39 - Domingo de labuta

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Domingo é um dia para relaxar, ficar em casa descansando ou ficar com amigos e familiares, um dia dedicado a fazer vários nadas. Porém, não é o meu caso.

Como não trabalhei sexta, combinei de trabalhar hoje de manhã, pior horário, o Fargo tem brunch aos domingos e é sempre lotado, tanto que é o único dia da semana que tem três funcionários e ainda é pouco.

A boa parte é que passa rápido. Vou para o hospital depois daqui, decidi que quero passar mais tempo com o meu pai, sinto que não posso desperdiçar o pouco tempo que nos resta.

— Por que as pessoas gostam de sair de suas casas em pleno domingo de manhã para tomar café enquanto riem? — pergunto a Bia, nós duas estamos com um péssimo humor.

— Gostaria de saber! Eles não saem sábado à noite? — a Bia saiu ontem e está de ressaca, só assim para ela ficar mal-humorada.

— Provavelmente não! — paro para observá-los, grupos de amigos sentados nas mesas rindo e conversando entre uma mordida e outra — quem consegue ser feliz às 9 horas da manhã ... de um domingo? Sabendo que amanhã é segunda e vão ter que encarar a realidade da vida. — Pergunto, ainda observando a mesa a minha frente, um grupo com três meninas e dois meninos, eles estão rindo desde que chegaram e não pararam de falar nem para comer.

— Pessoas que não saíram ontem à noite, pode ter certeza! — fala enquanto bebe sua terceira xícara de café, que pelo visto não está fazendo efeito.

Para a nossa infelicidade chega mais um grupo de esfomeados: quatro cafés, três cappuccinos, cinco pães de queijo, dois mistos, cinco caprese, dois omeletes tradicionais, três bolos de cenoura e dois muffins de chocolate.

— Saindo mais um café espresso e dois pães de queijo! — Antônio grita do caixa.

— Gigi? — Bia sussurra perto de mim — Eu preciso vomitar! — paro de fazer o café e a encaro assustada.

Ela está pálida e com olheiras gigantes, sem falar na sua de indisposição.

— Corre lá, eu cuido daqui.

Ela corre para o banheiro e eu volto a preparar os cafés enquanto a comida esquenta no forno. Antônio me entrega mais três notas de pedidos. Cristo, para que tanta comida?

— Gigi! — merda! Conheço essa voz, é o Alex.

O que ele está fazendo aqui? Por que ele está fazendo isso comigo? Não quero me virar e encará-lo, mas ele pode desconfiar, não quero que ele perceba que estou chateada com ele. Teoricamente ele não tem culpa, mas estou nervosa e irritada, sei que descontarei a minha frustração nele.

— Oi, Alex — me viro rapidamente com um sorriso em cumprimento, depois volto a ficar de costas preparando os pedidos —, desculpa, hoje está corrido aqui! — termino de preparar os cafés, pego os bolos e os pães de queijo. — Número 37! — grito enquanto coloco a bandeja no balcão e volto a preparar mais cafés.

— Estou vendo, você está sozinha hoje?

— O Antônio está no caixa.

— Eu sei, é que domingo normalmente é duas pessoas preparando os pedidos.

— Bom, você está vendo mais alguém aqui? — pergunto ainda de costas para ele, sei que fui grossa, foi sem querer.

— Não.

— Número 38! — me viro para colocar o pedido no balcão, o Alex está sentado no balcão com uma cara chateada. — Desculpa, está sendo um dia corrido e a Bia, que era para estar me ajudando, está no banheiro vomitando, portanto, estou só e com mil pedidos. — Peço desculpas e volto a preparar mais pedidos.

Enquanto me desculpava quis socá-lo, então é melhor eu ficar de costas para ele. Por que ele foi atrás da Luciana? Por que ele não é a fim de mim?

— Tudo bem, por onde posso começar? — o que ele está fazendo aqui do meu lado? Como ele entrou aqui dentro? — Então, no que posso ajudar?

— Ee ... hum ... — por que eu não consigo falar nada?

— Certo — ele pega o papel do pedido 40 —, você deve está fazendo o 39, então vou fazer o 40, um pão de queijo, dois chai latte e um bolo do dia ... como faz um chai latte? Quem bebe chai latte?

— Thiago. — Merda, só consegui falar isso.

Não gosto da sensação dele tão perto de mim, saber que mesmo tão perto não posso tê-lo. Não posso fazer ele me amar ou até mesmo gostar. Queria não sentir mais nada por ele, mas assim, com ele sendo legal e prestativo, fica difícil, o que dá raiva, por não conseguir desgostar dele.

— Thiago? — ele me olha confuso — você está bem?

— Olha ... melhor você ficar no balcão, você vai me atrapalhar mais do que ajudar, mas valeu a intensão. — Tento responder com educação.

— Mas quero ajudar. — Se ele quisesse mesmo me ajudar, ele sairia da minha vida.

— Então me deixa trabalhar sozinha, eu não pedi sua ajuda, eu não preciso de você e, nesse momento, você está me atrapalhando! Me deixa trabalhar sozinha ... por favor! — Merda, não deveria ter sido grossa, mas a presença dele está me irritando.

— Eu só queria ajudar — ele larga o pedido na bancada —, mas tudo bem. — Ele sai do balcão.

Merda, não quero que ele fique chateado comigo e nem que desconfie de nada.

— Desculpa! — me viro para o balcão, ficando em frente a ele. — É muita coisa acontecendo. Se você quiser ajudar, tenta achar a Bia no banheiro e, se puder, coloca ela no quarto ao lado do banheiro, deixa ela deitada lá.

Ele obedece e vai atrás da Bia, fica um bom tempo com ela no meu antigo quarto.

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