10:15
Merda, merda, e mais merda! Dessa vez eu estou ferrada!
Caio da cama, literalmente, em desespero, vou até o colchão do Carioca, mas ele não está lá. Espera, não, ele não faria isso, ele não pode ter ido à escola e não ter me chamado! Eu vou matar esse menino!
Pego meu celular para ligar para ele e tem uma mensagem dele, na verdade, um áudio: "Eu sei que tu tá pensando em mil maneiras de me matar, mas tu precisava dormir, então conversei com a minha mãe e ela fez um atestado para você, portanto, tu teve uma cólica aguda e está de cama, já deixei o atestado na secretaria e tu não vai pegar nenhuma detenção, pode voltar a dormir."
Por mais que minha vida tenha virado de cabeça para baixo neste um ano, tem momentos, como este, que eu me sinto extremamente sortuda por ter amigos tão maravilhosos e por seus familiares me tratarem como se eu realmente fosse da família. Mandei uma mensagem em agradecimento e voltei a dormir.
Acordo com os meninos pulando em cima de mim, eu dormi muito mais do que devia.
— Bom dia, bela adormecida! — fala o Zica me encarando com seu sorriso de sempre. Ele tem um sorriso tão largo que às vezes acho que ele tem mais dentes que o normal.
— E aí gente, — falo enquanto me sento na cama ainda sonolenta — perdi muita coisa hoje?
— Nada, só revisão de prova. — Responde Gabs, com cara de entediado.
— Está melhor agora? — pergunta o Carioca.
— Bem melhor! Sua cama é maravilhosa!
— Ela fica melhor comigo nela. — Me provoca, como sempre.
— Nah, não achei não! — entro na provocação também.
— Beleza, mas agora sério, vamos comer? Estou morrendo de fome! — Zica reclama, mas ele está sempre com fome, ele é daqueles que morre de comer e não engorda, dá raiva até.
— Como sempre, né? — provoca Carioca. — Vou ver se o almoço está pronto. — Diz e sai do quarto.
— E eu vou tomar um banho! — aviso enquanto me levanto.
20:15
— Mano, não dá mais, já cheguei no meu limite, se eu ouvir mais alguma coisa sobre genética eu me mato! — reclama Zica apoiando sua testa na bancada do Fargo.
Ele fecha o livro e desamarra o cabelo, ou seja, ele desistiu real de estudar. Não sei o porquê, mas sempre que o Zica quer se concentrar ele amarra o cabelo dele, é todo um conjunto, ele amarra o cabelo, franze a testa e faz um bico de lado, pronto, quando ele está assim, significa que ele está totalmente concentrado. Ele fica bonito desse jeito, gosto quando ele amarra os dreads dele e fica compenetrado, parece que ele envelhece uns 5 anos, fica com cara de mais responsável, porque quando junta o dread solto e seu sorriso largo, ele tem cara de menino, se bem que eu acho que é por conta do seu ar de galã. Seu sorriso é lindo, é o mais bonito dos três, e é tão branco que contrasta com a sua pele preta e reluzente.
— Também desisto, biologia não é comigo! Como você consegue gostar dessa matéria horrorosa? — pergunto para o Gabs, mas eu já sei a resposta.
— Porque eu quero ser médico. — Responde bem seco, pensando que esquecemos, mas isso é meio impossível, desde que o Gabs era pequeno, ele sonha em ser médico. Na real, foi quando sua mãe sofreu um grave acidente quando ele era mais novo e se não tivessem a levado às pressas para o hospital ela não teria sobrevivido, a partir daquele dia ele se encantou por medicina.
— Não vejo a hora, aliás, sua especialidade tem que ser dermatologia, em um ano minha pele envelheceu 3 anos, sabe, assim não dá. — Brinco com ele.
— Então quando eu terminar a residência em dermatologia sua pele vai estar de uma senhora de 80 anos. — Me zoa.
— Aff, aí também não é pra tanto.
— Será? — Ele me dá um sorriso de atiçado. — Mas sai fora, quero ser cardiologista.
— Cirurgião cardiologista. — Fala Zica soando entediado. — Todos nós já sabemos.
— Vai a merda! — responde Gabs empurrando o Zica.
— Oh Gigi, você podia fazer um misto pra gente, hein? — pede o Zica.
— Morto de fome! Mas é uma boa, estou com fome também.
Os deixo sozinhos no balcão e vou fazer a nossa comida, mas na hora entra mais dois clientes, e eu vou atendê-los. Como os pedidos dos clientes eram grandes, demorei meia hora para terminar os deles e o nosso, já estava desmaiando de fome, assim como os meninos.
— Mano, o Carioca nessas horas deve estar se pegando com a Lia e a gente aqui comendo misto. — Fala Zica desanimado, a Lia é a garota dos sonhos deles dois, mas acabou que ela se interessou pelo Carioca, só que nada mudou entre os dois, era até engraçado ver a disputa deles por ela.
— Ele está estudando biologia, na prática. — Fala o Gabs e começamos a rir.
— Deixa ele, está apaixonado. — Falo e na hora lembro do começo do meu namoro com o Victor ... credo.
— Apaga essa cena aí. — Gabs me provoca, ele sabe que eu pensei no Victor pela minha careta.
— Deletada. — Digo.
Quero o Victor onde ele está agora, no passado, no qual eu era a Giovanna Volkov, uma adolescente rica que morava com o pai em seu casarão no alto de pinheiros e que sua mãe morreu quando tinha 5 anos e namorava o garoto que paga de galã no colégio. Agora essa Giovanna não existe mais.
Desistimos de estudar e ficamos conversando sobre as férias, o Zica vai para o litoral do Para, que é onde a maior parte da sua família mora, ele adora passar as férias lá. O Gabs vai para o interior do Mato Grosso do Sul, ele não gosta muito, mas é onde o pai dele mora, sempre fala que o fim do mundo é lá, para chegar na cidade é mais de 24 horas de ônibus, o sonho dele é ser rico só para ir de avião até lá, o José vai para Rio de Janeiro com a família também. Sou a única que ficará aqui, trabalhando todos os dias.
O Gabs, assim como Zica, é bolsista, a mãe do Zica é a chef do refeitório e a do Gabs trabalha na secretaria do ensino infantil, os dois moram no mesmo prédio na Mooca. Morei com eles, quando sai de casa, uma semana em um e outra semana no outro, por dois meses até conseguir uma vaga aqui no Fargo. Amo tanto as mães deles, a Dona Lídia, mãe do Gabs é bem-educada, correta, e cuidadosa, uma típica japonesa, o Gabs brinca que na vida passada ela foi uma grande rainha, já a Dona Fátima é extrovertida, gosta de uma boa bagunça — principalmente um bom brega — e parece que desconhece a palavra tristeza, o mais engraçado é que às duas são melhores amigas.
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Segunda Chance
RomanceAo descobrir um segredo que seu pai guardara por anos, Giovanna sai de casa, com apenas 16 anos. Após um ano do ocorrido, ela ainda tem dificuldades em retomar sua vida, que antes glamourosa, agora mora em um depósito de uma cafeteria, a qual trabal...