As férias eram para ser algo bom, tranquilo e divertido, mas não está sendo nada disso, estou totalmente sozinha aqui, os meninos viajaram e só voltam quando começarem as aulas. Como estou sozinha, decidi trabalhar mais para conseguir mais dinheiro, ou seja, estou trabalhando 10 horas por dia, todos os dias. É cansativo, mas pelo menos eu não fico só e quando fico, eu saio para correr, que é quando coloco meus pensamentos no lugar.
Eu até gosto de ficar sozinha e tudo mais, porém, meu quarto não é necessariamente um bom quarto, na real, nem é um quarto de verdade, é um depósito de papeladas. Resumindo, é um mini quarto com vários armários de metal desbotado, com uma janela que entra pouquíssimo sol e quase nada de vento — graças a Deus estamos no inverno —, um colchão em cima de um móvel de madeira que eu uso como guarda roupa e uma cadeira e mesa de plástico de marca de bebida que uso como minha mesa de estudo, esse é o meu quarto, e está longe de ser o meu quarto ideal, então eu evito ao máximo ficar muito tempo nele.
A minha antiga vida era um sonho de princesa, viajava todo ano, todo mês havia algum evento importante que eu tinha que ir toda bem vestida e me portar como uma garota extremamente educada e interessante. Minha casa era gigante, meu quarto era perfeito, tanto que, é o que eu mais sinto falta. Ele era a minha cara, era como se lá fosse meu porto seguro, fosse meu escape da sociedade que eu vivia. Foi difícil essa mudança drástica de ambiente, ainda tenho dificuldade de me acostumar, mas não seria capaz de voltar para minha vida de antes, essa pode ser mais difícil, mas é melhor.
Hoje, meu pai me ligou pedindo que eu vá até ele, quer dizer, ele não sabe pedir, ele só sabe mandar, simplesmente disse que as 20 horas era para eu encontrá-lo no seu escritório. Infelizmente, tenho que ir, querendo ou não ele paga a minha escola, e ele faz questão de sempre me lembrar isso quando eu nego, portanto, tenho que ir. Vejo ele normalmente de três em três meses, que já é mais do que o suficiente para mim.
— Ei, já passou do seu horário, vai se arrumar, se você aparecer assim seu pai tem um infarto. — Adverte a Bia, ela sabe de toda a minha história.
— Minha vontade era de aparecer desse jeito mesmo e ver aquela cara de desgosto dele. — Falo e dou um sorriso ao imaginar essa cena, eu de uniforme na sua sala presidencial.
— Você quer mesmo ser deserdada.
— Queria mesmo, já pedi isso a ele, só falou um "jamais", nunca que ele faria isso, imagina alguém descobre, seria muita humilhação pro pobre coitado. — Digo em um tom sarcástico.
— Louca! — ela me dá uma risada. — Mas você está bem com isso? De ir ver ele.
— A verdade é que eu estou, em seis meses eu vou estar livre dele, então tudo bem aturá-lo algumas vezes.
— É um bom pensamento! Então vai logo, anda! — ela começa a me bater com uma toalha de cozinha até eu sair de trás do balcão.
Falta 15 minutos para as 20 horas e já estou em frente ao seu prédio, estou observando ele há uns 10 minutos. É mais um dos mil prédios chiques e modernos da Faria Lima. Lembro quando ele me mostrou a planta, lembro dele sendo construído, lembro da inauguração, enfim, lembro de tudo, mas, ao mesmo tempo, parece que estou vendo-o pela primeira vez, como se ele não me pertencesse mais, não temos mais um vínculo.
— Francisco! — falo um pouco alto e empolgada quando eu entro no prédio e vejo que é o Francisco que está na recepção, tão bom saber que ele continua aqui, sei o tanto que ele precisa desse emprego. — Como você está?
— Giovanna? Quanto tempo! — diz com um largo sorriso, um sorriso tão brilhoso quando sua careca. — Tão bom te ver!
— Digo o mesmo! Como está sua família?
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Segunda Chance
RomanceAo descobrir um segredo que seu pai guardara por anos, Giovanna sai de casa, com apenas 16 anos. Após um ano do ocorrido, ela ainda tem dificuldades em retomar sua vida, que antes glamourosa, agora mora em um depósito de uma cafeteria, a qual trabal...