Antes de descobrir a magia, o mundo oculto e real que existia debaixo dos olhos de cada habitante de Três Luas, tudo era normal. A vida de Mariana era bastante comum na cidade localizada no interior do Rio de Janeiro, mas tudo vira de cabeça para ba...
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O dia mal começou e minha mãe já estava gritando.
Eu ouvia o eco da sua voz pelo andar de baixo, e nem tampando meus ouvidos com o travesseiro o barulho cessava. Caso eu não levantasse da cama naquele exato momento, provavelmente acordaria com uma mãe zangada na frente da minha cama, segurando um chinelo nas mãos. Arma mortal contra filhos.
Bocejei e me espreguicei enquanto levantava da cama aos poucos e me arrastava até o banheiro, um pouco depois do meu quarto. Hoje é domingo, então qual a necessidade de acordar às sete e vinte da manhã? Só havia uma resposta.
Hoje é dia de feira.
Minha mãe adorava ir à feira aos domingos, de preferência, bem cedo, enquanto os legumes e verduras ainda estavam frescos. Dona Helena era cozinheira e confeiteira de mão cheia. Tínhamos um restaurante ativo perto de casa, era bem conhecido por lá, inclusive por turistas. Por incrível que pareça, muita gente de fora visitava Três Luas devido às cachoeiras, árvores, plantas raras e uma floresta muito extensa. Era o interior do Rio de Janeiro, o fim do mundo, e nem era tão famoso assim lá fora. Sempre foi uma cidade tranquila e sem problemas, com poucas pessoas e uma bela paisagem. O lado ruim era que todo mundo se conhecia, então a fofoca rolava muito rápido.
Três Luas nasceu em 1109, bem antes da colonização do Brasil. Tudo começou quando refugiados do país Bengala — que hoje não existe mais, o qual era localizado no Sul da Ásia, desembarcaram em Três Luas. A cidade que sempre foi isolada por montanhas e uma enorme floresta, fez com que esses refugiados construíssem uma civilização aqui. Então, sem mesmo o domínio indígena, e até a colonização, Três Luas fora a única cidade brasileira que existiu. Depois dos portugueses a cidade foi colonizada, abrindo espaço de Três Luas para o resto do país, sendo também usada para moradia de alguns navegantes que paravam na Costa Lunense.
Visto um vestido confortável de alça fina, com alguns girassóis decorando e um pequeno babado na ponta. Tentei arrumar o máximo que pude os meus cabelos cacheados, os quais fazia uma semana que eu havia os cortado até o ombro. Minha franja rala e ondulada batia na minha testa, mas como eram poucas mechas, não cobria muita coisa. Meu rosto tem algumas sardas, o que particularmente eu não gosto. Não gosto do que vejo no espelho.
Depois de pronta, caminho lentamente até a cozinha para pelo menos comer uma fruta antes de sair. Pretendo convencer minha mãe a comprar um pastel com caldo de cana para mim na feira.
— Bom dia, querida! Achei que eu fosse precisar ir até seu quarto te acordar. — Disse dona Helena sorrindo enquanto terminava de coar o café.
— Eu já estava acordada. — Minto, soltando uma risada fraca de nervosismo. — Cadê o Samuel?