Alem do Tempo - Edward Cullen

Capítulo 41

A transformação havia acabado, porém a sensação do veneno agindo permaneceu, é uma situação extremamente estranha, eu não esquecerei do inferno que passei, a dor estará impregnada eternamente em minha alma. Eu senti como se meu corpo fosse consumido e destruído pelo fogo, aquilo queimava e estava apenas começando.

Edward contou que seriam 3 dias, mas a sensação é que se passaram anos, senti como se cada célula estivesse borbulhando, o ardor foi aumentando conforme a metamorfose seguiu o seu rumo, indiferente aos meus gemidos e os gritos de dor. Tenho a vaga lembrança de ver meu marido sentado na cama, imerso e preso em seus pensamentos.

Depois de um tempo eu desisti de gritar e implorar por misericórdia, nada poderia ser feito e meu marido não merecia carregar essa imensa culpa nos ombros, foi uma decisão minha, ele foi apenas um condutor, meu destino é estar e permanecer do seu lado. No terceiro dia foi incomum, a dor diminuiu e meu coração teve os batimentos desacelerados, meus pulmões também pararam de funcionar.

E, de repente, completo silêncio, mas ele foi rapidamente impregnado por sons, muitos dos quais eu jamais havia ouvido antes, todos os meus sentidos foram ampliados de forma inimaginável. A floresta parecia mais viva e os animais, que antes passavam despercebidos, foram finalmente notados, mesmo que meus olhos continuassem fechados.

O cheiro doce de Edward estava forte e intenso, havia suaves toques do perfume e o creme hidratante que eu costumava usar, as nuances criaram um aroma excêntrico, todas as mudanças foram gritantes. Quando reuni a coragem e força para abrir os olhos... Foi um choque de realidade, o mundo parecia possuir mais cores e ser mais brilhante.

Busquei pelo quarto e como prometido, encontre meu marido deitado comigo, perdi o senso de tudo aquilo que acreditei, Edward é um deus vivendo entre os homens, ele tem os olhos profundos e absolutamente capazes de hipnotizar pobres almas perdidas. Levantei da cama e fiquei perdida com a velocidade que a tarefa foi executada, de algum jeito, eu estava diferente, mas era eu mesma.

- Você está linda - Afirmou Edward com puro amor e devoção na voz.

- Eu te amo - Sorri, incapaz de conter o sentimento de alívio e paixão.

As minhas emoções estavam alteradas e intensificadas, elas pareciam vividas e mais reais, eu sempre soube que amava Edward de um jeito único e inexplicável, mas agora? Esse sentimento é absoluto, quase transbordando e excedendo qualquer expectativa, meu único desejo é estar perto e toca-lo, mostrar que eu amo cada uma de suas facetas, incluindo seu humor estranho e exótico.

Meu marido levantou da cama e veio ao meu encontro, ele sorria lindamente, fazendo com que meu mundo fizesse sentido, sei que estou parecendo uma adolescente retratada e mostrada em livros e filmes de romance, mas é exatamente assim que me sinto. Como se o homem dos sonhos tivesse me escolhido, eu não poderia estar mais feliz.

Edward segurou em minha mão e puxou até estarmos em frente a um espelho, a visão que tive foi assombrosa, aquele reflexo não é humanamente possível, era como estar diante de uma imagem distorcida da realidade. Meu cabelo estava macio e enrolado, a cor natural de preto sendo realçada pelos cachos, minha pele ficou ainda mais pálida, as imperfeições causadas pelo câncer sumiram.

Meus olhos adquiriram a cor vermelha e admito ter gostado do contraste, mesmo que não seja convencional, meu corpo parecia um pouco... diferente. Cintura mais fina e quadril mais cheio, a transformação aprimorou meus defeitos e destacou as qualidades, o veneno é específico quanto a sua função. Eu estava um tanto quanto... desumana.

- Você trocou minha roupa? - Questionei ao notar que usava um vestido azul, eu usava uma camisola branca antes.

