33 - Queimando o filme

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Não aguento mais ouvir sobre vestibular, todo mundo só fala sobre isso, ou que curso escolher, ou qual faculdade escolher, se vão prestar o ENEM ou não. Para falar a verdade, gostaria de estar preocupada com esse assunto, mas não estou, ficou óbvio para mim que eu não prestarei nenhum vestibular esse semestre, não tenho cabeça para isso, não sei nem o que quero fazer da vida mais.

Se me perguntassem algumas semanas atrás, eu diria, sem nem pensar, que queria arquitetura e já estaria estudando como uma louca para a FUVEST, mas infelizmente tudo mudou, não sei se quero arquitetura, e também não preciso me preocupar com faculdade pública. Porém, nem se eu quisesse, estou sem cabeça e sem tempo para pensar no futuro, quando não estou trabalhando, estou com o meu pai, quando não estou com o meu pai, estou estudando para as provas, às vezes sinto até saudades das festas da Lia.

Percebo que eles pararam de falar de vestibular, estão falando sobre a formatura, outro tópico que esqueci completamente.

— Teremos formatura? — penso alto.

A Lia e a Carol me olham horrorizadas, como se tive perguntado o que é natal.

— Claro que vamos! — Carol me responde indignada.

— Por que não teríamos? — Lia me pergunta com a mesma cara de desaprovação de Carol.

— Não sei, só esqueci que teríamos. — Respondo me sentido intimidada.

— Você vai, né? — agora é a vez da Ariane me perguntar.

— Acho que não. — Digo sem jeito.

— Até parece! — Carioca fala rindo. — Óbvio que tu vai, Gigi.

Acho que não. — Zica repete minha fala com desdém. — Me poupe. — Ele ri enquanto balança a cabeça em negação.

— Não posso querer não ir? — pergunto irritada.

— Claro que não, mano! Passei anos nessa escola com esses filhinhos de papai, aturando comentários idiotas de que eu não pertenço aqui, então é óbvio que quero comemorar a minha saída desse lugar, e não tem como comemorar sem você. — Zica fala sério agora.

Merda, como eu falo não agora?

— Aí, eu te odeio! — Digo com um sorriso de derrota.

— Mas, se você não gosta deles, por que quer comemorar com eles? — agora o Alex pergunta confuso.

Sim, o Alex estava falando sério quando disse querer ser meu amigo. No dia seguinte, ele ficou conosco no recreio e pelo visto gostou, pois, agora passa o recreio aqui desde então. Demorou apenas dois dias para os meninos gostarem dele e vice-versa, ficaram amigos até demais para o meu gosto.

— Não quero comemorar com esses mimados, quero comemorar com vocês! Vocês — ele olha para mim e para o Carioca, o Gabs não está aqui, está com a Camila — fizeram da escola um lugar divertido e aturável. Mano, eu amo demais vocês, não sei o que seria de mim aqui sem vocês! — ele se emociona.

Merda, de novo! Por que ele está falando isso? Ele sabe que estou na TPM, ele sabe que fico sensível nesse período. Droga. Ele sempre foi assim, sentimental. De nós, ele é o mais chorão, porém o Carioca é o mais dramático.

— O que a TPM não faz? — o Carioca diz rindo ao me ver chorando disfarçadamente.

— Só porque ela está chorando não quer dizer que ela esteja na TPM! — Lia briga com ele.

— Mas ela está, sempre na segunda semana do mês ela fica assim. — Carioca diz convicto.

— Você sabe disso? — Alex pergunta impressionado.

— Claro que sabemos, até uns meses atrás, éramos os únicos amigos dela. O Gabs foi quem comprou o primeiro absorvente dela ... ah, lembro como se fosse hoje. — O Zica fica pensativo e dispara a rir.

— Cara, se você falar mais alguma coisa, eu juro que te mato! — falo seria, devo estar mais vermelha do que já sou.

— Por que o Gabs comprou seu absorvente? — Carol pergunta curiosa.

É um fato, estou vermelha, minhas bochechas estão queimando.

— Porque não tive coragem. — Respondo sem graça.

— Porque ela ficou no banheiro do meu quarto chorando que nem uma doida, pois sua calcinha tinha manchado. — Carioca começa a falar e rir ao mesmo tempo.

Não acredito que ele está falando isso! Okay, se eu não estivesse na TPM, provavelmente, eu estaria rindo.

— Enquanto o Gabs ia comprar absorvente, eu fui comprar calcinha para ela. — Zica completa.

— E tu ainda apanhou dela! — Carioca relembra.

Continuo em choque com eles dizendo isso! O Alex está olhando compenetrado e com um sorriso enorme na boca, o que ele deve estar pensando de mim?

— Verdade! Comprei uma calcinha de renda, foi a primeira que vi e ainda era em conta, então nem pensei, só comprei.

— Aí os dois chegam em casa e quando o Zica dá a calcinha rendada rosa a ela, a Gigi começa a chorar de novo e brigar com ele por comprar uma calcinha sensual para ela, que isso era errado...

— Que ela ainda era uma criança, que ela não queria que a gente a visse como uma mulher...

Eles nem conseguem falar tudo de tanto que estão rindo.

— Velho! Cala a boca! — finalmente falo antes que eles piorem ainda mais a situação. — Eu juro que eu mato vocês, vocês são uns idiotas! — brigo, ficando ainda mais vermelha, mas de nada adianta, todos eles estão rolando de rir.

— Gigi, não mata eles, essa história é hilária demais para deixar em segredo. — Alex fala ainda rindo.

Agora que eu quero mesmo matá-los.

O sinal de encerramento do recreio toca, finalmente! Espero que eles não toquem mais nesse assunto.

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