transformando em dúvidas.

– Talvez não tenha a ver comigo, Gail. Esta cidade... diabos, o mundo como um todo, não
vai me aceitar só porque eu decidi voltar.

Sempre tem a ver com você, Christian. Sempre teve a ver com você. O mundo reagirá do jeito que reagirá. Não importa. Acredite no seu valor e o mundo não terá importância.

– Não acho que consiga fazer isso – murmurou ele.

– Consegue, querido. E, se precisar de alguém que o leve pela mão, tem a velha Gail aqui. Talvez eu o faça dar de cara com uma árvore antes de ajudá-lo a entrar nesse mundo, mas estarei lá, ao seu lado.

Christian riu, o amor por ela enchendo seu coração.

– Obrigado, Gail.

Gail assentiu com um sorriso enquanto pegava as compras do mercado, que havia trazido
junto com a correspondência, e começava a tirar as coisas do saco de papel.

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