Conversa embaraçosa

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𝑆𝑜𝑙 𝑛𝑎𝑟𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜:

No dia seguinte, após a aula, fui direto para o jardim do campus. Me sentei na grama e comecei a desenhar, as formas e traços do personagem que eu criei estavam me lembrando alguém. "Porra, Rick! Até nos meus mangás você aparece!" Pensei.

Era um vai e vem de alunos conversando e rindo. O clima estava ensolarado e tinha uma brisa úmida no ar que refrescava o clima quente do dia. Eu tirei os olhos do meu desenho e notei que a Brenda estava vindo em minha direção, com a cabeça baixa e com os ombros retraídos.

- Oi, eu posso falar com você? - perguntou Brenda.

- Claro. - fechei o meu caderno de desenho.

- Eu não sabia a quem recorrer, então a minha única solução foi vim ver você.

- Não enrola, mulher. - revirei os olhos.

- Você sabe que eu gosto muito da Duda, não sabe? - os olhos da Brenda brilharam ao falar o nome dela.

- Dá pra ver. - sorri.

- Isso pode parecer ridículo e brega, mas eu preciso de uma opinião sua. - Brenda suspirou fundo e se sentou ao meu lado - Ela e eu queremos dar o nosso primeiro passo, se é que você me entende.

- Sei. - fiquei desconfortável com o tema, mas me mantive calma.

- Você acha que seria muito cafona se a nossa primeira vez fosse mais romântica? - Brenda olhou pra mim, esperando ansiosamente pela a minha resposta.

- Olha.. - respirei fundo - Eu sou a pessoa errada, eu não sei o que dizer.

- Qual é, Sol? Pelo menos me diz como foi a sua primeira vez.

*Comecei a tossir e fiquei nervosa após essa pergunta.

- Isso é pergunta que se faça?

- Uai, Sol. - Brenda cruzou os braços - Estamos só nos duas aqui no jardim. Isso é papo de mulher.

- Quem está na berlinda aqui é você e não eu. - retruquei.

- Pera aí, você é virgem? - Brenda arregalou os olhos.

- Cala a boca!

- Ah, meu Deus! Você é! - Brenda gargalhou - Quem diria que eu ia conhecer uma virgem intocada de dezenove anos.

*Fiquei com o rosto corado. Eu jamais imaginei que esse dia ia chegar, a revelação mais assombrosa da minha vida.

- Você está debochando de quem? É você que quer conselhos de como foder a sua namorada. - fiz beicinho.

- Eu não pedi conselhos de como fazer, se eu não sei, imagina você! - ela gargalhou mais uma vez.

- Escrota. - comecei a arrumar minhas coisas para sair dali.

- Não, não, espera. Eu estava brincando, sua louca. - Brenda segurou o meu braço - Ou a gente ri disso, ou vamos passar a vida inteira sendo amarguradas.

- Não é o tipo de tema que eu acho agradável de se ter com uma colega de classe.

- Colega de classe? Uau, muito obrigada pelo elogio. - Brenda riu - Agora falando sério, você não sabe nem o que é um orgasmo?

- Olha, francamente.. - me levantei rapidamente.

- Espera, Sol.

- Se quer a minha opinião, eu acho que você conhece melhor a sua namorada do que eu. Você sabe bem do que ela gosta, então só faça isso. - Coloquei a minha mochila nas costas e sai.

- Obrigada, Sol! - Brenda gritou enquanto eu me afastava.

Meu rosto estava totalmente vermelho de vergonha e queimava igual fogo. Esse tipo de informação sobre a minha virgindade não devia ser descoberta por ninguém. Nem eu mesma penso nisso, geralmente eu esqueço disso e só faço "justiça com as próprias mãos" quando eu estou excitada. Agora a minha colega de classe sabe disso e isso ficou me atormentando a tarde inteira. Acontece que eu nunca tive um namorado, não sou do tipo de garota que se apaixonava por garotos reais. Eu sempre fui aquela iludida que se apaixonava por personagens 2D. O único cara real que eu gostei foi o Rick e isso é muito mais ilusão da minha parte, do que gostar de um personagem inexistente.

Passei o dia todo pensando nisso e desenhando. Eu desenhava e rasgava a folha, a minha inspiração estava no zero, minha cabeça não parava de pensar nas coisas que estavam acontecendo, parecia que ela iria explodir a qualquer momento. Ja era noite quando ouvi alguém bater na porta, eu abri e era o Gabriel:

- Oi. - ele sorriu.

- Oi, Gabriel.

- Posso entrar?

- Não.

- Por que? - ele arqueou a sobrancelha.

- Porque eu não quero ter problemas com a sua namorada e é proibido homens nessa área. - tentei fechar a porta, mas ele a segurou.

- Acontece que nós não estamos nada bem. A gente brigou, sabe, ela é muito ciumenta e foda-se essas regras.

- Tchau, Gabriel. - tentei fechar a porta e ele a segurou novamente - O que você quer de mim, Gabriel?

- Quero o carinho da minha melhor amiga, pode ser?

- Gabriel, eu sinto muito por você estar tendo problemas com a Samantha, mas acontece que eu não posso me envolver nisso.

- Sol, eu não estou te pedindo nada demais. Só me deixa entrar, vamos assistir um filme e pedir uma pizza, como era antes. - os olhos dele estavam me implorando por isso.

- E a Samantha?

- Ela não está aqui agora e eu não vou contar pra ela, prometo.

- Merda! Entra vai. - antes de fechar a porta eu olhei para ver se não tinha ninguém.

- Dormitório bem arrumado, bem melhor que o meu. - ele riu.

- Hum. - me sentei na cama.

- Quer que eu peça uma pizza?

- Não, eu não estou com fome. - respondi rispidamente.

- Não me trata assim, eu continuo sendo o mesmo de sempre. - Gabriel se sentou ao meu lado e tocou na minha mão, eu a recolhi para evitar esse contato - Sol, a minha vida está uma merda.

- Não é só a sua.

- Então, vamos fingir que nada aconteceu? - Gabriel sacou o seu celular do bolso - Saiu um filme muito legal na Netflix, você vai gostar.

- Gabriel...

- Por favor, Sol.

* Acenei com a cabeça, positivamente.

- Deita no meu peito. - ele pediu.

- Não posso.

- Você fazia isso antes.

- Acontece que as circunstâncias não me permitem. - desviei o olhar, não queria que ele me visse triste. Eu queria muito ter o meu melhor amigo de volta, mas eu tinha medo dele confundir as coisas de novo.

- Você quer e eu quero. - Gabriel se deitou na cama e me puxou para ao seu peito. Eu me deitei e senti o cheiro dele, como eu sentia falta disso - Posso dar o play?

- Pode - respondi baixinho.

* Gabriel se aconchegou em mim, um braço estava em torno de mim e o outro segurava meu braço com delicadeza. Minha cabeça estava encostada no peito dele e o meu corpo ficou alguns centímetros longe dele.

Enquanto o filme rolava, o Gabriel foi fazendo carinho em meu braço. Ambos ficamos em silêncio e curtindo o filme, porém eu estava tão cansada que acabei dormindo nos braços do Gabriel. Essa não era a primeira vez que isso acontecia e mesmo sendo arriscado, eu não queria que fosse a última.

(Continua)

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