Segunda Chance

63 - Leitura

Infelizmente havia o mesmo tanto de pessoas na sala, se cinco foram embora, foi muito. Por que as pessoas ficam tanto tempo em um enterro?

Levou mais de uma hora para os convidados irem embora. Mas não todos, uma parte ficou. Um dos pedidos do meu pai foi que, juntamente com o enterro, houvesse a leitura do testamento. Portanto, todos que estão presentes na casa estão no testamento.

O Carlos nos leva para uma sala no segundo andar. Tem umas pessoas que eu não conheço presentes, mas que de alguma forma está no testamento, assim como tem uma pessoa que está no testamento, mas não está aqui, que é o Celso, da escola. Tirando ele, todos que eu coloquei junto com o meu pai, estão presentes.

Aliás, observar as expressões do Rick, Bia, Dona Fátima, Dona Linda e Francisco está me animando, todos estão com a mesma expressão de desentendidos.

O Carlos, juntamente com o Federico, começa lendo o testamento, o Carlos lê e o Federico explica questões financeiras. Eles começam com os que eu desconheço.

A primeira é uma senhora, ela era a secretária dele, ele deixou um imóvel no litoral. O segundo era um homem simples de meia-idade, era o mecânico que cuidava dos seus carros, para ele, meu pai deixou o seu fusca. O terceiro era o motorista dele, deixou um imóvel. E o quarto era o cabeleireiro — o meu pai era bem enjoado com o seu bigode, só alguém de muita confiança podia arrumar, nem ele mesmo o aparava. Ele comprou o salão, que era alugado, e passou para o nome do cabeleireiro, esse homem com traços libanês e expressões sérias, chorou compulsivamente quando soube, e agradeceu, no que presumo que seja libanês, umas mil vezes, beijou e abraçou o Carlos e o Frederico umas cinco vezes.

Os quatro vão embora e o Carlos pega uma outra parte do testamento. Saio do sofá que estava sentada com os meninos e me sento no sofá ao lado do Carlos e Federico.

— Esse testamento foi escrito pelo Nicolau juntamente com a Giovanna, sua filha. — Ele se vira para me encarar. — Houve umas mudanças no primeiro testamento que vocês fizeram, talvez você não saiba de tudo que esteja escrito aqui. — Ele diz baixo, quase sussurrando. — Lembrando que é uma carta informal, depois vou marcar com cada um, uma reunião para deixar tudo acertado e assinado, combinado? — diz para todos que estão na sala.

O encaro por um tempo desentendia, o que ele mudou e por que ele mudou?

— Vamos lá? "Para a doce e atenciosa Rosa, deixo minha casa e, claro, sua casa em Apiaí." — Essa casa em Apiaí ele não havia me dito, mas pelo suspiro e choro da Rosa, era algo que ela sonhara.

— Oh, seu Nicolau — diz olhando para cima — obrigada! — agora olha para mim — obrigada querida!

Agradeço e ela sai da sala, foi chorar com mais força no banheiro.

— "Para o Francisco, deixo a quantia adequada para duas bolsas de estudo para os seus dois filhos, juntamente com um curso técnico da sua escolha para você." — O curso técnico também é novidade para mim.

O Francisco não chora, mas fica imóvel e com a boca bem aberta, já sua mulher está chorando. Ele se levanta e abraça nos três e nos agradece sem parar. Eles vão embora.

— "Para o Ricardo Braga, deixo um imóvel comercial no bairro da República."

— Não ... Gigi? O quê? Como? — ele olha, ora para mim, ora para o Carlos, seus lábios alargam e contraem sem parar.

— Aquele imóvel é seu. — Digo emocionada.

— Giovanna! Eu ... Meu Deus! Não precisava ... meu Deus! — ele vai até mim e me abraça — Obrigado, querida! Você é um anjo, meu Deus, desculpa, estou sem palavras.

— Tudo bem, você merece seu café na República.

Ele me agrade mais uma vez e volta a se sentar ao lado da Bia, que está aos prantos.

— "Para Beatriz Amorim, deixo uma quantia adequada para uma bolsa de estudos, junto com um Voucher especial no Nannai Resort & Spa." — O voucher também é novidade, eu havia mencionado a ele que estava a ajudando com uma viagem, ele lembrou!

Como esperado, a Bia fez o maior escândalo, em um bom sentido, bem Bia. Abraçou todos da sala, me abraçou e me beijou umas cinco vezes, e me agradeceu inúmeras vezes, sem contar no chororô. O bom que eu parei de chorar para rir.

Queria está presente quando ela for para esse Resort, ela vai surtar, vai se achar a verdadeira estrela. Como eu amo essa doida.

— Bom, agora nos restam vocês duas. — Carlos diz, se referindo as mães do Gabs e Zica. — "Para Maria de Fátima Alves e Linda Lin, deixo suas casas em seus respectivos nomes, deixo também um imóvel comercial no bairro da Mooca, juntamente com um capital para iniciarem o restaurante que vocês tanto sonham." — O capital para o restaurante é novidade para mim — O Nicolau também deixou seis envelopes, um para a Fátima, outro para Linda, Renan Alves, Gabriel Lin, José Ricardo e Pâmela Albuquerque.

Ele entrega os envelopes, os meninos me olham desentendidos e eu retribuo o olhar, também não sei do que se tratam.

A Dona Linda chora discretamente, já a dona Fátima, ela não chora, mas ri enquanto agradece olhando para cima e depois para mim. Dessa vez, eu que me levanto e vou até elas para abraçá-las.

O Carlos combina um horário com cada um para tratar das papeladas e tudo mais, e depois vai embora. Assim como eles, eu também tenho a minha reunião, mas pelo menos eu sei de praticamente tudo que ficará em meu nome.

A Dona Fátima não deixou ninguém abrir o envelope, diz que é falta de respeito e tem que ser aberto quando estiverem sozinhos. Quis contestar, pois, estou curiosa, mas ela tem razão.

Depois levamos meu pai para ser cremado.