22 - Visita

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Durante o meu trabalho, recebo uma ligação do meu pai, estava demorando para ele ligar, pelo menos ele foi mais tranquilo, pediu para eu aparecer ainda essa semana no escritório dele, sei que vou enrolar até a última hora para ir vê-lo.

Sempre que ele liga ou quando eu o vejo, meu dia fica ruim, ele tem esse dom de estragar meu dia. Ele me desperta sentimentos ruins, muitas vezes eu me sinto mal por odiá-lo, por odiar o único parente que tenho, mas eu o odeio, por culpa dele eu não tenho mãe, por culpa dele eu não tive uma família, por culpa dele eu não sei amar. Tenho tanto medo de me tornar parecida com ele que, quando tenho algum sentimento ou atitude ruim, entro em paranoia por pensar que estou ficando parecida com ele, não quero isso.

Antigamente, quando eu gostava dele, todo mundo dizia que éramos parecidos, pois, fisicamente, somos de fato, como ele mesmo dizia todo orgulhoso "você é uma verdadeira Volkov" como se isso fosse algo para se orgulhar, mas eu me orgulhava, não sei o porquê, talvez porque o fazia feliz. Agora, eu não vejo conexão com Volkov, muito menos com Venturini, afinal, pelo menos sei quem é meu pai, mas não faço ideia de quem é minha mãe.

— Giovanna? — Thiago me chama.

— Oi, desculpa, viajei. — Dou um sorriso sem graça para ele. — Vai querer um chai latte?

— Dois e um bolo do dia ... e um pão de queijo.

Deveria existir um cartão fidelidade aqui, ia ser bom para o Thiago, ele está sempre no Fargo. Preparo seu pedido e o chamo quando finalizo. Como hoje é segunda o movimento é baixo, mas o Thiago vem todos os dias, hoje ele está com a namorada.

— Giovanna. — É o Alex.

— Alex, e aí, tudo bem? — falo com um sorriso simpático, sinto que gosto dele ... como amigo.

— Tudo bem e você?

— Também! — minto. — Vai querer o quê?

— Um expresso duplo e dois pães de queijo. — Já me entrega uma nota de 20 reais.

— É pra já. — Dou o troco e realizo seu pedido, enquanto ele se senta no balcão.

Finalizo e entrego a ele.

— E aí, veio para mais uma consulta, né? — implico.

— Lá vem. — Sorri enquanto revira os olhos.

— Ah! Vai, meu dia está uma merda, me dá essa alegria. — Peço com uma cara de pobre coitada.

— Você acabou de falar que você estava bem.

— Menti, meu pai me ligou, sempre que ele liga fico na bad, então, por favor.

— Mas, você está bem? — agora ele parece preocupado.

— Hum, depende de você.

— Velho, você não desiste mesmo! O que você quer saber? — ele tenta parecer irritado, mas  sorri.

— Se você tentará se abrir mais com a Luciana. — Atiço.

— Mas para que eu faria isso? — merda, começou com sua cara de desentendido.

— Para você ver que você pode se apaixonar.

— Eu não quero me apaixonar, estou bem como eu estou. — Diz convicto.

— Você é impossível! — digo um pouco irritada. — Por que você é tão fechado?

— Não sou fechado, só não saio falando da minha vida. — Rebate.

— Okay, então quando você está estressado, ou com raiva, ou extremamente feliz, com que você conversa?

— Com ninguém! — fala, como se isso fosse algo normal.

— Como assim com ninguém? E seus amigos?

— Eu só tenho um amigo, mas ele mora no interior agora e também não sou de ficar falando da minha vida amorosa com ele.

— Cara, isso vai te consumir, você tem que colocar os sentimentos para fora, isso vai te fazer bem.

Na verdade, fico com um pouco de pena dele, sei que é horrível sentir isso pelos outros, mas sinto. Ele deve ser muito sozinho, eu não saberia o que fazer sem meus amigos. Ele precisa de amigos urgente.

— E você quer que eu desabafe com você?

— Com quem você quiser, pode ser comigo, mas pode ser com a Luciana também.

— Isso não vai rolar. — Ele balança a cabeça em negação.

— Por que você acredita que não pode ter nada sério com ela?

— Porque não! — fico o encarando seria, sou boa em encarar, ainda mais os olhos hipnotizantes do Alex, eu não cansaria nunca de encarar seus olhos. — Porque é só físico. — Fala um pouco irritado por ter que dizer isso.

— Como você sabe que é só físico se você não tenta falar com ela?

— Porque eu não tenho vontade de falar com ela, desculpa, mas essa é a verdade. — Ele fala rápido.

— Mas, você não sente que ela possa estar desenvolvendo um sentimento a mais por você e que provavelmente você não conseguirá retribuir?

— Sempre deixei claro que não quero nada sério.

— Ah, como se isso fosse impedir os sentimentos das pessoas.

— Mas fui honesto.

— Eu sei, mas ela pode acabar se apaixonando, só isso.

— As pessoas não se apaixonam por mim. — Ele fala sério, fico feliz que ele desabafou, mas, ao mesmo tempo, fico preocupada, por que ele acharia isso? Ele é lindo!

— Por que não? — instigo.

— Eu melhorei, melhorei mesmo, mas continuo arrogante, continuo cético, continuo com ódio e descontando em quem não merece, não acredito que exista algo bom em mim.

Como eu quero socá-lo por pensar isso dele mesmo.

— Alex, para com isso! Você já me ajudou várias vezes, você é uma pessoa boa e, acredite, eu sei o que é ser ruim, e você não é. — Tento consolá-lo.

— Você não sabe o que se passa na minha cabeça.

— Não sei, mas suas atitudes não condizem com o que você está falando de si mesmo. — Por que ele pensa isso dele?

— Não ... olha, eu tenho que ir, valeu.

Conversar com ele me deixou melhor, gostei que consegui fazer com que ele desabafasse, mas fiquei preocupada com ele.

Quando chego em casa, o Gabs e sua mãe também estão lá. A tia Fátima fez um banquete, pensei que era alguma comemoração, mas ela só estava inspirada hoje. Poderia ficar horas vendo essa cena de família feliz jantando na mesa enquanto conversam e riem, isso é tão especial e tão simples, mas, ao mesmo tempo, é algo tão distante da minha antiga realidade que ainda acho estranho vivenciá-la.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora