61 - Banho de água fria

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No elevador do prédio do José, meu celular começa a vibrar dentro do meu vestido. Nesse segundo, toda minha expressão de felicidade misturada com ressaca, some e dá lugar ao medo. Sei que é do hospital, porque habilitei meu celular com um toque especial para identificar quando é do hospital.

Pego o celular com uma leve tremedeira e atendo.

— Bom dia, Giovanna, tudo bem? Aqui é o Dr. Osvaldo.

— Oi, Doutor — não consigo responder sua pergunta e muito menos perguntar algo.

O que eu perguntaria? Se meu pai acordou? Se ele está vivo? Se ele morreu?

— Estou ligando para informar que seu pai acordou, ele continua na UTI, mas como seu estado é crítico, você pode vim visitá-lo, mas aconselhamos que você venha o quanto antes.

— Tudo bem, estou indo agora. — Desligo o telefone sem ao menos agradecê-lo.

Os meninos ficam me observando, esperando alguma reação minha, mas estou sem. Não quero ir assim, não quero ir parecendo uma bêbada, mas não posso demorar, o tempo está correndo.

Consigo explicar tudo o que aconteceu ontem de manhã com meu pai e enquanto eu explico a Camila pede um Uber para mim. Os meninos decidiram ir comigo, ela vai ficar para avisar os pais dela e pegar umas roupas suas para levar para o hospital.

A casa do José não é tão longe do hospital, então conseguimos chegar lá em menos de 15 minutos. Subimos para o andar que meu pai se encontra e vejo o Dr. João na recepção.

Meu pai ainda está acordado, mas não muito consciente e, como ele e o Dr. Osvaldo haviam me falado, não dá para saber por quanto tempo ele ficará assim.

Ele me aconselha a esperar a Camila chegar com roupas novas, não pelo meu estado, mas por questões de segurança e higiene. Ainda bem que ela chega meia hora depois que nós. Corro para o quarto dele para tomar banho e me trocar, tudo em tempo recorde.

O pessoal fica no quarto me esperando enquanto vou com o Dr. João a UTI.

Se antes eu já achava meu pai com cara de doente, hoje se intensificou drasticamente. A cama está toda horizontal, ele está com roupa de hospital e cheio de aparelhos em volta, quase o dobro do que ele usava no seu quarto. O ver assim é um soco no estômago, estou completamente acordada e todo meu corpo está contraído, estou com muito medo.

— Pode entrar, mas você só pode ficar por meia hora, depois de um intervalo, você pode voltar por mais meia hora. — O Dr. João avisa.

Eu não entro, só o observo de fora do quarto. Eu não quero isso, eu não quero me despedir dele, não quero que ele morra, eu só quero que ... eu só quero que isso seja uma mentira dele, um teste, ou algo do tipo, qualquer coisa, menos que isso seja a verdade.

— Giovanna? — ele me olha sério e coloca sua mão no meu ombro. — Você quer sentar e esperar um pouco?

— Diz que é mentira. — Digo com uma voz falha.

— Desculpa? — pergunta desentendido.

— Me diz que isso tudo não passa de uma mentira que me meu pai pediu para você contar para mim. — Minha voz continua falhada, mas está cheia de ódio. — Me diz que é zoeira, que ele está bem, que isso tudo não passou de uma brincadeira! Me diz! Eu aguento viver a minha vida toda com raiva dele, mas contanto que ele continue vivo e bem. Eu não vou brigar com você, pode me dizer a verdade. — O meu ódio vira desespero.

— Giovanna — ele coloca as duas mãos no meu ombro e segura bem firme —, eu entendo sua negação, eu entendo sua dor e sua raiva. Gostaria muito de dizer que isso tudo não passa de uma brincadeira de muito mal gosto, mas eu estaria mentindo. Sei que é pedir muito que você aguente por mais um tempo, mas ele precisa de você agora, e eu sei que você também precisa. — Diz com serenidade e tento me recompor.

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