- Sim, achei que seria menos sugestivo e tentador, eu preciso de concentração para ser capaz de mostrar como caçar - Respondeu e levei as mãos na garganta.

A queimação era insuportável, a ideia de obter sangue foi tentadora, mas ainda fiquei desconfortável, eu estava prestes a matar um ser vivo, uma criatura inocente. Busquei apoio e consolo nos braços de Edward, ele entende meu receio, afinal optei pelo vegetarianismo quando ainda era humana. Recuei e ele sorriu antes de correr e pular da janela.

Sorri e pulei logo atrás, empolgada para enxergar mais desse novo mundo, Edward era rápido, porém consegui alcança-lo sem perder a oportunidade de provocar o imortal, raios de sol ultrapassaram a copa densa das árvores e brilharam majestosamente, com minha visão ampliada fui capaz de ver borboletas voando e aranhas tecendo suas teias.

O vento batendo contra meu corpo foi o detalhe de destaque, eu nunca me senti mais viva, passar pela transformação foi como ter a oportunidade de renascer. Os aromas foram sentidos e distingui cada um deles, havia uma verdadeira mistura como ceiva, pinheiro, água salgada e carvalho, a atmosfera misteriosa do ambiente também se destacou.

- Isso é incrível, Edward - Comentei com um pouco de incredulidade.

- Você ainda não viu nada - Respondeu e parou de correr, indicando que chegamos no local indicado - Vem aqui, Megan - Pediu com doçura e obedeci instantâneamente.

- E agora? - Perguntei sentindo que esse momento é determinante.

- Feche os olhos, amor - Informou e seus braços envolveram minha cintura - Ouça com atenção os sons da floresta, saberá quando a presa perfeita surgir - Instruiu.

Fechei os olhos e permiti que o instinto de caça fosse liberado, ouvi com atenção e os primeiros sons foram ouvidos, eram coelhos correndo através das moitas, forcei a audição e escutei passos lentos, um casal de cervos, o cheiro doce de sangue aumentou a sensação dolorosa em minha garganta. Abri os olhos e meu marido sorriu e acentiu, incentivando que eu entrasse em ação.

Me embrenhei na mata e fiquei atrás de troncos de árvore, aguardando o momento de agir corretamente, após um tempo olhando e observando seus movimentos decidi atacar, a pior parte é saber que eles irão morrer e serei a causadora disso. Corri e imobilizei a fêmea, mordi sua garganta e o líquido quente desceu, diminuindo a sensação incômoda.

Apesar do sangue ser espesso e quente, o sabor não pode ser descrito, entretanto é a melhor coisa que provei na vida, Edward tinha uma expressão de orgulho e satisfação. Seus olhos dourados observaram atentamente os meus passos, rindo abertamente quando agi e ataquei afoitamente o cervo macho, ansiosa para obter mais sangue.

- Porque ainda sinto sede? É normal ou tem algo de errado comigo? - Perguntei e tive uma surpresa, minha voz estava suave e com um timbre rouco e sensual.

- É normal, querida, sangue animal não é capaz de nos saciar completamente, Carlisle e o restante da família sente o mesmo, além disso você é uma recém-criada, sentirá algum desconforto até se habituar - Respondeu com o intuito de me acalmar.

- E como eu fui? Desastrosa ou com um talento natural? - Sorri, o abraçando apertado e recebendo um gemi baixinho - O que foi? Eu fiz alguma coisa errada? - Perguntei recuando e esperando por respostas.

- Megan, você é mais forte que eu agora, é sua vez de não me machucar - Afirmou com o semblante sereno e brincalhão.

- Certo, vou tentar lembrar disso - Sorri e ele entrelaçou nossas mãos.

- Você foi incrível, melhor que Emmett e Esme em suas primeiras caçadas, quase tão boa quanto eu - Provocou rindo.

- "Quase tão boa quanto eu" - Imitei e ele me puxou para um abraço, apenas revirei os olhos e inspirei seu perfume doce, esse é meu novo mundo, minha nova vida e o meu recomeço.