𝐇𝐀𝐍 𝐉𝐈𝐒𝐔𝐍𝐆
Ouve um dia em que vergonha me corrompeu como hoje.
Mas na época foi por ter sido pego roubando balas. Minha cara ardia, pela humilhação, pela consciência pesada, mas de toda dor engolia e fingia indiferença, e o sentimento de amargor permeava até a hora que ela chegava. Com o uniforme cinza, o cabelo cheio de falhas conforme o preço da ansiedade, as mãos finas e firmes que seguraram meu braço pequeno e magro com força, uma brutalidade quase irônica que falhava ao encontrar o seu olhar. Olhos preocupados, irritados, caídos, tais quais daqueles que desafiam soldados.
Lhe assisti pedir desculpas aos responsáveis pelo estabelecimento, de cabeça baixa, e voz alta, e puxar-me dali, para caminhar pela rua empoeirada de vermelho, de onde o vento era quente. Ela, após um longo percurso, já dizia com a garganta arranhada — Olha meu filho, quero que saiba... quero que saiba e nunca se esqueça de que eu não criei você pro' mundo. Eu criei você pra' Deus.
E passávamos de frente a pessoas coloridas, que a cumprimentavam com mais educação que os sujeitos de farda das grandes telas brilhantes do primeiro mundo fora da cerca. E minha mãe se referia a elas, elas eram de Deus, as pessoas coloridas todas eram filhas de Deus, e quem estava com eles, estava bem, afinal, estava com Deus.
Mamãe tinha medo de gente grande, tinha medo do Cristianismo europeu, medo da gripe, da fome, do frio, do fim do mês, do transporte público e do nosso choro fino, mas enfrentava com o queixo alto e as sobrancelhas juntas, talvez eu tivesse herdado isso dela, em querer carregar o mundo todo nas costas e cuidar de quem se encontra vulnerável com um toque de ódio e raiva, mas mãos cuidadosas.
E essas mãos, igualmente fortes, igualmente delicadas arrastaram um homem metade lata pra' fora de um veículo licenciado do estado, pois já mancava pelo disparo marcado na pele, um disparo que me rendeu a mesma vergonha. — Como já dizia um certo alguém, o orgulho será a morte de todos nós. O aperto era firme contra o quadril, mas preciso, exatamente para não o magoar. Eu não conhecia aquele lugar, o acampamento, tão pouco sabia onde estávamos, mas andava de cabeça erguida. E apesar da dor, eu sabia que Minho estava sorrindo.
Ele escoltado a se deitar, e uma mulher negra parecia irritada com a minha presença, e chegou a pensar em cuidar da ferida, mas tive de para-la. Meu deslize, meu erro, meu problema, eu dou o jeito dele, e ela pareceu ainda mais irritada, mas suspirou cansada e acenou com a cabeça para uma das tendas desocupadas. E retribui com reverência, não quero brigas, nem deveria estar aqui, vou arrumar esse homem e dar no pé.
Isso caso ele pare imediatamente de me olhar desse jeito, com aqueles olhos. Eu o ajudei deitando-o nos panos, e foi enlaçar o tecido que nos tornava particular, naquela falsa sensação de privacidade, que eu tentei argumentar alguma ideia, mas minha voz começou a falhar — M-me desculpa, e-eu, eu, eu, tava puto, irritado pra' porra, eu nem pensei, desculpa, foda, cacete, eu só queria mostrar pra' ele...
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ROBOCOP PAN | minsung A̶☭
FanficMINHO é um cyborg forense que passou a ser designado para investigar situações do Narcotráfico da parte suburbana da metrópole da cidade Alma, onde o caos é disfarçado de utopia social. E por consequência de um acidente, ele acaba por conhecer JISUN...