47 - Impulso

7 3 0
                                    




A porta abre e minhas esperanças de ser salva pela Lia ou Carioca sobem, mas no mesmo segundo elas são levadas pro subsolo.

Me levanto impaciente com a perseguição dele.

— O que você quer comigo? — pergunto irritada com essa pertinência dele.

— Só queria acertar as coisas com você. — Ele parece magoado.

— Por que essa insistência?

— Velho, eu gosto de você na minha vida, não queria perder você, ainda mais por algo idiota que eu fiz. — Ele fala rápido e nervoso. — Me desculpa!

— Já falei para você parar de pedir desculpas, eu não tenho que perdoar você ou te desculpar por nada, você não tem culpa de eu estar assim. — Merda, não deveria ter falado isso.

— Cacete, então por que você está me tratando assim? — quanto mais irritado ele fica, mais minha raiva aumenta.

— Porque... porque eu... porque eu sou uma idiota, porque eu me apaixonei por você mesmo sabendo que eu não deveria, mesmo sabendo que não daria certo, mesmo sabendo que vou quebrar a cara! Por isso que estou te tratando assim! Feliz?! — não acredito que eu fui capaz de falar isso a ele.

Voltou a sentar no chão e cubro minha cara, queria sumir, não quero ouvir ele falar que não me quer, ou até mesmo sentir seus olhos em mim.

Ele não fala nada, mas sei que ele ainda está no quarto. Se eu não tivesse que passar por ele para sair daqui, eu já teria ido embora para evitar esse constrangimento sem fim.

Por que ele não diz algo para acabar logo com isso?

— Isso não faz sentido — ele finalmente quebra o silêncio.

Oi? Ele acha que eu inventaria isso?

Volto a me levantar na força do ódio.

— Você acha que eu estou brincando? Que eu resolvi tirar a noite para provocar você? O que eu ganharia com isso? — ele é louco?

— Você não gosta de mim. — Ele fala com firmeza, mas magoado, por que ele acharia isso e por que ele ficaria magoado por alguém gostar dele?

— Qual é o seu problema? — pergunto impaciente.

— Você sabe de todos os meus problemas, esse é o problema! Você, você é a única pessoa que me conhece de verdade, você sabe de todos os meus defeitos, você sabe como eu sou com relacionamentos! — ele está triste e com raiva — mesmo sabendo de tudo isso, como você pode estar apaixonada por mim?

— Eu não sei! Eu gostaria de saber, assim como eu gostaria de saber como faz para parar de gostar de você! Só sei que eu estou!

— Como você sabe que isso é paixão e não... sei lá... amizade ou fogo?

Merda, por que foi gostar de alguém que não aceita o amor? Como eu explico que, o que eu sinto, é paixão?

— Eu tenho amigos homens, eu nunca senti meu coração palpitar ou ficar com a barriga doendo, ou ficar nervosa só por estar perto deles. Eu conheço fogo, conheço o Deco, sei o que é olhar para uma pessoa e desejá-la intensamente, desejar o corpo dela, desejar o suor, a pele e somente isso, não desejo saber da vida da pessoa. Eu sei o que é amizade e eu sei o que é fogo, por tanto, sei que o que eu sinto por você é mais do que isso, assim como eu sei que o que eu sinto por você eu nunca senti por ninguém. — Digo mais calma, consigo perceber que ele está confuso.

— E o que se difere? — pergunta confuso, tentando entender o que eu sinto de verdade.

— Eu sinto o fogo, é só olhar para seus olhos que sinto a ardência, tenho sensações estranhas, quando estou perto de você, que eu nunca tive antes. Eu me abro com muita facilidade com você. Sinto vontade de conversar com você, sinto vontade de conhecer você cada vez mais, de saber como você está, de querer ajudar você, sinto vontade de ver você feliz, sinto ciúmes de você com outras meninas, principalmente a Luciana, eu já desejei está no lugar dela, por que assim eu poderia ter você, nem que seja por uns minutos. Mas isso não é saudável, não é isso que eu quero sentir, não é assim que eu quero viver.

A gente fica em silêncio por um tempo, mas dessa vez não é incômodo, é como se fosse um respiro diante de tantos desabafos, de tantas revelações, de tanta confusão.

— Mas... e agora? — ele pergunta perdido.

— Seguimos a vida, você ainda tem os meninos, eles gostam de você.

