Não acredito que esse dia finalmente chegou! Último dia no Gaya! É uma mistura tão louca de sentimentos, mas nostalgia é a maior deles.
Sinto que estou vendo tudo pela primeira vez, o portão de entrada branco todo descascado, o caminho de paralelepípedo cheio de arbustos nos lados, e o prédio do terceiro ano, todo de tijolos pintados de branco, que ano! Olhando agora, o prédio do terceiro me marcou mais do que o prédio do segundo ano, o terceiro eu fui muito mais feliz, apesar de tudo.
Para honrar meu último dia e a sessão nostálgica, cheguei atrasada de propósito. Tenho que confessar que senti uma saudade do Celso e eu precisava me despedir dele.
— Pensou que iria se livrar de mim? — pergunto com um sorriso travesso.
— Giovanna! Pensei que você tinha esquecido de mim. — Ele implica também.
— Meu último dia não estaria completo sem você! — digo na implicância, mas é verdade.
— Quer saber, hoje não vou registrar seu nome. — Isso é ele sendo legal comigo.
Agradeço e sento no chão ao lado dele.
Espero ele anotar os nomes das pessoas atrasadas para voltar a conversar com ele.
— Então, o que aconteceu, você parou de chegar atrasada? — ele pergunta assim que termina de anotar todos os nomes.
— Me mudei, agora moro com pessoas que me acordam.
— Já está na hoje de aprender a acordar sozinha, não acha? — implica.
— Não! — dou uma risada com careta a ele. — Mas como você está? Vai sentir saudades dessa turma?
Queria conversar com ele, não só por ser meu último dia, mas também para saber como está a vida dele, se ele está precisando de algo. Ele está na lista de pessoas que eu quero ajudar quando receber a herança, por isso, quero saber se, o que eu defini a ele, é o suficiente ou não.
Ficamos conversando até o sinal tocar, sinto que nunca conversamos tanto e de uma forma tão madura, ele é uma pessoa muito legal, da qual eu sempre vou querer o bem.
Aí! Estou muito sentimental hoje.
Como as provas acabaram há um tempo e só tínhamos revisões e testes de vestibulares. Hoje as aulas são livres, cada aluno ficou responsável por trazer algum tipo de comida e bebida. O terceirão do primeiro andar, que inclui a minha sala, sala da Lia e sala da Fernanda, resolveu fazer uma espécie de premiação dos melhores do ano. Juntamos todos na sala da Lia, que é a maior.
A Lia, como uma boa anfitriã, ficou encarregada de comandar o evento, mas antes das premiações, ela fez um discurso intimista, pré colação. Ela lembrou de cada momento marcante que cada um teve, acho que ela é uma das únicas pessoas que conhece todo mundo e que todos a respeitam.
No final do discurso só ouvia choros baixos e soadas de narizes. Até a Fernanda estava chorando.
— Agora vamos para o que interessa, os prêmios! — Fala com empolgação. — Como combinados serão seis prêmios: melhor momento; melhor casal; melhor briga; melhor festa; e melhor comida da cantina. Lembrando que, a votação começou e terminou no primeiro horário e não tinha indicações, ou seja, voto livre. Porém, vamos falar os três mais escolhidos de cada categoria e o vencedor, é claro.
A Juliana, que estava ajudando na votação e na contagem dos votos, entrega seis envelopes para a Lia. Eu acabei não voltando porque cheguei atrasada.
— Vou começar pela melhor comida da cantina! — ela abre o primeiro envelope e pega três papéis pequenos e amassados. — Renan, rufe os tambores! — o Zica começa a batucar a sua carteira com lápis. — Às três comidas mais votadas foram: coxinha, omelete de bauru e folheado de frango ... e o vencedor é ... omelete de Bauru!
A metade da sala vibra e outra vaia, eu sou o da vaia, meu favorito é kibe, porém, entre os classificados, eu fico com o folheado. Não tem nem comparação!
— Agora vamos para melhor festa! — a galera volta a gritar empolgada, podemos não saber quais são os três finalistas, mas sabemos que os três são da casa da Lia. — Ahhh pessoal! — ela faz uma cara de envergonhada seguida de poderosa. — Os indicados são: festa da Lia no começo do ano, a festa do meio do ano e a festa da DJ ... e a festa vencedora é ... a festa da DJ! — todos vibram até a própria Lia. — Lembrando que vai ter uma festa de encerramento, que promete ser melhor que essa!
Pensava que não tinha como fazerem mais barulho, mas eles superaram. Entendo, afinal, quem não gosta das festas da Lia?
Essa eu fiquei dividida entre a do começo do ano e a da DJ, a primeira foi ótima, até porque estava em um momento que eu precisava esquecer de tudo e esqueci mesmo. Já a última foi ótima até certo ponto.
— Agora vamos para o melhor casal! Acho bom eu e o José estarmos aqui! — brinca enquanto abre o envelope. — Certo, os indicados são: Lia e José — ela faz uma cara falsa de surpresa —, Maria e Kevin, e Bianca e Douglas ... e o prêmio vai para ... Bianca e Douglas! Venham até aqui receber o prêmio! — o prêmio é dois bombons serenata do amor.
Óbvio que eu votaria no José e a na Lia, mas a Bianca e o Douglas namoram há anos e, para muitos, eles são a definição de um relacionamento saudável.
— Vamos para a categoria que mais dá ibope! — todos começam a grita "briga, briga, briga" que nem crianças de quinta série. — E os indicados são: Giovanna e Fernanda, Gregory e Daniel, e Victor, André e Alexandre ... e os vencedores são ... Victor, André e Alexandre! — o pessoal retorna a gritar e até mesmo os meninos riem, quer dizer, Deco e Victor, o Alex não está aqui, também não imaginaria que ele viesse.
Fiquei aliviada por não ter sido a "ganhadora", já imaginava que uma das minhas brigas estaria aí, assim como as dos meninos. Em outros tempos eu estaria com cara de merda, mas hoje até dei umas risadas com as indicações.
— E o momento mais esperado chegou! O melhor momento de 2019! O que marcou o nosso ano! — ela tenta imitar, não muito bem, um locutor. — Os indicados são: diretamente do primeiro mês, o dia épico que o Jorge caiu, quer dizer, rolou, escada abaixo levando junto todos que estavam presente na escada, incluído a Amélia — nossa professora de inglês — e sobreviveu para contar história! O segundo indicado foi ... não teve segundo, esse foi unânime!
Com toda a certeza, eu colocaria essa cena, foi a melhor de todas, o terceiro ano todo riu por um mês dessa cena, a escada estava lotada, porque era o horário de saída, e todos estavam presentes para apreciar esse momento histórico.
— Jorge, nosso amado, Jorge! Você gostaria de da seus agradecimentos?
— Bora! — ele se levanta e vai até onde a Lia está — Gostaria de agradecer a todos que eu derrubei por não terem me matado. Ao meu médico que me ajudou com o meu braço torcido e a professora Amélia por não ter me punido.
A sala toda vibra e ri ao mesmo tempo.
Logo que as premiações terminam, começa os comes e bebes. Cada galera forma seu grupo e ficamos conversando, lembrando das memórias desse ano tão louco.
Apesar de tudo, irei sentir muitas saudades desse ano, dessa escola e dessa turma.
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Segunda Chance
RomanceAo descobrir um segredo que seu pai guardara por anos, Giovanna sai de casa, com apenas 16 anos. Após um ano do ocorrido, ela ainda tem dificuldades em retomar sua vida, que antes glamourosa, agora mora em um depósito de uma cafeteria, a qual trabal...