Chuva de lágrimas

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Acordei no outro dia com uma sensação ruim. Nem as piadas da Brenda tinham mais graça, o café do campus estava mais amargo que o normal e voltou a chover na cidade. Minha mente não estava raciocinando direito, nem consegui prestar atenção na aula, me sentei do lado da janela porque me sentia sufocada. Eu realmente não tinha acordado bem.

A chuva caia lá fora. Da janela eu conseguia ver a entrada do campus e o jardim, as gotas de chuva molhavam cada folhinha das árvores e deixa o chão todo escorregadio. Eu tentava prestar a atenção no que o meu professor/pai biológico dizia, mas aquela altura do campeonato, eu só pensava em sair dali. Ouvi um estrondo forte e me assustei, foi provocado por um relâmpago, mas foi tão forte que me assustou. Olhei para a janela e vi o Rick parado na entrada no campus, embaixo da chuva e olhando para mim. Ele estava completamente molhado pela chuva, seu rosto estava vermelho e o seu semblante acumulava uma certa dor.

Nesse momento o meu coração se apertou, me levantei e deixei as minhas coisas ali sobre a mesa. Meu pai estranhou, pois eu nunca me levantei tão de repente da carteira no meio da aula.

- Solange, algum problema? - ele parou a aula e fez todos me olharem, curiosos para saber o que estava acontecendo.

- Peço licença, professor. - me apressei e antes de sair, ele me parou.

- Você está bem? Está passando mal?

- Não se preocupe, eu estou bem. Você pode me dar licença?

- Claro. - ele forçou um sorriso.

- Obrigada. - sai correndo pelos corredores.

Meu coração estava disparado, meu passos eram rápidos e precisos. Só a imagem dele vinha na minha cabeça, o medo foi tomando conta de mim e eu já podia até imaginar o que estava acontecendo. Forcei a porta da entrada e sai em meio a chuva, Rick estava parado de cabeça baixa e a chuva cobria todo o seu corpo.

- Rick? - gritei.

* Rick levantou a cabeça e eu pude perceber que ele não estava bem. Ele caiu de joelhos no chão e começou a chorar alto, igual a uma criança.

- Rick? Meu Deus! - sai correndo em sua direção, me ajoelhei na frente dele - O que aconteceu? Por que você está parado aqui nessa chuva?

- Ela se foi, Sol. Ela me deixou! - Rick desabou em meu colo e soluçou de tanto chorar.

Eu o abracei forte e não pude conter as minhas lágrimas. Anastácia nos deixou, bem mais rápido do que eu pude imaginar. Seu coração fraco parou, e ela partiu sem ao menos nos dizer adeus. O choro do Rick se misturava com pequenos gritos e muita dor, eu não sabia o que fazer, o que falar, só o abracei forte. Aquele chuva estava tão gelada quanto as águas do Alasca, eu só fiquei preocupada com o estado de saúde dele. Ele podia ficar doente e causando um problema maior do que já tínhamos.

- Você precisa se levantar, Rick. Essa chuva, vai acabar te deixando doente. - pedi gentilmente, mas ele não me respondeu - Se levanta, por favor. Vamos sair daqui, tá?

* Rick parou de chorar e foi se levantando lentamente. Ele tentou esconder o rosto, mas eu não me importei com o estado dele, vermelho e inchado de tanto chorar.

- Vamos pra dentro, vem. - o peguei pela mão e fui levando ele para dentro do campus.

Rick não ofereceu nenhuma residência, caminhou de mãos dadas comigo o tempo todo. Eu fui em direção aos dormitórios e rezei para que nenhum supervisor nos pegasse lá. Após chegar no meu dormitório, deixei o Rick sentado na minha cama e fui procurar uma toalha no banheiro para que ele pudesse se secar. Peguei a toalha e coloquei em volta dele, o mesmo estava quieto, de cabeça baixa e já não tinha nenhuma expressão no rosto. Me ajoelhei na frente dele e disse:

- Você está com frio? - fiquei esperando a resposta, mas não a obtive - Eu vou preparar um banho pra você, vai te aquecer.

* Assim que me levantei, Rick pegou em minha mão e balançou a cabeça negativamente.

- Eu vou cuidar de você, não me impeça. - Fui em direção ao banheiro e liguei o chuveiro na água quente.

- Sol? - era a Brenda, atrás de mim - O que está acontecendo? Porque o Rick tá aqui? - ela sussurou.

- A mãe dele morreu. - respondi bem baixinho.

- Que coisa horrível! - Brenda ficou triste.

- Me faça um favor, preciso que nos deixe a sós hoje. Vai para um hotel com a Duda, eu pago a hospedagem. Você faz isso por mim?

- Claro, amiga. - Brenda tocou em minha mão, tentando me passar tranquilidade - Eu recolhi a suas coisas e coloquei todas na mochila, está em cima da minha cama.

- Obrigada. Eu vou pegar o cartão e você pega alguma roupa. - saímos do banheiro e o Rick continuava na mesma posição.

Rapidamente a Brenda colocou algumas peças de roupa em uma mochila. Eu peguei o meu cartão e entreguei a ela, não demorou muito e ela saiu, aproveitei e tranquei a porta para ninguém entrar lá sem avisar.

- Você não precisava expulsar a sua amiga daqui. - Rick resmungou.

- Eu precisava sim, você precisa de privacidade. Se quiser que eu saia também, eu...

- Não! Por favor, não vai. - Rick me olhou, uma lágrima caiu dos seus olhos verdes.

- Oh, Rick... eu não vou a lugar nenhum. - o abracei - Vem, você precisa se aquecer.

Levantei ele, o levei até o banheiro. A água já estava quente, a névoa dela já tomava conta de todo o box. Parei na frente do Rick e comecei a tirar a camiseta molhada dele, o mesmo não tinha muita força, então o ajudei. As marcas do corpo dele foram se misturando as gostas de chuva que ele havia tomado. Mesmo com todas aquelas cicatrizes, ele era lindo, um corpo sexy e másculo. Tudo nele era perfeito, da cabeça até os pés, eu o idolatrava.
Peguei em sua mão e o conduzi até o chuveiro.

- Sol, eu não..

- Você vai sim. - o puxei com força e ele ficou em baixo da água quente.

Comecei a fazer carinho em seus braços, tentando o acalmar. Quando fui tocar em seu peito, Rick segurou com força a minha mão.

- Não faça isso. - ele me olhou com os seus olhos vermelhos e inchados.

- É por causa das cicatrizes? Você tem vergonha delas? - Rick não me respondeu, mas desviou o olhar - Não tenta esconder, eu sei que é isso. Quando você era criança, não tirava a camisa como os outros meninos. Nem quando praticava esportes - segurei o seu rosto e fiz ele me olhar - Eu não me importo com elas, você continua lindo. Essas cicatrizes mostram que você é um sobrevivente e eu admiro você por isso.

* Nesse momento caiu uma lágrima no rosto dele.

- Você é tão boa, eu não mereço estar aqui. - Rick disse baixinho.

- Não diga besteiras.

- Você é muito pra mim, eu não mereço alguém como você. Eu não mereço, eu não mereço, eu... - o desespero tomou conta dele e novamente ele se colocou de joelho no chão.

- Shiiiu... Fica calmo, eu estou aqui. - Fiz ele se sentar e esticar as pernas.

Eu me sentei em seu colo e o abracei com toda força do mundo. Ele estava vunerável como uma criança solitária, a mesma criança que eu vi crescer naquele orfanato. Ricardo Almeida, um sobrevivente da violência e da solidão. 

(Continua)

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(Continua)

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