A famosa anciã

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No dia seguinte recebi a ligação do lar de idosos, me designando a tarefa de servir de companhia para uma senhora chamada Anastácia. Aceitei o trabalho e no sábado de manhã, peguei um táxi e fui até o local, onde era bonito e conservado. Havia alguns idosos praticando jardinagem e outros apenas tomando sol, era um mar de cabelos grisalhos e com bastante cheiro de naftalina no ar.

Ao chegar na recepção, me apresentei e fui recebida com um belo sorriso.

- Boa tarde, eu sou a Vanessa e vou te levar até os aposentos da Madame Anastácia. - com passos rápidos a recepcionista me guia.

No caminho ela foi me explicando o que tinha por trás de cada porta, biblioteca, sala de recreação, banheiros, enfermaria e refeitório. Também me explicou sobre os horarios e que cada voluntário teria uma hora de descanso após o almoço. Depois de uma longa caminhada, chegamos a porta do dormitório da senhora Anastácia, a porta estava toda decorada com glitter e estrelas feitas com cartolina.

- Com licença, Madame. - a recepcionista abre a porta e entramos - Estou com a sua nova companheira.

- Ora! Eu já disse que não quero nenhum pirralho aqui! - resmungou a senhora, que estava muito bem vestida e penteada. Aparentava ter no mínimo 70 a 80 anos e estava muito mal humorada.

- Madame, a senhora sabe muito bem que o programa de voluntários é necessário. - a Recepcionista abre as cortinas do pequeno dormitório - Além do mais, essa jovem veio de muito longe para te fazer companhia.

*Eu forcei um sorriso para a idosa, ela me olhou e fez uma cara odiosa.

- Pode ir, mocinha. Eu não preciso de babá! - a velha senhora se sentou em uma poltrona de couro, bem cafona.

- Eu vou deixá-las sozinhas para que possam se conhecer melhor. - a recepcionista se despede.

- Ela claramente não me quer aqui. - falei baixinho.

- Querida, ela é assim mesmo. No final ela vai te aceitar. - ela sorri e sai do quarto.

Um silêncio constrangedor toma conta do ambiente e eu resolvi puxar assunto:

- Ah, oi, senhora Anastácia. Eu sou a Sol.

- Sol de que? - ela resmunga.

- Não entendi.

- Seu nome, garota! - ela resmunga mais uma vez.

- Solange Campos. - suspiro - Eu..

- Olha só garota, eu não tenho muito tempo de vida, então passei a não ter papas na língua. Por isso me escute bem.. - Anastácia olha pra mim com os seus olhos azuis intensos - Eu não gosto de paparicagem, não gosto de pessoas que falam demais, odeio ruídos que não sejam das minhas músicas e se ficar insistindo em algo que eu não quero, eu vou bater em você com a minha bengala!

- Tá, tá, tá, tudo bem. - dou um passo para trás - Eu só estou aqui para fazer o meu trabalho, eu preciso dele para o meu currículo, então se a senhora puder colaborar..

- Por tanto que você pare de falar.. - ela me interrompe com rispidez - Estou com dor de cabeça! - a velha senhora coloca uma das mãos na testa.

- Posso ajudá-la em alguma coisa?

- Preciso das minhas aspirinas.

- Onde eu posso encontrá-las?

- Peça a uma enfermeira. - ela fez beicinho.

- Como eu faço isso?

- Tenha misericórdia, Santa Rita de Cássia! - ela esbraveja - Aperta esse botão na parede, você consegue ver?

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