Ficamos em silêncio por um tempo, ainda de mãos dadas. Por mim, ficaríamos horas assim, estou conseguindo respirar normalmente, sem sentir dor no peito a cada minuto.
Desde que eu o vi aqui no hospital, esqueci da carta da minha mãe. Voltei a atenção a ela, pois ela caiu do meu colo. Pego a carta com a outra mão, não quero soltar a minha mão da dele, e volto a encarar o envelope.
— Antes de você chegar, eu estava criando coragem para abrir essa carta — falo olhando para ela —, meu pai tinha acabado de me dá. É da minha mãe, ela deixou uma carta para ele e para mim, pediu que ele me entregasse quando eu fizesse 18 anos, mas com as notícias de hoje, meu pai achou melhor me entregar logo.
— Ele sabe o que ela escreveu?
— Não, está lacrada.
— Por que você não abriu ainda?
— Não sei, meio que tenho medo do que pode ter dentro, medo de voltar como eu era quando descobri que ela fugiu. Demorei para superar que ela me abandonou, não quero sentir o que eu senti de novo. — Ele aperta minha mão quando paro de falar.
— Quer que eu leia? Posso ler calado e vê se vai ou não ferir você. — Ele leu meus pensamentos?
— Você faria isso? — Pergunto esperançosa.
— Claro, de boa. — Ele responde com um sorriso solidário.
Entrego o envelope a ele. Antes de abrir, ele analisa o envelope por um instante. Quando ele abre e puxa a carta e vejo que é um papel A4 e está escrita tanto na frente como no verso, meu coração acelera.
Isso é real, é uma carta da minha mãe, é uma lembrança, a única lembrança que terei dela.
— Espera, — peço enquanto ele lê a carta em silêncio — pode ler alto? Acho que quero saber o que ela escreveu. — Pergunto aflita e ansiosa.
— Claro! Quer um tempo ou já posso começar? — Ele pergunta calmo.
Respiro fundo, minha dificuldade de respirar voltou, mas já me acostumei com ela.
— Pode ler. — Digo firme.
Ele aperta mais uma vez a minha mão e começa.
— "Minha Gio, pedi para seu pai lhe entregar essa carta no seu aniversário de 18 anos, sei que passou muito tempo desde que saí da vida de vocês, mas tenho certeza que você estará mais madura para entender o porquê parti. Primeiro de tudo, quero que você saiba que não foi por falta de amor, pois você é a pessoa que eu mais amo nesse mundo, você que me dá coragem para seguir em frente, mas eu não estava feliz e não era sua culpa. Seu pai é um bom homem, mas ele vive para o trabalho e me sentia perdida, não sabia quem eu era, qual era o meu propósito, qual era meus sonhos. Abdiquei de tudo para ser a esposa dele, porém, em nenhum momento, ele me obrigou a isso, fui cedendo, só que, ele não notava quão perdida e miserável eu estava, eu me sentia invisível para ele."
"Poderia ter pedido o divórcio, mas eu continuaria com a mesma vida que levava estando com ele, e só traria mais dor de cabeça, além do mais, eu, até esse momento em que te escrevo, sou apaixonada por ele, não conseguiria ver ele sofrer durante o processo do divórcio. Demorei muito para chegar nessa decisão, mas foi a única que seria melhor para ambos. Seu pai é um homem honesto e leal, portanto, sei que ele cumpriu com o meu pedido, que foi: contar a você que eu havia morrido. Foi a melhor decisão para que você não crescesse traumatizada por eu ter saído da sua vida. Mas óbvio, se você está recebendo essa carta é porque você sabe que mentimos, provavelmente você está zangada com o seu pai, mas sei que essa carta vai ajudar você a perdoá-lo e entender o lado dele, sei também que eu não mereço perdão. Fiz o que fiz para me sentir viva, porém sou mãe, sei que fui egoísta."
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Segunda Chance
RomanceAo descobrir um segredo que seu pai guardara por anos, Giovanna sai de casa, com apenas 16 anos. Após um ano do ocorrido, ela ainda tem dificuldades em retomar sua vida, que antes glamourosa, agora mora em um depósito de uma cafeteria, a qual trabal...