Capítulo 16

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Christian pressionou as costas contra o muro do edifício ao lado do hotel, tentando recuperar o fôlego.

Ele havia escapado discretamente e descido depressa a escada de saída do hotel, mas não estava com falta de ar porque não se exercitava ou porque estivesse fora de forma. Não, sua incapacidade de respirar devidamente era por causa de Ana. Ana.

Droga, seu corpo ainda excitado, ainda pulsando com a lembrança do corpo dela apertado contra o seu, o cheiro dela o envolvendo, a forma como o olhara com aqueles lindos olhos azuis. Azuis. Os olhos dela eram azuis celeste. Um belo tom de azul. E eles pareciam poder enxergá-lo apesar do rosto coberto. Christian fechou os olhos, desejando que seus batimentos cardíacos diminuíssem, desejando que seu corpo relaxasse.

Quando se sentiu mais controlado, desencostou do muro, enfiando as mãos nos bolsos do paletó e baixando um pouco a cabeça.

Ele ainda usava a máscara escolhida para o baile, o que lhe dava mais liberdade de andar pelas ruas mais à vontade, sem a necessidade de esconder as cicatrizes.

Recebeu alguns olhares estranhos dos transeuntes, mas ali era Nova Orleans, e ver pessoas metidas em roupas esquisitas e fantasias não era incomum, então, depois de lançar um ou dois olhares de curiosidade, as pessoas seguiam em frente sem dizer nada.

Mesmo assim, Christian não gostava de chamar a atenção, nunca havia gostado que olhassem para ele. Pedia a Deus que fizesse com que ele voltasse a ser anônimo de novo. Mas isso jamais aconteceria. Ele baixou mais a cabeça, levantando a gola para cobrir o pescoço.

Os olhares o faziam lembrar de quem ele era agora, e de quem jamais voltaria a ser. Os olhares deixavam seu coração pesado e seus pelos eriçados. Os olhares o faziam perceber que ele jamais caminharia em paz ao lado de alguém como Ana.

Havia um grupo de pessoas na esquina esperando o semáforo de pedestres ficar verde, e Christian se demorou diante de uma porta de entrada, não querendo passar por elas, preferindo aguardar até que tivessem atravessado a rua.

Ele se inclinou na direção da escuridão, movendo o tronco antes dos pés, caminhando com cautela, tentando fazer movimentos discretos.

Era uma espécie de dança, pensou com tristeza, se mover entre as sombras, saber com precisão onde pisar e como desviar da luz, mesmo ao luar.

Antes, ele era um homem acostumado com os holofotes; agora, dançava entre os raios da lua. Seria romântico, Christian pensou, bufando de mau humor, se não fosse tão patético.

O grupo de jovens animados se moveu e Christian também, sua mente trazendo de volta o breve tempo que ele havia passado com Ana.

Ah, ela era linda e gentil! Sua mente curiosa contemplava o amor, a vida e os mistérios que
iam além de si mesma. Ela era boa e perfeita e cheirava deliciosamente bem... e ele queria que ela fosse sua. Aquela ideia o encheu de desejo – um desejo lancinante e doloroso.

Ele se lembrou da noite no teatro, quando fora vê-la dançar, quando convencera a si mesmo a
fazer aquilo, uma única saída, para depois retornar para a segurança dos muros de sua propriedade e reviver aquela lembrança para sempre.

Ele tinha permanecido nas sombras no fundo do teatro, misturado à escuridão enquanto o corpo dela girava e saltava e se movia de um jeito que fazia o coração dele inchar e se partir no tempo de uma única respiração.

Ela era hipnotizante, não apenas o seu corpo, mas a expressão em seu rosto enquanto a música aumentava, chegando ao crescendo e depois diminuindo, as notas de um piano solitário morrendo aos poucos.

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