Capítulo 9

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Os galhos das árvores balançavam com a brisa suave, criando um som sutil e agradável que acalentaria e acalmaria em situações normais. Mas Christian estava triste demais para ser acalentado. Preocupado demais para ser acalmado.

Ele olhava para as árvores à sua frente, os olhos fixos no pedaço do Solar Windisle que ele conseguia enxergar de onde estava sentado.

Ouviu um veículo se aproximando e seu coração ficou aos pulos, com batimentos acelerados enquanto a porta de um carro era fechada e passos chegavam mais perto. Então ele escutou um murmúrio do outro lado do muro e um pedacinho de papel aterrissou na grama à sua direita.

Depois de um instante, os passos se afastaram e o coração de Christian se acalmou, a decepção que ele detestava sentir ondulando dentro dele feito fumaça densa e tóxica e enchendo seus pulmões, tornando a respiração dolorosa.

Por que ele estava ali fora outra vez? Para se torturar? Para ter a verdade esfregada em sua cara? Ela jamais retornaria.

Ele alcançou o desejo, abrindo o papelzinho dobrado com uma mão e virando um pouco a cabeça para que pudesse enxergar as letras pequenas da caligrafia precisa com seu olho bom.

Meu filhinho precisa de cirurgia e não tenho como pagar. Por favor, me ajude a encontrar um jeito de ajudá-lo.

Merda.

Ele detestava quando os desejos envolviam crianças. Isso o fazia se sentir mais deprimido do que já se sentia, e não havia nada que ele pudesse fazer a respeito. Então só o que tinha que fazer era tentar não pensar no fato de que em algum lugar lá fora havia uma desconhecida com um filho doente a quem não conseguia ajudar. Ah, se Elliot estivesse ali, ele teria...

Outro veículo encostou, e a porta do carro se fechou com um som discreto. Christian encheu os pulmões de ar e depois expirou devagar e com suavidade. Ele inclinou a cabeça e esperou que um papel fosse jogado através de uma das rachaduras do muro, mas em vez disso ele escutou o carro se afastando. Ficou tenso.

– Oi, Christian– Ana disse, e ele a ouviu deslizar de costas contra o muro enquanto se sentava no lugar de sempre, aquele que havia ficado vazio nos dois domingos anteriores. Ele sabia disso porque tinha ido até o muro mesmo assim, forçado a si mesmo a se sentar sozinho e aguentar a solidão que agora era muito pior do que antes. Antes de Ana.

Não vou dizer nada. Não vou, ele prometeu a si mesmo. Deixaria que ela pensasse que ele não estava ali. Ele havia dito a Ana que não voltasse, então por que deveria revelar a ela a sua presença? Revelar que estava ali esperando feito um tolo patético por algo a que ele mesmo dera um fim?

E por que diabos ela estava ali? Será que não tinha ouvido? Não tinha pesquisado sobre ele?

– Sei que está aí. Eu... eu esperava que estivesse.

Tudo bem, era provável que ela conseguisse ouvi-lo respirando, assim como ele também a ouvia. Era provável que ela tivesse visto os pequenos trechos de rachadura com a luz do sol bloqueada na parte em que ele se encontrava encostado no muro. Droga, talvez ela conseguisse senti-lo como ele a sentia. Algum tipo de magnetismo inexplicável que o atraía, que o fazia querer se dissolver para atravessar o muro e tocá-la para sentir o seu calor. Não!

Não. Era por isso que ele lhe dissera para ir embora. Esses pensamentos involuntários que ele tinha sempre que ela estava perto, a forma como conseguia sentir o cheiro sutil dela mesmo sob o odor desagradável do óleo medicinal caseiro que ela usava às vezes.

Ana suspirou.

– Tudo bem. Já que não quer falar comigo, falarei com você. – Ela parou de falar e ele pressionou o ouvido contra as pedras frias, como se ela estivesse sussurrando e ele talvez pudesse ouvir aquele som suave e secreto se chegasse mais perto.

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