29 - Conversa tardia

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Crio coragem e vou até o seu escritório, a porta está semi aberta, mas bato antes.

— Nicolau? — digo enquanto entro.

Ele está na posição de sempre, sentado na cadeira lendo seu jornal. Logo que falo, ele abaixa, dobra e posiciona o jornal em cima da sua mesa de trabalho, seus olhos estão fixos no meu, como se não tivessem acreditando no que vê.

— Filha, é você? — ele pergunta ainda surpreso, mas sua boca está um pouco esticada, poderia até dizer que é um sorriso.

— Sim, falei que procuraria você. — Falo ainda perto da porta, hesitando em entrar.

— Eu sei, mas não esperava vê-la aqui, — ele se levanta — senta-se aqui, por favor. — Pede, apontando para a cadeira em frente a sua mesa.

Ainda acho estranho ele falar "por favor", já que ele se levantou e pediu com educação, eu sentei.

— Filha, me perdoe, não deveria ter lhe contato sobre minha doença daquele maneira. Foi um equívoco, então estou preparado para qualquer dúvida e argumento que você tiver.

Eu ainda me irrito com a formalidade dele, dá vontade de chacoalhá-lo e pedir para ele parar de ser assim comigo. Não sou um parceiro de negócios, sou sua filha.

— A verdade, é que nem sei o porquê estou aqui, eu não queria está aqui, estar nessa casa me dói. Eu não queria pensar em você, não queria me preocupar com você, mas, infelizmente, estou preocupada. Por que você fez isso comigo de novo? Estava tão bem antes de você aparecer no Fargo, eu consegui resolver minha vida, mas você aparece e me conta que está morrendo, isso não é justo.

— Giovanna, me desculpa, como havia lhe falado, eu acreditava que conseguiria tratar a doença, porém errei, não queria ter lhe contado quando confrontamos por causa da sua mãe, não queria lhe trazer mais raiva. Sei que eu errei e por isso lhe peço perdão.

— Mas deveria, você é meu pai, mas você se esquece disso, não me trata com afeto, carinho e muito menos com honestidade. Você deveria ter me contado sobre sua doença no dia que você soube dela e não no final.

— Eu nunca esqueci que sou seu pai. Sei que errei, mas eu amo você, posso não amar como você espera, fui criado em um família extremamente rígida, por tanto, tenho certa dificuldade em criar uma família de uma forma oposta à minha. Tentei não ser rígido, porém falhei no restante, nunca deveria ter mentido sobre sua mãe, esse foi o maior erro da minha vida, eu falhei como pai.

Odeio chorar na frente dele, mas desde que ele falou que me ama, não consegui segurar. Ele nunca disse que me amava, nunca ouvi ele falar todas essas coisas e, mais uma vez, estou em conflito. Uma parte minha quer acreditar em tudo que ele me disse, especialmente a parte de amar, a outra tem receio de ser mais uma mentira. Não sei o que fazer.

— Por que você está me falando isso só agora?

— Infelizmente, percebi tarde demais o quanto eu errei com você, a única pessoa a qual tenho a obrigação de ser perfeito. Não tenho mais nada a perder.

— Você não tinha a obrigação de ser perfeito, só precisava estar presente, mas você nunca esteve, mesmo quando estava! Você diz me amar, mas como você me ama se você não me conhece? Você nunca se interessou pela minha vida ou pelos meus amigos, a única pessoa que você se interessava era pelo Victor, que aliás, é uma pessoa horrível, então como você fala que me ama se não sabe quem eu sou?

Ele não me responde, apenas me observa com os seus olhos secos e investigativos.

— Você é a minha cara, mas sua personalidade é da sua mãe, e eu amei muito sua mãe. Você está certa, não lhe conheço como gostaria, mas sei que você é corajosa, forte, dedicada e independente. Você abdicou do luxo por não aceitar o que eu havia feito, você trabalha para não depender de mim, você não desistiu dos estudos e do seu sonho de ser arquiteta, e ainda se recusa a herda a nossa empresa, na qual você poderia atuar como uma grande profissional. Tenho que dizer que, você é teimosa e orgulhosa também e, apesar de tudo isso, eu tenho orgulho de você.

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