— Mas não é a mesma coisa! Não quero perder você! Desculpa, sei que estou sendo egoísta, mas... mas nunca achei alguém que eu pudesse falar, desabar... ser eu mesmo sem medo. — Ele está realmente sentido.

— Eu sei, eu sinto o mesmo por você, mas eu preciso esquecer você, eu preciso parar de pensar em você e não tem como fazer isso com você perto de mim. — Consolo ele.

Nunca imaginei que seria eu que o consolaria por eu gostar dele, isso é muito estranho.

— Desculpa, desculpa por tudo, mas obrigado por ter interesse na minha vida, por se importar, por me ouvir, obrigado!

É muito louco ver que no começo ele era fechado, na verdade, ele só precisava desesperadamente de alguém que se importasse com ele.

— Cara, você foi um presente para mim, você me mostrou que eu sou capaz de gostar de alguém, que eu sei o que é gostar, e eu achava que não sabia ou que não merecia.

Ele se aproxima de mim, abre os braços e, como um imã, eu me encaixo no abraço. Como eu me sinto protegida, mas dói, como dói, mas ao mesmo tempo não quero sair.

Ele apoia seu rosto entre meu ombro e pescoço, a ponta do seu nariz torto toca no meu pescoço e é como se todas os nervos do meu corpo começassem a estourar, o arrepio é involuntário assim como o calor que veio junto dele. Isso não é certo, mas eu não tenho forças para me afastar.

Merda, isso está errado, não vai dar certo a gente assim. Ele está traçando um caminho, com a ponta do seu nariz, do meu ombro até a o meu pescoço. Isso é errado, preciso pará-lo, mas não consigo. Ele acabou de beijar meu pescoço? Não, ele não pode ter feito isso! Meu Deus, isso é muito bom, mas é errado! É muito errado!

Ele continua me beijando, subindo cada vez mais... eu preciso pará-lo antes que ele chegue na minha boca, mas... mas eu sou incapaz. Como algo que me faz sentir tão viva pode ser tão errado? Eu sei que vou me sentir péssima depois, mas nesse exato momento eu nunca me senti tão bem, porém, sei que preciso pará-lo.

— Alex — digo baixo e ofegante, assim que ele beija minha bochecha. Seus movimentos são lentos e delicados, e sua boca é quente, sinto a ardência em cada parte que ele beija — isso não é certo. — Digo, esperando que ele pare, mas desejando que ele continue.

— Muito errado. — Sua voz também está ofegante, mas ao invés dele parar ele me dá mais um beijo, quase tocando na minha boca — quer que eu pare?

Ele se afasta alguns milímetros, o suficiente para conseguir visualizar seus olhos, que estão ainda mais intensos do que de costume. Eu não consigo mentir para os olhos dele.

Balanço a cabeça em negação, como resposta para sua pergunta.

Ele me beija, com a mesma intensidade, ardência e firmeza dos beijos que havia traçado no meu corpo. Seu beijo me desperta, me acorda, me levita, como se todos as partes do meu corpo estivessem em repouso e despertassem todas de uma vez, consigo sentir todo o meu corpo, mas ao menos tempo, nunca me senti tão leve.

Nesse momento só consigo pensar em como isso é bom, como eu poderia passar horas, dias e meses o beijando, que não cansaria ... mas o beijo começa a esquentar e suas mãos começam a subir, sei o que vai acontecer depois, e por mais que meu corpo o deseje, eu não posso me permitir ir além de um beijo.

Consigo me afastar dele, mas não consigo dizer nada, e nem ele, só ficamos respirando forte e devidamente afastados um do outro.

Isso foi muito errado. Realizei algo que desejava, foi além do que eu imaginava, porém foi passageiro. Eu queria beijá-lo, mas não só uma vez, queria esse momento sempre. Antes eu desejava sem saber como seria, e já sofria por isso, agora que sei, que senti, que provei... como que apaga da cabeça, do corpo e da boca?

— Acho melhor eu ir indo. — Falo me ajeitando.

— Tudo bem... — ele fala sem olhar para mim — Gigi ... — saio do quarto antes de ouvir o que ele iria falar.

Saio da casa da Lia também, sem minha bolsa, carteira e celular. Preciso andar. Preciso fazer algo que bloqueia os meus pensamentos, preciso, pelo menos, tirá-lo da cabeça, já que eu ainda sinto sua boca em mim.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora