É estranho como em um dia, uma relação pode mudar drasticamente. Desde que cheguei no quarto do meu pai, eu não senti remorso, ou raiva, ou angustia, senti compaixão e carinho. Ele está com um semblante feliz, mesmo com todos os aparelhos grudados nele, sua voz não é mais contínua, tem sentimento e intensidade nela. Por um minuto, esqueço que ele está com câncer terminal e fico feliz por estar presenciando essa mudança nele.
Pensando bem, estou alegre desde que entrei aqui, isso é certo? Eu deveria estar triste e não alegre, mas ele também está. Como ele consegue estar alegre sabendo que os dias dele estão contados? Se bem que, ele deve aproveitar o restante de tempo que ele tem, no caso, eu também.
— Pai, queria te apresentar aos meus amigos, quer dizer, reapresentar, você aceita? — pergunto um pouco recuada.
Quero que meus amigos vejam como ele mudou, quero que meu pai goste deles e que eles dele. Sei que será impossível eles terem uma relação igual tenho com os pais deles, mas eu amaria ver eles juntos e conversando, ver o meu pai rindo com eles, okay, rindo já é demais, me contento com um sorriso.
— O que você tem em mente? — ele pergunta, diminuindo o som da televisão e me encarando da sua cama.
Eu me ajeito no sofá, tento conter a empolgação.
— Nada de mais, só trazê-los aqui para você conhecê-los de verdade, eles são minha família também.
— Se eles não se incomodarem com um quarto de hospital, eu ficarei contente de conhecê-los. — Ele diz com um sorriso genuíno.
Como sonhei com um momento desse, com o meu pai se interessando pela minha vida e pelo meus amigos, isso é um sonho!
— Obrigada! — não consigo conter minha empolgação, levanto do sofá e me sento na ponta da sua cama — Eles são maravilhosos, você vai amar, não sei se você se lembra deles, são três: José Ricardo, Gabriel e Renan, mas o José todo mundo chama de Carioca, o Gabriel de Gabs e o Renan de Zica. Os pais do Carioca são médicos, eles já me ajudaram algumas vezes. O pai do Gabs mora no Mato Grosso, ele é agrônomo, e a mãe dele trabalha na área infantil do Gaya. A mãe do Zica também trabalha do Gaya, mas ela é a chef da cantina, a comida dela é maravilhosa, o pai dele mora no Pará. O Gabs e o Zica moram no mesmo prédio, eu moro com o Zica, tinha um quarto vago lá e eles me chamaram para morar com eles. Claro, eu ajudo na despesa da casa, a Dona Fátima não quis aceitar, mas eu fiz questão, ela é um amor, uma verdadeira mãe ... — eu me empolguei tanto que comecei a falar muito rápido, ele provavelmente não deve ter entendido nada. — Desculpa, fiquei muito empolgada. — Falo sem graça, ainda falta intimidade na nossa relação.
— Por que você não convida a Dona Fátima também? Eu adoraria a conhecer e agradecê-la por cuidar de você.
É sério isso? Ele quer conhecer a mãe do Zica?
Como uma frase tão simples pode iluminar um dia inteiro?
*
— O que vocês acham? — pergunto, com o sorriso mais largo que consigo, se o Zica e a Dona Fátima topam conhecer meu pai.
— Será um prazer, minha querida! — Dona Fátima fala e em seguida me abraça.
— Obrigada! — agradeço-a abraçando mais forte.
— Eu também estou dentro, hospital de rico deve ter comida boa, né? — Zica fala e sua mãe dá um tapa em sua cabeça.
— O Renan tem que ir mesmo? — ela pergunta brincando.
— Pensando bem, melhor ele ficar aqui, né? — brinco também.
— Sai fora vocês, vou no Gabs contar, vamos Gigi!
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Segunda Chance
RomanceAo descobrir um segredo que seu pai guardara por anos, Giovanna sai de casa, com apenas 16 anos. Após um ano do ocorrido, ela ainda tem dificuldades em retomar sua vida, que antes glamourosa, agora mora em um depósito de uma cafeteria, a qual trabal...