Lembranças

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Estávamos no último período de aulas da semana. Sexta feira, era um dia onde os jovens estavam de saco cheio, minha cabeça latejava, a matéria estava pesando tanto que eu mal podia suportar. Eu não queria levar bomba logo no primeiro trimestre, mas eu admito que eu precisava realmente de ajuda. Tirei a atenção dos livros e fiquei olhando para o professor Lorenzo.

Ele sorria e explicava a matéria com um tom de voz calmo. Ele era simpático, todos os alunos gostavam dele e do seu senso de humor. Eu pensei na possibilidade de aceitar a proposta dele, já que ele era um homem tão bom e não parecia um psicopata. No final da aula eu fui a última a sair, o professor estava arrumando suas coisas, então resolvi fazer a abordagem:

- Com licença, professor.

- Ah, oi. Em que posso ajudar? - ele sorriu.

- Eu estou com um pouco de dificuldade na matéria e pensei que.... - falei pausadamente.

* Lorenzo riu.

- Você sempre fala assim quando está nervosa.

- Como é? - eu só conseguia pensar em como ele me conhecia tão bem em apenas poucas semanas de aula.

- Tem um Starbucks no campus, podemos ir pra lá. É melhor que seja em um lugar público, não é? - Lorenzo encostou a mão no meu ombro e sorriu.

- Claro. É melhor assim.

- Então vamos..

----------------Quebra de tempo---------

O Starbucks estava mais vazio, talvez pelo horário. Pedimos um café e começamos a debater sobre a matéria monstruosa, "Princípios de Sistemas de Informação". Conforme ele foi me explicando, eu fui entendendo melhor e já comecei a ver uma luz no fim do túnel.

- Você entendeu? Ou quer que eu te explique de outra forma? - ele me perguntou com o rosto sério.

- Sim, eu entendi. - terminei as minhas anotações e fui guardar a minha apostila na mochila.

- Não tem mais dúvida em nada?

* Nesse momento o meu caderno de desenhos caiu da minha mochila e ficou aberto no chão. Para a minha desgraça, o professor viu.

- Ah, droga!

- Deixa comigo. - o professor pegou o caderno e ficou olhando o desenho da minha principal personagem. Aquela que representava a minha mãe - Você que fez isso?

- Foi sim.. bem.. eu... - gaguejei.

- Está perfeito, do jeito que eu te ensinei.

O mundo parou por um segundo...

*******

*Flashback:

Eu estava desenhando no chão da praça. Meus lápis já estavam velhos e desgastados, fazia frio, mas eu não me importava.

- Querida, você tem que colocar mais um pouco de sombra em volta, desse jeito. - Um homem se aproximou e ficou atrás de mim. Ele pegou o lápis grafite da minha mão e começou a desenhar uma sombra no desenho - Viu, como ficou bem melhor assim?

Eu fiquei feliz por um momento e me virei para agradecer. Foi aí que eu vi a imagem dele, nítida e clara...

*******

Não tinha como negar, ele estava um pouco diferente, mas finalmente eu pude me lembrar. O professor Lorenzo era o meu pai.

- Solange? Você está me ouvindo?

- Eu... Eu preciso ir. - Peguei a minha mochila e sai correndo de lá.

- Solange?! - ele gritou, mas eu o ignorei.

Não era possível, eu não podia acreditar! Como eu pude esquecer o rosto do meu próprio pai? Como era possível ele ter saído da cadeia e consequentemente virar o meu professor? Justamente professor do curso que eu sempre sonhei em fazer, como isso era possível? Eu andei pelo caminho de volta ao campus desnorteada. Sem um pingo de atenção, eu atravessei a rua sem olhar e só me lembro de sentir um impacto forte... Eu apaguei.

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𝑹𝒊𝒄𝒂𝒓𝒅𝒐 𝑨𝒍𝒎𝒆𝒊𝒅𝒂 𝒏𝒂𝒓𝒓𝒂𝒏𝒅𝒐:

Aquela tarde foi um porre, as aulas estavam cada dia mais complicadas. Eu sei que o meu esforço ia ser compensado no final, até eu conseguir abrir a minha própria boate, não vou descansar. Mesmo que eu tenha que fazer o curso de administração vinte vezes, eu vou conseguir.
Hoje eu só queria descansar antes de ir para a academia. Amanhã era o dia de eu ir ver a minha mãe e eu precisava descarregar a minha energia lá, antes de me apresentar a velhota da minha vida.

Por algum motivo desconhecido, a imagem da Sol veio na minha cabeça. Que diabos, essa garota vive assombrando os meus pensamentos! Mesmo assim continuei andando pelos corredores, lembrando do sorriso dela, dos olhos castanhos dela e do seu beijo gostoso, aquele que me enche de desejo.

- Rick! - era o idiota do Michel, correndo em minha direção.

- Que foi? - revirei os olhos.

- Sabe aquela garota? - Michel estava ofegante.

- Já te disse que eu não quero mais saber de mulher. - virei as costas e continuei andando.

- Não, cara! É aquela peitudinha, a Solange.

- Você chamou ela de que? - parei de andar na hora e o peitei.

- Espera aí, pitbull! Escuta só, ela acabou de ser atropelada ali na entrada do campus. - ele sorriu maliciosamente.

- Ela foi o que? - sai correndo pelos corredores, até passar pela porta de saída do campus e vi que só tinha uma multidão de pessoas e um pouco de sangue no asfalto - Onde está a garota que foi atropelada? - perguntei a um estudante qualquer.

- Acabou de ser resgatada. Maluco, eu nem sei se ela vai sobreviver.

Me desesperei e na hora eu só tive cabeça para ir até o meu dormitório, largar a mochila e pegar a chave da minha moto. No meio do caminho, só o pior passava pela minha cabeça. Era horrível pensar que eu nunca mais iria ver o rosto dela de novo, eu fiquei com muita raiva, tanto que eu apertei o guidão da moto, a fazendo correr mais rápido. Eu precisava chegar naquele hospital o mais rápido possível, pois ela só tinha a mim.

Assim que cheguei, arranquei o capacete e sai correndo até a emergência do hospital. Na recepção fui barrado por uma enfermeira:

- Senhor? Posso ajudar?

- Eu preciso saber onde está uma paciente que acabou de chegar. Foi um atropelamento.

- O nome dela, por favor?

- Solange. Deve ser Campos, o sobrenome. - eu olhei de um lado para o outro e vi a maca dela ser arrastada.

Corri em direção a ela e um médico me impediu:

- Quem é você? Você não pode ficar aqui! - o mesmo segurou o meu braço.

- Me larga, ela é a minha namorada! - o empurrei com força e vi o rosto lindo da Sol, todo arranhado - Sol? Você está bem? - perguntei mas ela não me respondeu, ela estava dormindo.

- Eu entendo que você está preocupado com ela, mas temos que leva-lá para a UTI. Ela perdeu muito sangue. Afaste-se. - O médico puxou o meu braço e eu o empurrei novamente.

- Me solta, caralho! - olhei para o rosto dela, toquei nele e vi que ele estava ficando gelado. O desespero tomou conta e eu derramei uma lágrima em sua buchecha, agora branca e fria - Não me deixa, por favor.

- Seguranças! - ouvi um grito e depois dois homens partiram para cima de mim.

- Me solta! - gritei e me esperneei.

Vi o médico levá-la dali. A minha Sol, o amor da minha vida...

(Continua)

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