O menino do armário - Passado de Rick

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As noites eram muito mais frias e solitárias, para um menino que foi apelidado de Ricardo, por uma das amigas de sua mãe. Até os seus sete anos de idade, ele nem sequer tinha um registro de nascimento, pois nasceu dentro de um banheiro sujo. A mãe de Ricardo era uma mulher narcisista, prostituta e drogada, que ganhava a vida usando o seu corpo para satisfazer homens solteiros, casados, divorciados, viúvos, jovens e velhos.

Ricardo nunca soube quem é o seu verdadeiro pai, nem a sua própria mãe sabia. Ele era fruto de algum cliente dela, um corriqueiro ou um casual, ninguém sabia na verdade. O que se sabe, é que a mãe dele ficou grávida aos 16 anos de idade, Ricardo nasceu em um ambiente que não era adequado para uma criança. Ele não tinha contato com a escola, com outras crianças ou qualquer coisa que te dava algum tipo de entretenimento saudável. Ricardo passava a noite toda trancado em armários, observando tudo o que a sua mãe fazia.

Ele via absolutamente tudo, como sua mãe agia, como trabalhava e como os clientes eram violentos com ela. Um menino pequeno que foi inserido em um mundo perverso, vendo as piores cenas possíveis e ainda sofria violência física e psicóloga. Certa vez, Ricardo estava brincando em um dos quartos que pertencia a sua mãe no bordel, quando ele percebeu que alguém estava prestes a entrar no local, ele correu e se escondeu em um armário.

Sua mãe entrou no quarto e com ela, estava um homem negro, alto e forte. Eles brigavam:

- Tabata, você devia ser um pouco mais eficiente. Seu rendimento caiu muito e você está perdendo clientes desde da época que engravidou. Se continuar dessa forma, você vai ter que ir pra rua!

- O que você quer que eu faça, Ronny? Aquele garoto fica o tempo todo atrás de mim, os caras se assustam quando percebem que ele está por perto. Eu me esforço o máximo, mas ele parece ser tão dependente de mim. Eu não posso carrega-lo para todos os cantos.

- Escuta só, Tabata. Não me interessa saber nada daquele moleque catarrento! Eu já perco dinheiro tendo que sustentar você e agora eu tenho que me preocupar com uma criança indesejada e fruto de uma puta qualquer! - O homem gritava sem parar e causava calafrios no menino.

- Você acha mesmo que eu desejei isso? Simplesmente aconteceu. - Tabata retruca e acaba ganhando um tapa forte em seu rosto.

- Aconteceu porque você é uma completa idiota! Pegue aquele garoto e faça alguma coisa! Jogue ele na rua, mate ele ou vende, faça qualquer coisa. Só não quero ter que ver a cara dele novamente.

Ricardo saiu do armário chorando, abraçou as pernas da mãe e disse:

- Mamãe, por favor não me mata! Deixa eu ficar com você, mãe? Por favor! - Tabata ficou olhando com cara feia para o menino, mas não disse nada.

- Você não consegue fazer nada, não é mesmo, Tabata? Você tem algum tipo de instinto materno de merda com esse garoto. - o homem debochou da situação enquanto fumava um charuto.

- Ricardo, me solta! - Tabata ordenou, mas ele não quis ouvi-la - Garoto, me larga, porra! - Tabata jogou o menino contra o chão e ele caiu de costas - Eu não tenho tempo para as suas insinuações, Ronny. Resolve isso você, da maneira que achar melhor.

Ela saiu do quarto sem olhar para atrás. Ricardo começou a gritar por sua mãe, enquanto aquele homem via e se deliciava com o seu desespero. O homem se aproximou do Ricardo, tocou em seu rostinho delicado e disse:

- Sua mãe é uma puta de merda, não serve para nada. Sabe por que eu ainda não te matei? Porque eu acho que você tem algum potencial, só preciso descobrir se você é obediente o suficiente. - aquelas palavras invadiram a mente do menino e nunca mais saíram.

Nesse dia o menino Ricardo foi violentado pela primeira vez, pelo tal de Ronny. Além de ser violentado, o homem bateu muito nele e queimou sua pele com as cinzas de seu charuto. A inocência de uma criança foi trocada pela violência, a mãe dele sabia de tudo e não fazia absolutamente nada. Ronny começou a aliciar o menino para outros homens, pedófilos e psicopatas que pagavam altos valores em dinheiro, só para ter a oportunidade de machucar uma criança inocente.

Algumas prostitutas do bordel eram mães e ficavam indiguinadas com o que acontecia, mas tinham medo de ser mortas pelo Ronny. Algumas delas alimentavam o Ricardo, davam banho e até faziam carinho quando ninguém estava vendo, mas o medo da retalhação era maior que o seu próprio caráter. Até que uma das prostitutas do local, chamada Sheila, se revoltou ao ver aquilo tudo acontecer. Ela acabou denunciando o caso a polícia e após uma semana, Ricardo foi salvo e o bordel foi fechado.

Infelizmente após sete meses de sofrimento o pequeno foi resgatado. Sua mãe não foi encontrada no dia em que a polícia invadiu o local, mas o tal Ronny estava e foi preso. Quando o Ricardo chegou ao orfanato, sua pele estava toda marcada pela violência. Ele não acreditava nos adultos, tinha pesadelos contantes, muito pavor de ficar nu na frente das pessoas e se alguém o tocasse, ele gritava e se debatia. Foi difícil para os médicos e enfermeiras cuidarem dele no início, muita das vezes ele foi sedado. Ele estava muito machucado, não só psicologicamente, mas também fisicamente, tinha baixo peso para a sua idade, estava desnutrido, não sabia ler e escrever, ele tinha vários ossos quebrados ou trincados e ele desenvolveu uma dificuldade na fala devido ao trauma.

Ricardo foi tratado com muito carinho, por médicos e enfermeiras. Alexa é a sua psiquiatra desde quando ele era adolescente, foi ela que diagnosticou o transtorno explosivo intermitente ( TEI) no jovem e cuidou de suas questões como ansiedade e estresse pós traumático. Rick, como os colegas do orfanato o chamavam, cresceu com alguns traumas que eram trabalhados aos poucos, mas pode crescer como uma criança normal. Ele começou a estudar e se relacionar com outras crianças no orfanato, até que foi adotado pela senhora Anastácia Almeida.

Na época ela se sentia sozinha, pois a sua filha já havia se casado e a deixado. Ela resolveu adotar uma criança e se apaixonou pelo Rick assim que o viu. Ele por sua vez, demorou alguns anos até conseguir chamá-la de mãe, mas no fim ele entendeu que a palavra mãe significava amor e não dor. Rick se esforçou ao máximo para chegar onde chegou, apesar de todos os seus traumas, ele era um menino extremamente inteligente, principalmente em exatas. Anastácia tinha muito amor e orgulho do filho, ela morreu nos braços dele e não partiu sem dizer o quanto ela o amava, o quanto ele era forte e o quanto ela tinha orgulho de dizer que ele era seu filho.

Rick sofreu muito com a morte da Madame, mas antes de morrer ela o fez prometer que ele jamais desistiria dos seus sonhos e que gostaria de ter netos um dia. Disse também para cuidar muito bem da "garota insolente" e que se o filho a amava, era para ele se dedicar a ela. Ele concordou com essa promessa e mesmo perdendo a mãe, ele consegue sentir a sua presença todos os dias.

O que será que o futuro reservou para o menino do armário?

( Continua)

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