Antes de descobrir a magia, o mundo oculto e real que existia debaixo dos olhos de cada habitante de Três Luas, tudo era normal. A vida de Mariana era bastante comum na cidade localizada no interior do Rio de Janeiro, mas tudo vira de cabeça para ba...
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— Desde quando você descobriu esse lugar? — Pergunto andando entre as pedras, ouvindo o som da água se movimento e da queda d'água não tão longe daqui.
— Às vezes, quando eu queria ficar sozinho, eu vinha caminhar pela floresta. Até descobrir esse lugar e vir aqui sempre. — Ele explica, andando sobre as pedras do outro lado.
— É lindo.
— Eu? Obrigado. — Pedro diz convencido e eu o empurro de leve.
— Idiota. — Rio fraco e paro na frente da água. — Então quer dizer que você vai para San Francisco?
— Se tudo der certo, sim.
— Estou orgulhosa de você. — Ele olha para mim com a sobrancelha erguida.
— Eu também. — Pedro para ao meu lado e olha para a cachoeira. — Você realmente achou que eu estivesse assaltando Três Luas?
— Na verdade eu queria não acreditar, então preferi comprovar te seguindo. — Explico me sentando no chão e tocando a água.
— Você fez o certo. — Pedro admite e me olha, ainda de pé. — Meu pai foi embora quando eu tinha cinco anos... — Ele começa a falar com um pouco de dificuldade, mas logo continua. — Sempre foi difícil para minha mãe ficar sozinha comigo, sem ter familiares por perto. Então ela ia para a zona sul trabalhar como diarista e me levava. Já passou por muita humilhação de gente que se achava maior, gente soberba e racista. Enfim, ela conheceu o meu padrasto e veio morar com ele aqui em Três Luas, e teve a Isabela e a Esther. Só que ele... ele não é uma pessoa boa e minha mãe nunca conseguiu se livrar dele.
— Eu vi as marcas no seu rosto. — Falo me lembrando do dia da festa do pijama, e Pedro volta a falar.
— É, eu passei tempo demais vendo ele fazer isso com minha mãe. Então, entre ela e eu, eu prefiro que seja eu.
Eu já sabia que coisas não muito boas aconteciam com ele. Já ouvi diversos sons de briga quando passei em frente à sua casa, mas nunca soube sua real história de vida. Não soube descrever o que senti naquela hora, mas definitivamente foi uma imensa vontade de tirar aquele cara de lá.
— Eu sinto muito. — É a única coisa que consigo dizer, então sinto Pedro se sentar ao meu lado.
— Relaxa. Eu já me acostumei.
— Uma pessoa não deveria se acostumar com uma agressão. — Afirmo me virando e olhando para ele. — Olha para mim. Você não precisa passar por isso sozinho.
— É que eu sempre passei por isso sozinho. Por que seria diferente agora? — Recebo seu olhar e vejo que a luz da lua sob a água refletia nos olhos claros de Pedro, e eu amava aquilo.
— Porque agora eu sei disso e não vou deixar você sozinho nessa. — Digo tocando levemente uma das marcas que ele tinha perto da sobrancelha, uma cicatriz, e o curando. — Quer entrar na água?