Não é hora de continuar

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Eu nunca vou esquecer desse dia, era uma terça feira de manhã. Samuel estava na sala vendo anime no tablet, meus pais e meus irmãos já tinham saído de casa para fazer suas respectivas atividades matinais, eu estava terminando de me arrumar para sair, quando recebi uma notícia pela televisão. Ela estava ligada, passava o jornal dás 10. Enquanto eu colocava o meu sapato, ouvi as palavras da apresentadora do tal noticiário:

- Notícias de hoje! O acusado de matar o universitário, Ricardo Almeida, na saída da academia, pagou a fiança de 100 mil reais e saiu da prisão após quinze dias - Meu coração parou e o Samuel olhou para a tela da tv - O resultado da balística não foi conclusivo e o mesmo conseguiu a liberdade nessa terça feira.

- Sol, por que o homem mal saiu da cadeia? Você disse que ele ia ficar lá por muito tempo. - O menino me olhou com lágrimas nos olhos.

- Eu não sei o que aconteceu, Samuel. - Desliguei a tv rapidamente - Eu vou dar um jeito nisso. Agora, pega sua bolsa, você tem aula de vôlei mais tarde.

- Você vai me levar hoje? - O menino se empolgou, parece que ele se esqueceu do que ouviu. Ele amava jogar vôlei, quem diria que o Samuel fosse gostar tanto de esportes.

- Sim, agora vá, Samuel. - Ele saiu correndo para o quarto e nesse momento a campainha tocou.

Eu corri até a porta e era ele, o investigador da polícia, Breno Azevedo.

- Você? Aqui? - Não deixei que ele entrasse, fiquei na porta de braços cruzados.

- Como vai, Sol?

- Me diz você, senhor. - O tratei com desprezo.

- Você soube das notícias, não é? - Breno também cruzou os braços.

- Sim e você não fez a gentileza de me ligar antes. Eu não acredito que isso está acontecendo. - Nesse momento o Samuel voltou e ficou olhando para o Breno por alguns segundos.

- O senhor é um policial? - Samuel perguntou.

- Você deve ser o Samuel? - Breno sorriu.

- Eu sou. Você deixou o homem mal fugir da cadeia? Por que? - Samuel chutou a canela do Breno bem forte e depois saiu correndo para dentro, com a mochila nas costas.

- Samuel! - O repreendi, mas era tarde demais - Me desculpa, é sério.

- Não, tudo bem, eu se fosse ele faria o mesmo - Breno tentou se recompor - Olha, eu queria te explicar pessoalmente o que aconteceu com esse processo, por isso não te liguei.

- Tudo bem, sou toda ouvidos. - Sai de casa e conduzi ele até o jardim, para que o Samuel não ouvisse a nossa conversa.

- Encontramos uma arma nos pertences do Lorenzo, mas a balística revelou que a bala que ficou alojada no crânio do Ricardo não é do mesmo calibre da arma. A perícia revelou que a arma utilizada pelo assassino é uma glock 45, senso assim, sem provas, não podemos mantê-lo preso - Breno explicou de maneira fria e profissional.

- Que merda... - Baixei a cabeça e coloquei a mão na boca, fiquei paralisada e sem reação.

- Nós vamos continuar investigando, o sigilo telefônico dele vai ser quebrado e pode ser uma grande pista a ser seguida.

- Acontece, Breno, que eu já estou cansada disso. Não sei por que essa justiça é tão incompetente e insensível - Suspirei fundo - Obrigada pelo seu tempo e pelo seu esforço.

- Vamos pegar esse cara, Sol.

- Eu não sou mais uma criança, Breno. - Me despedi e sai dali com a cabeça a milhão.

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QUEBRA DE TEMPO...

Um tempo que pareceu longo se passou. Era final de semana, o expediente já estava acabando, faltava apenas meia hora para a saída do trabalho, ouvi alguém bater na porta e mandei entrar, era o Jake:

- Posso entrar, chefia? - Jake sorriu.

- O que você quer? - Dei de ombros.

- Gustavo, Maria e eu, vamos beber um pouco na sacada do meu prédio. Talvez você queira ir.

- E porque você achou isso? - Cruzei os braços e o encarei.

- Caramba, você não sabe formular uma frase sem ser uma pergunta? 

- O que isso tem a ver com o resto?

- Tá bom, moça. É o seguinte, vamos estar nesse endereço, a partir das 18 horas, se quiser, venha - Jake deixou na minha mesa um pedaço de papel dobrado - Se a vida te der um limão...

- Faça uma limonada? - arqueei a sombrancelha.

- Faça uma caipirinha. - Jake piscou e saiu.

Eu confesso que sorri, peguei o papel e nele estava escrito um endereço, um número de telefone e uma cara feliz desenhada. Jake era um rapaz muito bonito e bem humorado, as vezes eu me pegava pensando nele, o que era estranho. Ele era misterioso e ao mesmo tempo um livro aberto, pronto para ser vasculhado e lido. Enquanto eu terminava o serviço, me perguntava como eu poderia ter tanto azar na vida e ao mesmo tempo, ter sempre alguém para me animar nos momentos ruins. Desde as minhas amigas, que não vejo a muito tempo, meus pais, meus irmãos e o Samuel. Jake e seus amigos,  parecem ser uma espécie de anjos que caíram do céu, num momento de dificuldade.

O horário de trabalho acabou e antes de voltar para casa, passei em uma loja para comprar um carregador novo para o meu celular. Aparentemente eu perdi ele em algum lugar e não conseguia encontrar. Ao sair da loja, fui pega de surpresa por um rosto nada agradável:

- Filha? - Era o Lorenzo.

- O que faz aqui? Você está me seguindo? - Disse em voz alta. Infelizmente não tinha muitas pessoas na rua.

- Por favor, não me interprete mal, Solange. - Ele tentou me tocar e eu bati na mão dele.

- Não me toca, seu monstro!

- Solange, eu não matei o seu namorado! Acredite em mim! - Lorenzo insistiu.

- Saia daqui, eu vou chamar a polícia! - Me afastei.

- Solange, filha! Acredite no seu velho pai.

- Você não é o meu pai! Você não é nada meu! Você só pode ser uma praga! - Lágrimas brotaram no meu rosto - Você me tirou tudo o que eu tinha de mais precioso no mundo, me fez acreditar nas mentiras que você me contou. Até essas estúpidas lembranças que eu tenho de você são mentiras, mentiras que o meu subconsciente me contou, para me proteger de você. Eu te odeio e mesmo que a polícia não prove que você é o assassino, eu sei que é você, Lorenzo!

- Não diga isso, eu jamais faria mal a você, minha filha. - Lorenzo tentou me tocar novamente e eu o empurrei forte, tanto que ele esbarrou em uma lixeira e caiu no meio do lixo.

- Você já me fez mal, tirando o Rick de mim. Fica ai, no meio do lixo que é o seu lugar. Nunca mais chegue perto de mim, se não eu mesma mato você! - Sai correndo dali e peguei o primeiro táxi que encontrei na rua.

Meu coração estava disparado, eu não conseguia parar de chorar. O taxista olhou pelo retrovisor e disse:

- Pra onde vamos, madame?

- Para esse endereço. - Entreguei o papel para ele, o papel que o Jake tinha me dado.

- Sim, senhora.

Eu só queria fugir e me afogar em um poço de lágrimas, mas achei que seria melhor passar um tempo fingindo que nada tinha acontecido, com os meus novos amigos.

(Continua)

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