Chego no hospital e o pessoal já está na recepção me esperando. A Dona Fátima fez seu maravilhoso bolo de romeu e julieta para o meu pai, se ele não gostar, aí eu terei que rever o caráter dele outra vez.
— Mano, olha esse hospital! — Zica fala impressionado quando passamos da recepção — Olha lá — ele aponta para uma placa com informações dos andares. — Tem uma praça de alimentação! Gigi, vamos lá depois?
— Renan! Fica quieto, não dê um de esfomeado na frente do pai da Giovanna! — A mãe dele o repreende.
— É um esfomeado esse menino! — Carioca implica.
— Se você se comportar direitinho a gente vai lá. — Brinco também.
— Acho que não vai dá tempo, na volta a gente vai. — Gabs entra na zuera.
— Seus idiotas! — Zica balança a cabeça em negação enquanto ri.
Chegamos no sétimo andar. O andar em que meu pai está internado, mais conhecido como o andar dos pacientes em estado terminal, onde todos que estão internados aqui estão com câncer terminal. Por tanto, essa área tem uma atmosfera diferente, todos os enfermeiros estão sempre de ótimo humor e prontos para ajudar, aqui os pacientes podem tudo, inclusive comer o bolo divino e cheio de carboidratos e açúcar da Dona Fátima.
Minha barriga começa a dar umas pontadas de nervosismo quando chegamos na porta do quarto do meu pai.
— Você quer entrar primeiro e depois entramos? — Fátima pergunta.
— Não, vamos entrar todos juntos. — Digo, respiro fundo e abro a porta.
Meu pai está sentado na sua cama lendo seu precioso jornal, ele fecha e posiciona o jornal no seu colo, no momento em que nos vê entrando no quarto. Ele está com um sorriso no rosto, algo que anda usando bastante, tanto que já me acostumei. Mas mesmo com o sorriso, eu consigo ver que ele está cansado, as dores abdominais dele estão aumentando e o remédio para diminui-las causa sonolência, com isso, ele passa a maioria do tempo ou dormindo, ou com sono.
O pessoal sabe do estado que ele se encontra, por tanto, sabe que é uma visita rápida e que não dá para esperar que ele seja animado, até porque ele nunca foi assim, o máximo que eles podem esperar é que seja simpático e educado.
— Oi, pai! — entro, vou até ele para lhe dá um beijo e fazer as apresentações — Como você está hoje?
— Bem, os remédios estão ajudando, e você? Aliás, e vocês? — fala com um sorriso ainda no rosto.
— Estou ótima, mas deixa eu apresentar vocês, — abro um largo sorriso de empolgação — esses são os meninos, que vocês já se conheceram, mas vou apresentar de novo — com o dedo, eu aponto para eles em ordem da esquerda para direita —, esse é o Gabriel, José Ricardo, Renan e, essa maravilhosa, é a Dona Fátima, mãe do Renan.
Todos eles vão até o meu pai o cumprimentar. É engraçado ver essa cena, no caso, dos meninos todos comportados e educados, fingindo costume.
— Não sei se o senhor gosta de bolo, mas esse é a minha especialidade, espero que goste. — Fátima entrega a vasilha com um enorme pedaço do seu bolo ao meu pai.
— Pode me chamar de Nicolau. Muito obrigado. — ele abre e cheira o bolo — o cheiro está ótimo, mas só posso comer daqui meia hora, preciso estar de estômago vazio para o remédio das 22 horas, comerei logo em seguida. Estão servidos? — ele pergunta oferecendo um pouco do bolo.
Todos nós olhamos para o Zica, consigo ver o sofrimento no olhar dele por recusar, mas se bem que ele poderia aceitar, só que a mãe dele brigaria com ele.
— Obrigado, mas estamos bem. — Ele responde simpático.
Ficamos conversando um pouco, contei a eles como foi meu último dia de trabalho, e o que cada um fez hoje, uma conversa normal que costumamos ter sempre.
— Gabriel, é você que quer ser médico? — meu pai pergunta, como ele se lembrou disso?
— Sim, vou prestar para medicina. — Fala sem jeito, ele também não estava esperando essa pergunta.
— Ele quer ser cardiologista. — A Fátima enfatiza.
— Ótimo! Eu conversei com o meu médico, ele é oncologista e trabalha neste hospital há uns bons anos, por tanto, conhece muitas pessoas que também trabalham aqui. Ele confirmou que, caso você queira, ele pode agendar com um responsável para lhe dar um tour por todas as áreas do hospital, você tem interesse? — meu pai pergunta ao Gabs.
Como assim? Como ele fez isso? Como ele não me contou nada?
Todos nós olhamos para o Gabs que está em estado de choque, assim como todos nós.
— Desculpa — ele consegue falar depois de um tempo —, o senhor está dizendo que eu posso marcar de conhecer todo o hospital, todas as alas, todas as salas, os equipamentos, os médicos, tudo? — seus olhos estão quase saindo para fora de tão extasiado que ele está.
— Sim, posso ver se ele consegue lhe colocar em contato com o responsável pela ala de cardiologia, fazer um tour maior nessa ala, tudo bem para você?
— Caral... desculpa, velho! — o coitado está tão feliz que nem consegue falar — Sim, está mais do que bem, está ótimo, muito, muito obrigado, sério mesmo, muito obrigado. — A felicidade é tanta que ele vai até o meu pai e o abraça.
Eles acertaram um dia para o Gabs vim até aqui e fazer a tour. O enfermeiro apareceu para dar os remédios das dez horas, depois voltamos a conversar, dessa vez meu pai que fazia as perguntas, quis saber sobre eles e sobre a mãe do Zica também.
Meu pai provou o bolo de romeu e julieta e, obviamente, amou, comeu mais do que a metade e eu e os meninos acabamos com o que havia sobrado.
Mal posso acreditar que deu tudo certo, meu pai amou os meninos, principalmente a Dona Fátima, e os meninos também gostaram dele, o Gabs então, nem se fala.
Sonhei tanto com uma cena dessa, que era como se eu estivesse vendo como espectadora, era difícil assimilar o que estava acontecendo, os diálogos, os risos e a sintonia. Esse momento foi realmente um sonho.
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Segunda Chance
RomanceAo descobrir um segredo que seu pai guardara por anos, Giovanna sai de casa, com apenas 16 anos. Após um ano do ocorrido, ela ainda tem dificuldades em retomar sua vida, que antes glamourosa, agora mora em um depósito de uma cafeteria, a qual trabal...