Longa tarde de sábado

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Por alguns segundos fiquei encarando os olhos verdes do Rick e imaginando o que ele estava fazendo ali. Rick sorri e quebra o silêncio:

- Você, aqui?

- Eu que te faço essa pergunta. Como eles permitem que bichos entrem aqui dentro? - dou um passo para trás.

- Calma ai, não estamos em zona de guerra. - ele ergue as mãos em sinal de rendição.

- Então você está jogando uma bandeira branca?

* Rick pega um guardanapo que estava sobre a mesa e sacode.

- Eu não acredito em você. - cruzo os braços.

- Eu fiz alguma gracinha? Eu estou aqui agindo como um total cavalheiro - ele debocha.

- Que se dane, eu tenho que ir. - me viro de costas e estranhamente falando, o Rick não me impediu. Então me virei novamente - Você está bem?

- Uau, pela primeira vez você me perguntou se eu estou bem. Que dia. - Rick afasta o olhar.

- Para de fazer gracinha e me responde, pô. - fico irritada.

- Eu estou bem melhor agora e você? - ele me olha novamente e sorri de canto.

- Que coisa ridícula! Não sei porque eu ainda me preocupo com você...

- Você veio pelo trabalho voluntário, não é? - Rick me interrompe.

- Sim e você?

- Eu não.

- Entendi, pelo visto você está em todos os lugares onde eu piso. Será que é algum castigo divino? - ri.

- Olha só, eu já estava aqui quando você chegou.

O clima ficou leve por um momento, mal podia acreditar que o Rick estava pela primeira vez, me tratando bem, com um pouco de sarcasmo, mas bem.

- Quem você pegou para auxiliar? - Rick me pergunta.

- Madame Anastácia.

- Boa sorte. - Rick ri.

- Você a conhece?

- Conheço todo mundo aqui, eu vivo aqui praticamente, desde que eu fui adotado.

- Adotado por quem? Até agora você não me disse. - cruzo os braços.

- Meu filho? - Anastácia aparece na porta do refeitório e a minha cabeça gira.

- Filho? Você é...

- Eu sou - Rick sorri e corre para abraçar a velhota - Como a senhora está?

Enquanto o momento mãe e filho acontece diante dos meus olhos, eu me sento na mesa e fico tentando entender como o mundo dá voltas e eu fico parada?

- Você já conheceu essa garota insolente? - Anastácia me olha com a sua cara feia de sempre.

- Sim, mãe. Ela é aquela menina, aquela que eu te falei. - Rick fala baixo, mas eu consegui ouvir.

- Eu sou o que? - me levanto.

- Oi? - Rick disfarça.

- Eu preciso me deitar um pouco. - Anastácia resmunga.

- Eu te levo, mãe.

- Não, eu faço isso! É o meu trabalho. - encaro o Rick com o olhar fuzilante.

- Parem com isso! Eu sou uma boneca por acaso? Eu hein. - a velha caminha com a sua bengala, com muita dificuldade.

* Peguei em seu braço e a ajudei a caminhar até o quarto novamente. Rick veio atrás, em silêncio.

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