57 - Colação

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— Como está ficando? Eu quero bem simples, nada exagerado! — Digo pela milésima vez a Carol.

— Se você me disser mais uma vez que quer simples, eu coloco um neon na sua cara! — Carol briga comigo.

Hoje é a nossa colação e combinei de me arrumar na casa dela, só que ela se empolgou e quis me maquiar, porém, tenho certeza que ela já se arrependeu.

A Carol é a menina mais autêntica que eu conheço, suas maquiagens são sempre coloridas e divertidas, além de muito bem feitas. Acho lindas, mas não sei se combina comigo, sou mais uma pegada de gótica suave.

Depois de encher a paciência dela, a maquiagem está pronta. Está a minha cara, bem suave e discreto, mas ela deu um toque a lá Carol e colocou um delineador bem fino em vermelho, que apesar da cor forte, não ficou chamativo e ainda destacou meus olhos. Essa menina é uma gênia!

— Carol! Eu amei! — abraço ela em agradecimento — Você leva muito jeito para isso!

— Obrigada! — ela faz uma cara de envergonhada, mas é só brincadeira. — Mas fique sabendo que eu desisto de fazer futuras maquiagens em você! — diz com um sorriso implicante.

— Aff! — reviro o olho implicando. — Então, vamos nos formar? — respiro fundo.

A verdade é que estou ansiosa para esse momento, não pelo fato de estar me formando, mas por não ter ninguém da minha família para me apoiar.

Sei que a Carol me chamou com as melhores das intenções, mas eu sinto que estou interferindo no momento família dela, assim como estaria interferindo no Zica, se eu fosse com ele.

A família do interior dele e a do Gabs vieram para a formatura, por causa disso estou na minha casa nova e os meninos também, para ter espaço para as visitas nas suas casas.

Por mais que eu esteja em uma fase, na qual estou me aceitando e me entendendo, eu ainda sinto uma ponta de inveja desses momentos de família.

Tenho um tempo que estou colocando na minha cabeça que, tudo bem eu entrar sozinha, não há nada de ruim nisso, mas ainda sinto pontadas na barriga quando penso em fazer o caminho sozinha. Não sinto vergonha por entrar desacompanhada, nem medo, o que sinto é falta, falta de um pai ou de uma mãe do meu lado, na verdade, é mais ausência do que falta.

Por mais que eu ame o meu pai, ele não acompanhou a minha vida escolar, ele não acompanhou a minha vida em si. Mesmo se ele me acompanhasse hoje, ele não se emocionaria, ele não teria o sentimento de orgulho, de lembranças minhas da escola, dos meus amigos, dos meus problemas e do meu amadurecimento. Não temos passado, só temos o presente, e é essa ausência que eu estou sentido.

Assim que chegamos na escola, nos separamos, cada turma entra em uma área específica para nós vestirmos e tirarmos as fotos. A minha sorte é que os meninos me esperaram para fazermos as fotos juntos. Eles estão tão lindos!

Infelizmente, estou dominada por uma certa melancolia, que me impede de estar cem por cento presente nesse momento que tanto esperei. Mas esse sentimento é maior que eu, não consigo tirá-lo de mim.

Depois de alguns minutos, nos avisam que devemos fazer uma fila em ordem alfabética para nos prepararmos para entrar e que os pais devem se juntar aos formandos.

Vejo entrando a Fátima, Linda e Pâmela, às três estão maravilhosas! Todas elas me dão um super abraço. Elas sim acompanharam meu crescimento escolar.

— Gigi, querida, você sabe que o Maurício ficaria honrado em te acompanhar, não sabe? — diz Pâmela, a mãe do José.

— Eu sei, eu também ficaria honrada, mas estou bem! Obrigada! — Dou mais um abraço nela.

O José já havia me falado que o pai dele poderia me acompanhar, mas fico sem graça de aceitar, por mais que eu seja muito grata por ele.

Com todos os pais presentes, a cerimonialista nos instruí como vai ser a entrada. Seremos os terceiros a entrar.

— Achou mesmo que eu deixaria você entrar sozinha? — O Rick me surpreende.

— O quê?! — Falo mais alto do que deveria.

Estou em choque! O que ele está fazendo aqui? Como ele sabia? O que está acontecendo?

Posso não saber o que está acontecendo, mas meu sorriso está cada vez mais largo. Não estava esperando por essa surpresa.

Ele me abraça e eu o abraço com mais força. Não consigo formular nenhuma palavra.

— Ainda está precisando de um acompanhante? — Ele pergunta com seu sorriso provocador.

— Ricardo! — ainda estou em choque — Rick, não estou acreditando.

Como esperando, não consegui conter minhas lágrimas. Abraço ele de novo.

— Para de chorar, senão eu vou me sentir muito importante. — Ele implica. — Além do mais, vai borrar sua maquiagem.

— Não vai, é a prova d'água. — Digo enquanto limpo as lágrimas do meu rosto. — Obrigada!

— Imagina, não iria perder esse momento tão importante seu, ainda mais quando fiquei sabendo que você não tinha acompanhante.

Fico o observando, como se fosse a primeira vez que eu o vejo, seu rosto iluminado, seu bigode fino, o cabelo com um pequeno topete na frente e raspado nas laterais, os olhos acolhedores e o sorriso de uma criança pentelha. Ele sim estava presente e ciente do que passei nesse um ano e seis meses que estive com ele. Tirando o Gabriel, José e Renan, o Rick é o que mais acompanhou minha vida e meu crescimento.

— Não sei o que dizer, sério, te amo muito! — dou mais um rápido abraço nele.

— A Bia também está aqui, está na plateia ... se prepara que ela comprou esses negócios que fazem barulho.

Meu Deus, a Bia também está aqui? Se eu estava apreensiva com a colação, eu não me lembro mais. Agora sou domada por felicidade e gratidão.

— Seus bestas! — bato de leve no ombro do Gabs, que está na minha frente na fila — Vocês planejaram tudo isso para mim!

— Ai! — ele exagera. — Gigi, estou muito feliz por isso, mas não planejamos nada, pelo menos eu não planejei e nem fiquei sabendo de nada.

— Como assim? — volto a olhar o Rick e depois o Gabs de novo — Se não foram vocês, quem foi?

— Um passarinho verde! — diz Rick, soando misterioso.

Antes que eu possa exigir uma resposta, a cerimonialista chama nossa turma.

O Rick fica comigo até o final, e não tirou nenhuma vez seu sorriso de "pai orgulhoso". Na parte da oradora, na qual a Lia cumpriu lindamente, eu vi uma lágrima correndo no seu rosto.

*

Enfim formada!

A cerimônia, no geral, foi muito melhor do que eu sonhara. Foi perfeita.

A Fátima chamou todos nós, incluído as meninas e o Rick e a Bia, para um jantar na casa dela. Hoje ela preparou a sua especialidade: peixe no tucupi e tacacá. A comida foi tanta que ela teve que dividir entre a cozinha da sua casa e da casa do Gabs, para conseguir fazer o suficiente para todo mundo e no final, não sobrou nada, sendo que todos repetiram o prato.

Hoje foi um dos melhores dias da minha vida. Enquanto estava na casa do Zica com todo mundo, eu esqueci de todos os meus problemas, só tinha felicidade e amor dentro de mim.

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