Interrogatório

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Já fazia duas semanas que eu estava trabalhando na editora da minha mãe. Nem as chuvas intensas desse época do ano me abalaram, pelo contrário, sozinha, trancada na minha sala e podendo fazer as minhas criações, era incrível. Eu estava fazendo o design da capa de um livro chamado, “clamor e desespero ”. Nada podia representar tanto o meu estado mental, quanto essa obra.

Nos momentos em que eu não estava trabalhando, eu estudava e confesso que a minha nova professora, que me dava aulas online, era muito mais inteligente que o Lorenzo. Eu estava me saindo bem nos trabalhos e nos estudos, pois eu não tinha muito tempo para me distrair com outras coisas. Era sexta feira, meio  da tarde, estava chovendo e fazia um pouco de frio. Na minha mesa estava uma xícara de chá verde, meu trabalho estava quase finalizado e eu já me preparava para imprimir a capa demostrativa, mas a tinta da impressora acabou.

- Merda! Uma hora dessas! - Quase chutei a impressora.

Eu tive que descer até o almoxarifado para pegar outro cartucho de tinta e isso me fez lembrar que eu tinha que descer uma escada enorme. Enquanto descia, fui pensando em que mal eu tinha feito a Deus para tantas desgraças estarem acontecendo ao mesmo tempo. A única coisa que ia bem eram os meus estudos, porque o resto, francamente, estava uma porcaria. Assim que eu cheguei, para minha surpresa, estava vazio, sem ninguém para me ajudar. Então tive que procurar sozinha, o maldito cartucho.

- Onde essa porcaria está? - Falei em voz alta - Materiais de escritório? Deve estar aqui. - Murmurei após ver uma etiqueta colada em uma caixa.

Assim que eu puxei a caixa que estava no alto de uma prateleira, ela caiu em cima da minha cabeça. Vários papéis e coisas inúteis caíram em cima de mim e se espalharam pelo chão. Nesse momento, ouvi uma voz masculina rir alto e quando me virei, vi um almofadinha rindo da minha cara:

- Está rindo do que, idiota? Não vê que eu estou precisando de ajuda? - Chutei a caixa pra longe, só de raiva.

- A filha da chefe se ferrando todinha no almoxarifado, essa vai pra geladeira do refeitório - O rapaz que tinha aproximadamente a minha idade, sacou o celular e tirou uma foto de mim.

- Pode apagar isso agora! Ei, espera ai! Como você sabe que eu sou...

- Filha da Sara? Ora, todo mundo sabe. Você pode até se esconder e se trancar dentro daquela sala, mas desde quando você chegou, não se fala em outra coisa. - O rapaz guardou o celular no bolso e se aproximou - Quer ajuda?

- Você apagou a foto? - Cruzei os braços.

- Não. - Ele sorriu, debochando de mim.

- Eu posso te processar, sabia?

- Eu duvido. - O rapaz se abaixou e começou a recolher a bagunça do chão.

- Você é almoxarife?

- Não, sou da contabilidade - Ele me olhou - Eu pareço ser tão sem graça assim?

- Contabilidade é mais chato do que ficar aqui. - Me abaixei e comecei a recolher a bagunça também.

- Poxa, eu achei que fosse sexy. - Ele debochou.

- Quem é você, afinal? - Arqueei a sobrancelha, curiosa por nunca ter o visto por ali antes.

- Me chamo Jake, mas a minha mãe me chama de docinho. Sabe como é, coisas de mãe. - Ele sorriu novamente.

- Jake? Meio incomum esse nome, pelo menos, não aqui no Brasil.

- Minha mãe é tarada por esteriótipos ingleses, obras da época e seus folclores. Aposto que ela e a rainha Elizabeth, fariam um belo par de amigas. - Jake pegou a caixa que eu tinha chutado e colocou todas as coisas que ele recolheu, dentro da mesma.

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