Entro no prédio do terceiro ano como um cão farejador, preciso achar o Alex.
Maravilha, ele está no armário!
— Oi! — faço com o Alex a mesma coisa que ele fez comigo ontem, espero ele fechar seu armário e dou um susto nele, mas ele não se assustou.
— Está com o meu moletom? — pergunta com um sorriso de lado.
— Não. — Respondo com um sorriso provocador, ele me olha confuso.
— Por que não?
— Só devolvo quando você me contar o que a Fernanda contou da minha vida.
— É sério isso? — pergunta impaciente.
— Estou com cara de quem está brincando? — pergunto com uma cara séria.
— E eu tenho cara de amigo da Fernanda? É por causa dela que peguei detenção, se esqueceu?
— Então quem foi? — toda minha confiança foi por água abaixo.
— Quem foi o que, garota? — ele está irritado.
— Quem foi que contou da minha vida?
— Garota, ninguém me contou nada sobre você, para de nóia, o que você esconde tanto?
Agora, sinto que ele está falando a verdade, eu realmente pareço uma noiada que esconde algo supersecreto, mas não tem nada de mais mesmo, eu só moro em um café e tenho um péssimo relacionamento com o meu pai.
Melhor eu deixar esse menino em paz e cuidar da minha vida ... e devolver o seu moletom. Saio de perto dele sem responder sua pergunta.
— Ei! — ele me puxa.
— Preciso entrar! Relaxa, não vou mais encher seu saco. — Me solto, dou as costas para ele e entro na minha sala.
*
No final do intervalo, a Raiza, a secretária, me chama ao me ver subindo as escadas, já imagino que não seja nada bom, nunca é o que quero ouvir.
— Oi, é sobre a minha bolsa? — pergunto, só para não perder o costume.
— Não, Giovanna, você sabe que não podemos dar essa bolsa a você, mas enfim, chamei você para falar da reunião de pais e professores ...
— Meu pai não vem. — A corto para poupá-la de gastar saliva.
— Na verdade, ele vem sim. — Fala bastante convicta.
— Oi? O Nicolau vem? — dou uma risada. — Essa foi boa.
— Ligamos para ele ontem, para informá-lo da reunião, pois sabemos que vocês não moram mais juntos, e ele nos confirmou que virá. — Me comunica toda feliz, como se isso fosse algo bom.
— Eu não sabia que vocês ligavam para todos os pais para informar a reunião. — Falo com sarcasmo.
— Giovanna, nós nos preocupamos com você, você sabe que é totalmente irregular como você está vivendo, se seu pai não se mostrar presente, podemos acionar o serviço social.
Serviço social? Essa escola enlouqueceu! Era só o que faltava me colocarem em abrigo temporário.
— Preocupados comigo? Desde quando? Porque vocês sabem da minha condição há um ano e não fizeram nada, vão fazer agora, faltando menos de seis meses para eu completar 18 anos? — eu explodo de raiva, eles não podem fazer isso comigo.
— Giovanna, por favor, tenta se acalmar. — Ela pede educadamente.
— Me acalmar? Estou tentando me acalmar há um ano, estou tentando entender a minha vida há um ano, estou tentando me livrar desse homem há um ano! Só precisava dessa bolsa, essa maldita bolsa me livraria dele, me deixaria livre! Então se vocês estivessem mesmo preocupados comigo vocês me dariam uma bolsa, mas não, vocês ligam para ele vim aqui na escola, ele vim aqui e ouvir o que os professores têm a dizer sobre mim é a mesma coisa de vocês chamarem uma pessoa x na rua. Ele não faz parte da minha vida, você faz mais parte da minha vida do que ele! — estou chorando, não vi quando comecei a chorar, tem tanto tempo que eu não choro que nem me lembrava mais como era a sensação.
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Segunda Chance
RomansaAo descobrir um segredo que seu pai guardara por anos, Giovanna sai de casa, com apenas 16 anos. Após um ano do ocorrido, ela ainda tem dificuldades em retomar sua vida, que antes glamourosa, agora mora em um depósito de uma cafeteria, a qual trabal...