Capítulo 1: Domingão do Faustão

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Assim que chegamos em casa, corri para o banheiro e tranquei a porta

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Assim que chegamos em casa, corri para o banheiro e tranquei a porta. Estava ainda mais calor agora e nem o sorvete da barraca da dona Neide aliviou.

Tomo um banho gelado para refrescar e vou até o quarto, colocando uma blusa de alça fina rosa pastel e um short de pano fresco, com os desenhos de algumas flores. Eu não parava de pensar no que havia acontecido na feira, aquela mulher, aquela sensação... Pego o taslimã e passo o polegar por cima, analisando minimamente cada detalhe.

— Será que é algum sinal?

Minha avó era extremamente supersticiosa. Ela acreditava que colocar a vassoura de cabeça para baixo atrás da porta espantava visita indesejada, ou que a água da primeira chuva de janeiro fazia uma criança falar. Já meus pais eram religiosos, seguiam os princípios cristãos e gostavam de levar uma vida conservadora.

Nem Samuel e nem eu éramos religiosos. Até íamos à Ireja de vez em quando, em festividades, culto da família ou culto jovem, mas eu era aberta a todas as crenças que sabia. Parte da família da minha mãe é umbandista, mas essa é justamente a parte que ela não tem contato. Nem ela e nem nós.

— Oi feia. — Diz Samuel ao entrar em casa, seguido por Pedro logo atrás.

— Igual você, né seu idiota? — Pergunto revirando os olhos e indo até a bancada da cozinha. — Onde está a vovó?

— Ela tá esperando a mãe pra abrir o restaurante. Já limpamos tudo e a Marinete ainda não chegou. — Responde, pegando uma garrafa de água e despejando em dois copos.

Marinete é a assistente de cozinha da minha avó. Ela trabalhava conosco desde quando o restaurante abriu e era bem próxima da família. Pedro, ainda sem falar nada, bebe a água que Samuel lhe entregou como se tivesse voltado do deserto do Saara e passado semanas sem ver uma gota d'água.

— Se eu fosse você eu teria cuidado. O Samuel adora cuspir na água dos outros. — Comento apenas para implicar, vendo Pedro arregalar os olhos.

Eu não tinha uma relação muito boa com Pedro desde que ele me jogou no meio das vacas e disse que eu era capim na viagem para a fazenda no ano retrasado. Também teve quando ele me zoou por meses depois que descobriu que eu tinha um crush no Nicolas, um colega nosso de turma. Ou, quando jogamos queimada na quadra da escola e ele fez questão de ficar no time oposto apenas para acertar a bola em mim toda vez que fosse possível. E foram muitas, inclusive no rosto, que ficou marcado por dias. Eram tantas coisas que eu poderia escrever um livro apenas citando-as.

A campainha da casa toca.

— Atende. — Falo para Samuel, pois odiava atender a porta.

O Legado de Hécate - A Magia das Bruxas [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora